Sexta, 26 Abril 2024

Volto em 15 minutos

 

Sabe-se que quanto mais telefones uma pessoa tem, mais difícil é falar com ela. O mesmo vale para a parafernália eletrônica – quanto mais endereços de emails, twitters, facebooks, celulares, mais difícil é acessá-la. Mas não essa pessoa que vos fala; ou escreve. Sou de fácil acesso, meus horários são bem estruturados, e se precisa me achar, basta seguir algumas poucas diretrizes e bases. 
 
 
Acordo às sete, embora às vezes às sete e meia. Às nove ou nove e meia nos fins de semana sem sol e sem alguma programação especial. Que essas, honrando o nome, ocorrem vez ou outra. Mas de segunda a sexta, certo como o dia e a noite e o próximo desastre ambiental, saio de casa às oito e meia, a defender o dólar de cada dia. Como todo mundo hoje em dia, independente da moeda em uso. 
 
Mas dias há, claro, que saio às oito e quarenta e cinco, ou cinquenta e cinco. Nos piores contratempos saio às nove, ou até nove e vinte, quando se sabe que o chefe estará ausente.  O que faço no horário de expediente também tem horários e regras fixas, ou não me pagariam para lá estar. Portanto, posso ser encontrada ou acessada por telefone eu email, na minha cadeira em frente ao meu computador, como todo mundo hoje em dia, de nove às cinco. 
 
 
Esse horário é inflexível, mas posso estar também em outras salas, que muitas formam o complexo mundo das interrelações profissionais, não importa o tipo de serviço prestado à humanidade ou ao público em geral. O horário de almoço é de doze  a uma, reza o contrato de trabalho. A não ser que almoce fora, digo, em outro departamento ou em outra dimenção. 
 
 
 
Portanto, é sempre certo me encontrarem na cafeteria, ou no restaurante, em algum outro departamento onde algum outro evento – e o cardápio - possa atrair meu interesse. Nos demais horários estou no escritório, onde a rotina me detém. Mas minha presença pode ser exigida nas outras partes do todo, que muitos são os desmembramentos das gestões modernas, não importa o o fim a que se destinem. Premida pelas exigências do ofício, posso me ausentar por quinze minutos, ou vinte, dependendo da tarefa em questão. 
 
 
Pode acontecer que esse tempo se estenda por meia hora ou até 45 minutos, não mais. Os imprevistos, porém, não respeitam cláusulas contratuais e normas trabalhistas. Posso, pois, estar ausente do meu ponto de referência por até uma hora, às vezes duas, dependendo do dia da semana ou das distâncias entre as muitas divisões do conglomerado. Às vezes duas ou três horas, o que me obriga a emendar com o horário de almoço. Ou de saída.
 
 
Mas nem tudo se perde num país sem catadores de lixo. Se eu não atender o telefone ou não responder ao email, é certo que estou ocupada, que as obrigações se impõem. Porque, certo como o sol e a lua nunca se encararem, estou no lugar de sempre, de nove às cinco, de segunda a sexta. Se não me achar, favor ler o recado na porta.

Veja mais notícias sobre Colunas.

Veja também:

 

Comentários:

Nenhum comentário feito ainda. Seja o primeiro a enviar um comentário
Visitante
Sexta, 26 Abril 2024

Ao aceitar, você acessará um serviço fornecido por terceiros externos a https://www.seculodiario.com.br/