Sexta, 26 Abril 2024

'Se um estudante com deficiência ficar de fora, a Ufes não cumpre sua missão'

leitura_braile_tomaz_silva_agencia_brasil Tomaz Silva/Agência Brasil
Tomaz Silva/Agência Brasil

"Se um deles [estudantes com deficiência] ficar de fora não pode se dizer que a universidade cumpre sua missão". A afirmação é do Coletivo Mães Eficiente Somos Nós (MESN), que realiza, na próxima quinta-feira (6) um Ato em frente à Reitoria da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) em repúdio ao programa de Ensino-Aprendizagem Remoto Temporário e Emergencial (Earte), em implementação.

O objetivo, enfatizam as mães, é a "defesa da permanência dos estudantes com deficiência na Universidade Federal do Espírito Santo". "Que nenhum dos nossos sejam deixados para trás!", conclamam. 

"Muitos desses estudantes sequer têm apoio e recursos tecnológicos acessíveis em casa para acessar às aulas virtuais e, mesmo com recursos tecnológicos, muitos não conseguirão acessar as aulas, devido às várias dificuldades enfrentadas neste período de pandemia, já pré-existentes, porém acirradas e potencializadas na crise imposta pela Covid-19", argumentam.

O Earte, afirmam, tem tramitado dentro da Universidade "sem diálogo com os estudantes com deficiência e também com este coletivo". A proposta das organizadoras é que o Ensino-Aprendizagem Remoto seja cancelado e que "o semestre letivo seja retomado apenas quando a crise pandêmica passar".

A inclusão dos estudantes com deficiência é citada em um formulário online e em ofício enviado a partir do gabinete da Reitoria para "a comunidade universitária da Ufes", na última quarta-feira (29).

No formulário, intitulado "Princípios defendidos por docentes da Universidade Federal do Espírito Santo com relação ao período letivo emergencial, relacionado à pandemia de Covid-19", é informado que o Earte consta no Plano de Contingência elaborado sob orientação do Comitê Operativo de Emergência da Ufes (COE).

Os dois primeiros eixos temáticos da carta de princípios, que orienta a implementação do Earte, tratam da "inclusividade de discentes" e de "questões éticas com relação à comunidade externa para obtenção de equipamentos e materiais tecnológicos".

No tocante à inclusividade, a Carta estabelece que "a Ufes deve se responsabilizar pela criação de condições de ensino-aprendizagem para estudantes com deficiência, sem que essa responsabilidade se restrinja aos/às docentes" e que "depois de todas as condições de ensino-aprendizagem viabilizadas a todos/as estudantes, é preciso que qualquer estudante que não queira ter a sua formação via ensino remoto possa cancelar disciplinas e/ou trancar o curso sem prejuízo de jubilamento no futuro".

Já em seu ofício, a Reitoria informa a Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis e Cidadania (Proaeci) "tem se dedicado a pensar diretrizes que atendam a preocupação primordial defendida pela comunidade da Ufes, qual seja, a de garantir inclusão digital aos estudantes, prioritariamente aos assistidos e com deficiência" e que foram elaboradas "normativas e Editais que visam identificar as demandas relacionadas com a necessidade de acesso à banda de dados (internet) e equipamentos de informática de uso pessoal que possam permitir também a esses estudantes a realização das disciplinas por meio do Earte na graduação e na pós-graduação".

Seminário

A Ufes é ainda uma das instituições capixabas signatárias do Fórum Permanente de Educação Inclusiva, que realiza, de 26 a 30 de outubro, o VI Seminário Nacional de Educação Especial e XVII Seminário Capixaba de Educação Inclusiva, cujo tema é: Educação Especial como direito: pública, gratuita, laica, de gestão democrática e de qualidade socialmente referenciada.

Estudantes sem deficiência também desaprovam

No final de maio, uma pesquisa realizada pela própria Universidade mostrou que a maioria dos estudantes que responderam ao questionário é contrária à retomada do calendário com utilização de atividades não presenciais durante a pandemia do coronavírus.

Na ocasião, a Associação dos Docentes da Universidade Federal do Espírito Santo (Adufes) reafirmou sua posição, de suspensão do calendário acadêmico, a exemplo do que foi decidido por 70% das universidades brasileiras.

Mediação do professor

O professor do Centro de Educação da Ufes e especialista em Educação Especial, Douglas Ferrari, apoia a mobilização feita pelo Coletivo Mães Eficientes Somos Nós, por não concordar com as aulas remotas, seja na educação básica ou superior.

Para o acadêmico, que também tem deficiência – baixa visão – mesmo que as promessas de recursos que garantam a acessibilidade dos estudantes com deficiência sejam efetivadas, as aulas remotas ainda assim não são a solução, principalmente devido à redução drástica da mediação do professor.

Em entrevista a Século Diário sobre as aulas remotas na educação básica capixaba, ele já havia defendido esse ponto de vista, afirmando que "não existe escola sem mediação do professor e não existe educação que não seja coletiva. Não dá para desconsiderar a acessibilidade e o recurso tecnológico como problemas também, mas a mediação do professor compõe o fundamento da escola, da educação", enfatizou.

Douglas também defende que o momento atual deve ser dedicado a " planejar o retorno", tendo julho de 2021 como horizonte razoável de retomada das aulas letivas, data em que se estima haver a popularização da vacina.

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