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Mestres rearticulam Federação de Bandas de Congo do Espírito Santo

Após paralisações por conta da pandemia, que vitimou importantes figuras, grupo exige políticas públicas estaduais

A pandemia de Covid-19 provocou grande impacto para os grupos de cultura popular, devido à paralisação das atividades presenciais, que foram suspensas por dois ciclos anuais dos festejos, como é o caso do congo, um dos mais importantes patrimônios imateriais do Espírito Santo. Justamente no momento em que a situação sanitária começa a melhorar, mestres dos diversos grupos se articulam para retomar a Federação de Bandas de Congo do Espírito Santo, buscando entre outras questões, a construção de políticas permanentes de apoio e salvaguarda a nível estadual.

A última reunião, para construção de uma nova diretoria para a entidade, que deve contemplar mestres e lideranças de bandas de municípios como Vitória, Vila Velha, Serra, Cariacica, Fundão, Aracruz e Linhares, ocorreu em Goiabeiras, um dos berços do congo na capital capixaba.

Fundada em 2003, com atuação mais forte até 2009, a entidade teve poucas atividades nos últimos anos, quando começaram políticas de fomento por meio de editais estaduais. Agora, a federação busca enfim se consolidar política e juridicamente, para, entre outras coisas, defender os direitos autorais das comunidades tradicionais sobre suas obras e construir leis e políticas mais amplas a nível estadual, a exemplo do que já foi feito em municípios como Serra e Vila Velha . O próximo passo é a realização de uma assembleia geral para a eleição da diretoria.

Parte da nova diretoria que deve comandar a Federação. Foto: Vitor Taveira

Nos últimos meses, foram realizados vários encontros, atendendo ao pedido de Capitão Antônio, da banda de congo de Vila do Riacho, em Aracruz, norte do Estado, primeiro presidente da Federação. Num encontro das bandas em homenagem a sua mãe, Dona Astrogilda, a Rainha do Congo, falecida em julho de 2021 aos 87 anos, Antônio, que enfrenta problemas de saúde, conclamou à renovação e rearticulação da entidade, que contou com grande apoio de Astrogilda e também do mestre Reginaldo Sales, já falecido, da Banda de Congo Amores da Lua, de Santa Martha, Vitória. Posteriormente, outros encontros foram realizados em Taquaruçu, zona rural de Cariacica, e em Serra Sede, até a reunião de Goiabeiras.

“Queremos mais apoio. Depois do registro, vamos ver o caminho para chegar ao poder público, para ajudar a fortalecer as bandas de congo de todo Estado”, avalia Valdecir Ferreira Vieira, mestre da Banda de Congo São Sebastião de Taquaruçu, de Cariacica. 

“Eu acho que o desafio dessa federação é manter e preservar nossa tradição. Ter a federação é importante para o reconhecimento e respeito pela nossa cultura, com todos mestres juntos pedindo apoio, pois a necessidade de um, é a necessidade de todos”, diz Ricardo Sales, de 35 anos, mestre mais jovem do Espírito Santo, que desde os 5 convive com o congo, sendo neto e sucessor de Reginaldo Sales no comando do Amores da Lua “Não temos apoio para fazer nossos festejos, para nossas indumentárias. Quem está no poder não olha pelas nossas manifestações”, critica.

Anfitrião da última reunião, Mestre Valdemiro Sales, da Banda de Congo Panela de Barro, de Goiabeiras, chama atenção para as necessidades especialmente das bandas do interior do Estado. “Eu brigo muito pelo interior, lá tem mais dificuldades. Tem lugares onde a banda não se pode vestir muito bem, calçar muito bem. Sou de banda de congo de Vitória, bem ou mal a gente faz as festas, encontra dificuldades também. Mas minha vontade é que todas bandas fossem iguais, tivessem recursos para se manter e o Estado reconhecesse que nós somos realmente uma cultura”, considera o mestre, que estima a existência de cerca de 70 bandas do tipo no Espírito Santo, considerando apenas as bandas de congo “raiz”, sendo que o número aumenta se incluir agrupações mais novas.

Carnaval de Congo de Roda D’Água (Cariacica), no próximo dia 25, marca retomada das festividades desde paralisação com início pandemia. Foto: PMC

A criação da federação vem contando também com o apoio da Comissão Espírito-Santense de Folclore. “A federação dá seguimento a uma política de trazer o Estado a assumir responsabilidade pelo patrimônio imaterial do Espírito Santo, que é a tradição do congo, com a organização das bandas, o culto das festas, a formação de mestres, princesas e rainhas, a técnica artesanal de produzir os instrumentos”, relata o professor de História da Universidade Federal do Estado (Ufes) Luiz Claudio Ribeiro, membro da Comissão Espírito-Santense de Folclore. Ele lembra também que o congo perpassa regiões e etnias do Espírito Santo, sendo encontrado em diversas localidades pelo território capixaba.

Enquanto seguem as articulações, o Estado se prepara para a volta de um dos mais importantes festejos do congo após dois anos de paralisação. Em 25 de abril acontece o Carnaval de Congo de Máscaras em Roda D’Água, Cariacica, e o cortejo de subida do Convento da Penha, em Vila Velha, em dois eventos que reúnem varias bandas em homenagem ao dia de Nossa Senhora da Penha, padroeira do Espírito Santo.

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