Espírito Santo é o Estado brasileiro com maior número de casos de violência contra as mulheres – taxa de 11,24 mortes para cada grupo de 100 mil mulheres. Esse índice está muito acima da média nacional. Dados que precisam ser corrigidos, certamente para mais, já que se reportam a 2013, numa pesquisa feita pelo IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) “Feminicídios no Brasil”.
Uma clara amostra do machismo em nosso Estado. Isso traz a reboque os crimes de natureza homofóbica e transfobica, frutos da mesma patologia machista, mas que ainda escapam das estatísticas. Sem uma lei que defina o crime homofóbico, isso atrasa as políticas publicas, nega a visibilidade e promove impunidade. Ele continua sendo apenas mais um dado da violência que assola a sociedade capixaba. Crimes protagonizados pela intolerância e pelo desrespeito.
No caso das mulheres, só este ano, e olha que estamos em março, o mês de número três, já foram 24 mulheres assassinadas. Nesse fim de semana, assistimos a mais três homicídios. Ano passado o número foi assustador: 139 homicídios.
Os Índices são alarmantes, quase todas vitimas de (ex) namorados, (ex) maridos ciumentos, agressivos e certamente orgulhosos de sua masculinidade, do seu poder macho animal – um traço do perfil psicológico desses criminosos, que se sentem donos de suas vítimas — esse pensamento é confirmado pela análise de que o Espírito Santo é conservador, de forte cultura heteronormativa. Mesmo assim isso é apenas uma das faces do terror.
É claro que essa é questão psicológica mergulha no âmbito da educação, da formação do caráter e na construção do arquétipo masculino. E o que é pior, foi por muito tempo corroborada pela própria mulher, quando mãe, que também foi educada num sistema de submissão, do silêncio e da resignação, educando filhos “machos”.
Mesmo sem a eficácia esperada, novas propostas surgem para defender as mulheres, leis como a “Maria de Penha”, os chamados botões do pânico, as delegacias especializadas e um lento processo educativo da sociedade. Enquanto isso as mulheres continuam recebendo salários menores, sofrendo estupros, sendo molestadas em ônibus, espancadas na rotina dos “lares”.
Hoje assumem cargos executivos, políticos e empresariais, respondem por uma grande parte da economia do país e do estado, mas sofrem com o assédio masculino, que vai muito além do sexo para sua própria condição profissional. Cada vez mais núcleos familiares sobrevivem graças a elas, na estrutura financeira e afetiva. São as verdadeiras protagonistas no palco da sociedade, provedoras, elos fortes da corrente familiar.
Debates como a legalização do aborto, passam longe das problemáticas sociais e se baseiam em questões religiosas, e sem a necessária visão da saúde feminina. Mais uma vez elas são as menos ouvidas, e continuam morrendo na mão de açougueiros. Como sempre, vitimas da hipocrisia.
Meninas, mães, filhas, solteiras, casadas, lésbicas, bissexuais, travestis, transexuais, avós, e tias, vizinhas, amigas ou amantes, de todas as profissões e de todos os credos, negras, brancas ou índias, putas ou santas – não se calem ante a violência. Viva 8 de março, Dia Internacional das Mulheres.
Luiz Felipe Rocha da Palma (Phil Palma) é publicitário. Nas “horas vagas” (às quartas) comanda o programa “Praia do Phil”, pela Rádio Universitária FM, onde defende os LGBTs e denuncia a homofobia. Fale com o autor: [email protected]