Segunda, 29 Abril 2024

Um ícone da era de papel sobrevive

Um ícone da era de papel sobrevive
Quem assiste a cidade enquanto caminha, pode perceber pequenas estruturas espalhadas nos centros urbanos: as bancas de jornal e revistas. Elas são afetadas, cada vez mais, por novos pontos de venda, legislação ultrapassada e pelas mudanças tecnológicas - fatores que proporcionam a perda de espaços a cada ano.
 
Quem passa na esquina das ruas Joaquim Lyrio com a Chapot Presvot, na Praia do Canto, em Vitória, pode encontrar Fabrizo Cancellieri Sathler, um dos sócios da Banca Sathler – que hoje é mais conhecida como “Banca do Rock”. O autônomo entrou no ramo por causa de seu pai, Seu Orlando, que faleceu em 2008.
 

 
De conversa fácil, Fabrizo conta que seu pai adquiriu o estabelecimento após pegar o fundo de garantia - por 27 anos de serviços prestados ao banco em que trabalhava - e investir no negócio. O ano era 1985, e Seu Orlando havia comprado essa banca e uma outra que ficava em frente ao Glória, no Centro.
 
Ele ainda rememora que o pai chegou a ter dez bancas espalhadas pela cidade, mas o custo com funcionários e o controle ineficaz dos estabelecimentos, já que eram muitos, passou a se tornar um problema.
 
Em 2002, o filho foi convidado por Seu Orlando para ajudá-lo a tocar o negócio. Quando faleceu, Fabrizo assumiu de vez a banca – mas antes disso, teve que lutar contra a legislação.
 
Por lei, naquele período, com o falecimento do dono da banca, o espaço deveria retornar ao poder público – pois é uma concessão. Insatisfeito, Fabrizo compilou leis de outros Estados da Federação para reivindicar alterações na lei vigente na cidade, e só assim conseguiu a garantia de não perder o comércio.
 
Assegurado de que daria sequência ao trabalho, o outro percalço foi saldar as dívidas que herdou da atividade comercial de seu pai. Contas sanadas, foi o momento de pensar em se reinventar para manter viva a fonte de renda.
 
O advento da internet foi prejudicial para esse tipo de comércio. Jornais e revistas sempre foram uma bela fonte de renda para as bancas. E se aliar aos avanços tecnológicos foi crucial para Fabrizo.
 
O espaço, apesar de pequeno, conta com o serviço de escaneamento, fotocópia e até de café expresso - todos investimentos para diversificar as fontes de renda da banca, antes concentrada nos meios impressos.
 
A conversa sempre é interrompida por um cliente. Duas senhoras param para comprar jornal e um trabalhador compra um cigarro a varejo. Tem gente que para e compra um picolé, para se refrescar no dia de sol, ou então, um suco enlatado de manga. As moedinhas da menina são para as balas. A diversidade de produtos é grande.
 
Fabrizo reclama da cidade feita para carros, diz que se não há estacionamento a pessoa não para - mesmo sendo um cliente assíduo. E a consequência do excesso de automóveis pelas ruas, é a falta do trânsito a pé, tão importante para um comércio como uma banca.
 
Mesmo assim, ele se utiliza de uma chamariz: o monitor de uso de trabalho se torna entretenimento para os transeuntes. Ele vira uma televisão, em que o comerciante disponibiliza shows que baixa da internet. Assim consegue a atenção de firmes clientes ou de possíveis compradores.
 
Além da reinvenção em seu estabelecimento – que ainda tem a venda de camisetas – Fabrizo conta que as gerações vão mudando. “O menino que vinha com o pai, cresceu e, às vezes, já tem até filho”, afirma.
 
Isso é um importante aspecto para compreender o motivo de antigas bancas sobreviverem ao caos dos centros urbanos. Um ambiente propício às conversas diárias, aos conteúdos impressos e, por que não?, ao bom convívio com quem, aparentemente, é algoz: a internet.

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