Domingo, 28 Abril 2024

Espetáculo de dança aborda cuidados de pessoas com Alzheimer

reza_pra_mim_capa_bernardo_firme Bernardo Firme
Bernardo Firme

Quando cuidava de seu pai idoso afetado pela doença de Alzheimer, a dança e a criação foram válvulas de escape para a bailarina Deia Carpanedo, diretora da Cia Urucum. Em 2019, havia começado o processo que culminaria no espetáculo Reza Pra Mim, que estreia dia 20 de janeiro na Casa Flor, Centro de Vitória. De lá pra cá, ela viveu o processo de luta com a morte do pai e o processo da pandemia de Covid-19, que fez postergar o lançamento da obra.

No que a diretora de Reza pra mim, Marcia Gaudio, chama de laboratório cênico, as duas foram criando e somando elementos e equipe, com profissionais para coreografia, iluminação, trilha sonora original e produção. 

Deia considera que a doença de Alzheimer é difícil de lidar e os cuidadores geralmente se sentem muito sozinhos. Também observou logo que na grande maioria das vezes quem cuida do doente são mulheres, o que a trouxe de volta para um dos elementos originais da Cia Urucum, que é a pesquisa sobre a identidade do corpo feminino. Por que as mulheres que assumem essa função? O que isso implica para seus corpos? Essas são algumas das questões trazidas para o espaço cultural onde será apresentado, num formato de teatro de arena, buscando criar um clima intimista para o público.

"Eu tinha um corpo bem forte quando fui cuidar do meu pai. Nesse tempo, meu corpo foi a extensão do corpo dele", considera Deia. A partir do momento que a doença degenerativa vai avançando e o doente perdendo capacidade, o cuidador vai acumulando funções que o outro corpo já não consegue exercer. Exige tempo, esforço físico, e muitas vezes sacrificar a vida social. É daí que vem a pesquisa gestual e coreográfica da bailarina, tendo como base a liberdade da linguagem da dança contemporânea.

"Dizem que com o Alzheimer você se torna mãe de seu pai, que seu pai se torna criança. Mas não é isso. Na época eu trabalhava com crianças de até seis anos. É o contrário, a criança vai se tornando gradativamente mais independente, enquanto meu pai ia se tornando cada vez mais dependente", relata. A obra vai trazer também memórias de infância da artista, sendo que as memórias antigas, para os pacientes de Alzheimer, podem permanecer por muito tempo vivas enquanto a memória recente é perdida com rapidez.

Bernardo Firme

Marcia Gaudio, cujo pai também teve Alzheimer e faleceu na mesma época que o pai de Deia, diz que a proposta não é um espetáculo sobre dor. Além dela, boa parte da equipe tem ou teve algum parente que padeceu da doença, assim como espera-se que parte do público também, o que pode fazer aflorar questões sentimentais importantes. "A gente não quer a plateia triste. Queremos uma plateia que contemple conosco e encontremos formas de dialogar, trazer para a cena a cumplicidade, a fusão, a profusão, o deslocamento desses corpos. Um que cuida e outro que é cuidado. Um que está disposto a cuidar e outro que precisa ser cuidado", explica a diretora.

"Com movimentos sutis a viscerais em uma dança que busca representar a vida com contrapontos de vitalidade e o peso de uma doença que conversa diretamente com o tempo, esquecimentos, lembranças outrora e a perda da própria identidade e papel social", resume o texto de apresentação de Reza pra mim, que conta com apoio do Fundo Estadual de Cultura (Funcultura) e da Secretaria de Cultura do Espírito Santo (Secult).

Haverá um ensaio aberto no dia 13 de janeiro, com ingressos esgotados, assim como a estreia no dia 20. As apresentações seguem nos dias 21, 27 e 28 de janeiro e 3 e 4 de fevereiro, sempre às 20h, na Casa Flor, que fica na Rua Gama Rosa, número 231, no Centro Histórico da capital capixaba. A reserva de ingressos pode ser feita aqui enquanto houver disponibilidade. O público é limitado a 25 pessoas a cada apresentação.

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