Domingo, 05 Mai 2024

Relatório da CPI do Cachoeira pode avançar sobre laranjas da Delta no Espírito Santo

Relatório da CPI do Cachoeira pode avançar sobre laranjas da Delta no Espírito Santo

O relatório final da CPI do Cachoeira pode avançar sobre as relações das empresas fantasmas utilizadas para lavagem de dinheiro da Delta Construções. A medida seria a última tentativa do relator dos trabalhos, deputados Odair Cunha (PT-MG), para salvar o texto – alvo de críticas pelo indiciamento de jornalistas e a suspeição lançada sobre o procurador-geral da República, Roberto Gurgel. As informações são do jornal Estado de Minas, que aborda as negociações do relator com o grupo considerado independente da CPI. 



De acordo com a publicação, o deputado poderá incluir o texto completo sobre as 21 empresas que receberam dinheiro da empreiteira carioca Delta, entre elas, a Garra Transportadora – empresa de fachada registrada em nomes de laranjas, com suposta sede no município de Viana (região Metropolitana da Grande Vitória). O documento oficial, lido na última quarta-feira (28), pede apenas que o Ministério Público Federal (MPF) investigue as empresas, mas não faz nenhum tipo de detalhamento. 



Caso o relator faça a inclusão das novas informações, o relatório final das investigações deve explicitar as relações da empreiteira no Espírito Santo, uma vez que os repasses abasteceriam um esquema de propina a agentes políticos, financiamento de campanhas e desvio de dinheiro para a organização criminosa chefiada pelo contraventor Carlinhos Cachoeira. 



Segundo as informações divulgadas no relatório inicial, a Garra Transportadora seria a terceira empresa que mais recebeu dinheiro oriundo da Delta. Apenas nos anos de 2011 e 2012, a empresa registrada no dia 25 de outubro de 2010 teria ficado com 25% dos repasses da empreiteira carioca, somando R$ 23,507 milhões no período. 



A inclusão das empresas que formariam o esquema de lavagem de dinheiro da Delta Nacional é uma das demandas do grupo independente, que chegou a se movimentar para apresentar um relatório paralelo ao MPF. Nos bastidores, não há definição sobre a votação do texto. A leitura do texto foi adiada pela terceira vez no final da noite dessa terça-feira (4). A sessão da CPI estava marcada para esta esta quarta-feira (5), mas foi adiada para o próximo dia 11.



A reportagem cita a costura de um acordo entre parlamentares da CPI para derrubarem o relatório de Cunha com o objetivo de evitar o indiciamento do dono da Delta, Fernando Cavendish e promover a blindagem do governador do estado do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB). O encerramento dos trabalhos da comissão está marcado para o próximo dia 22.



Empresa de fachada 



Mesmo sem o detalhamento das operações, a primeira versão do relatório final da CPI aponta que a Garra Transportadora foi uma das principais companhias que receberam dinheiro vindo das contas da Delta. A movimentação demais de  R$ 23 milhões parece não ter chamado atenção dos vizinhos do local onde está registrada a suposta empresa, na rua Coronel Laurentino Pimentel, número 170, no Centro de Viana. 



Nos últimos meses, a reportagem de Século Diário visitou o local apontado como a sede da empresa que recebeu o dinheiro da Delta. No endereço, ao em vez  de um prédio comercial ou galpão de uma transportadora, a suposta sede da Garra se resume a uma residência com dois pavimentos, espaçosa garagem no térreo, em uma rua pouco movimentada, com calçamento de paralelepípedos – ao lado da rua que dá acesso à Igreja Matriz do município. 



De acordo com o relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) – órgão ligado ao Ministério da Fazenda –, publicado pelo jornal Folha de S. Paulo, a empresa enviou R$ 7,27 milhões, no período de 01/02 a 30/04/2012, para a Conta Corrente nº 176905, na agência 525 do banco HSBC, na cidade do Rio de Janeiro, titulada pela empresa Garra Transp. e Loc. Logística de Veículos.  



Segundo o registro na Junta Comercial do Espírito Santo (Jucees), a Garra iniciou suas atividades no dia 25 de outubro de 2010, com um capital social de apenas R$ 10 mil. Na divisão das cotas, os laranjas Eliandro Paula da Conceição aparece com R$ 9,9 mil do capital, enquanto Gláucio Barcelos fica com R$ 100 para compor o restante da "sociedade". 



O objetivo social lista como atividades: transporte rodoviário de carga, exceto produtos perigosos e mudanças; intermunicipal, interestadual e internacional; locação de automóveis sem condutor, e locação de veículos com equipamentos de movimentação de carga com operador. Mas os vizinhos do local desconhecem a existência de qualquer empresa, assim como não conhecem os supostos sócios da empresas – localizados pela Folha no subúrbio do Rio de Janeiro.

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Segunda, 06 Mai 2024

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