Quarta, 08 Mai 2024

Mapa da Violência aponta seletividade na morte de jovens negros no Estado

O Mapa da Violência 2014 – os Jovens do Brasil, do sociólogo Julio Jacobo Waiselfiz, lançado pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso) nesta quarta-feira (2) faz, pelo segundo ano consecutivo, o recorte e a análise de homicídios de jovens brancos em comparação aos negros no País. 
 
O estudo mostra, mais uma vez, coloca o Estado em segundo no ranking dos mais violentos do País para a população negra e, em especial para a juventude negra. O estudo considera jovens aqueles com idades entre 15 e 29 anos e negros o somatório das categorias preto e pardo, utilizadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 
 
O Mapa aponta que, em uma década (entre 2002 e 2012), no País tanto o número quanto a taxa de homicídios de brancos caiu significativamente e os mesmos índices entre os negros aumentaram. 
 
Entre jovens, que o levantamento apontou haver pandemia nos assassinatos, a situação é ainda mais preocupante. As taxas apresentadas no estudo mostram que a ausência de políticas públicas de reflete na alta taxa de letalidade da juventude, principalmente da juventude negra. É nesta faixa etária que a falta de resultados gerada pelo abandono nos diversos setores de vida (saúde, educação, trabalho, esporte e lazer, por exemplo), fica evidente. 
 
As altas taxas de mortes entre a juventude negra e a criminalização desta parcela da população é o termômetro que mede a falta de efetividade das políticas públicas voltadas para a juventude. 
 
O Mapa da Violência mostra que, em 2012, enquanto a taxa de homicídios de brancos foi de 13,9 mortes por grupo de 100 mil brancos, com variação negativa de 51,4% em uma década, a taxa de homicídios de negros ficou em 72,6 por 100 mil, sem variação na década. 



Enquanto o Estado ocupa a 14ª posição no ranking da taxa de mortes de brancos; na morte de negros ocupa a segunda posição nacional. 



  
 
Entre os jovens as taxas são ainda mais díspares. A taxa de homicídios de jovens brancos no Estado, em 2012 foi de 23,6 por 100 mil – com variação negativa de 47,9% em uma década e negativa de 32% entre 2011 e 2012. Já a taxa de mortes violentas de jovens negros ficou em 155 por 100 mil, com variação positiva de 1,2% em uma década e positiva de 0,2% entre 2011 e 2012. 
 
O Mapa da Violência conclui que três fatores podem ser mencionados para compreender as altas taxas de homicídios no País. “Em primeiro lugar: a crescente privatização do aparelho de segurança. Como já ocorrido com outros serviços básicos, como a saúde, a educação e, mais recentemente, a previdência social, o Estado vai progressivamente se limitar a oferecer, para o conjunto da população, um mínimo – e muitas vezes nem isso – de acesso aos serviços e benefícios sociais considerados básicos. Para os setores com melhor condição financeira, emergem serviços privados de melhor qualidade (escolas, planos de saúde, planos previdenciários etc.). Com a segurança vem ocorrendo esse processo de forma acelerada nos últimos anos”. 
 
O segundo fator apontado pelo Mapa é um complemento do primeiro. “A segurança, a saúde, a educação, etc. são áreas que formam parte do jogo político-eleitoral e da disputa partidária. As ações e a cobertura da segurança pública distribuem- se de forma extremamente desigual nas diversas áreas geográficas, priorizando espaços segundo sua visibilidade política, seu impacto na opinião pública e, principalmente, na mídia, que reage de forma bem diferenciada de acordo com o status social das vítimas. Como resultado, as áreas mais abastadas, de população predominantemente branca, ostentam os benefícios de uma dupla segurança, a pública e a privada, enquanto as áreas periféricas, de composição majoritariamente negra, nenhuma das duas”.
 
Por fim, o terceiro fator agrava todo o problema. Um forte esquema de “naturalização” e aceitação social da violência que ocorre em vários níveis e por diversos mecanismos. A vis]ao de que uma determinada dose de violência é aceita e até mesmo encorajada acaba por agravar o quadro, principalmente quando ocorre entre  pessoas e instituições que teriam a obrigação e responsabilidade de proteger a sociedade da violência.
 
“Num primeiro nível, esse esquema opera pela culpabilização da vítima, justificando a violência dirigida, principalmente, a setores subalternos ou particularmente vulneráveis que demandam proteção específica, como mulheres, crianças e adolescentes, idosos, negros etc. Os mecanismos dessa culpabilização são variados: a estuprada foi quem provocou ou ela se vestia como uma “vadia”; o adolescente vira marginal, delinquente, drogado, traficante; aceitabilidade de castigos físicos ou punições morais com função “disciplinadora” por parte das famílias ou instituições, moreno de boné e bermudão é automaticamente suspeito etc. A própria existência de leis ou mecanismos específicos de proteção: estatutos da criança, do adolescente, do idoso; Lei Maria da Penha, ações afirmativas etc. indicam claramente as desigualdades e as vulnerabilidades existentes”, conclui o estudo.

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