Essa semana Hollywood comemora os 116 anos de nascimento de uma de suas grandes damas. Com oito Oscars e 35 indicações, é a pessoa que ganhou mais estatuetas, superando os campeões Katherine Hepburn, com quatro e Daniel Day-Lewis, com três. Falo de Edith Head, e talvez você lembre de ter visto esse nome em algum lugar, mas não sabe onde. Minha geração, no entanto, se acostumou a vê-lo nos créditos da maioria dos filmes de anteontem.
Edith comandou a moda de Hollywood, vestindo as grandes estrelas na tela e fora dela. Donde obviamente se conclui que acumulava diplomas como estilista e desenhista, talvez com passagem pelas grandes maisons de Paris, condição sine qua non para um cargo de tal importância. Mas tal como acontece com a roupa, um currículo também pode enganar muita gente. Edith dava aulas de francês e literatura – era professora. Precisando esticar o salário, passou também a dar aulas de arte.
Mas não sabia desenhar, e se matriculou em uma escola noturna para aprender o ofício. Mentindo para obter o emprego, Edith foi oportunista ou esforçada? Mesmo sem saber desenhar e sem qualquer experiência na área, foi em frente e obteve a vaga de desenhista de moda no departamento de roupas da Paramount Pictures. Mais tarde ela confessou que levou para a entrevista de emprego os desenhos de um colega de classe, sem esclarecer se os roubou ou recebeu de presente.
Criativa, abnegada ou vigarista? Na luta por um emprego, tal como na guerra, o que vale é ganhar. Ou o fim justifica os meios. Se não fosse competente não teria ficado quase 60 anos ditando a moda em Hollywood. Uma das razões de seu sucesso e longevidade na carreira é que, ao contrário dos estilistas masculinos, consultava as estrelas sobre o que elas queriam vestir. Assim, tornou-se a favorita das grandes divas da tela, que podiam exigir quem trabalharia para elas.
O primeiro filme no qual apareceu nos créditos foi “O Andarilho”, de 1925, ainda no cinema mudo, desenhando costumes, como se dizia então, para Greta Nissen, Wallace Beery e Tyrone Power. Esse Tyrone do cinema mudo não era o bonitão de “A Marca do Zorro”, “Sangue e Areia” e “Testemunha de Acusação”, mas o pai dele, que também era ator. O Zorro do Tyrone júnior foi estrondoso sucesso de bilheteira, e nas lutas de capa e espada não precisaram de dublês, pois o ator era exímio esgrimista.
Edith foi homenageada pelo Correio Americano em um selo; a banda They Might Be Giants gravou uma canção chamada “Ela pensa que é Edith Head”. No filme “Os incríveis”, da Pixar/Disney, a personagem Edna Mode, que desenha as novas roupas para a família de super-heróis, é uma caricatura do estilo e dos maneirismos de Edith. Ela disse: “Moda é uma linguagem. Alguns nascem sabendo, alguns aprendem, e muitos nunca vão aprender – é como um instinto”. Por certo, Edith nasceu sabendo.