Atropelamento de morcegos na BR que corta reserva é o maior do mundo
O trecho de 25 km da BR-101 que corta ilegalmente a Reserva Biológica de Sooretama, no norte do Espírito Santo, concentra a maior diversidade mundial de morcegos atropelados. A conclusão é de um estudo realizado por pesquisadores brasileiros e publicado na última quarta-feira (21) em uma edição especial da revista científica Diversity, dedicada aos Impactos da Infraestrutura de Transporte na Biodiversidade em Economias Emergentes.
Há ainda o "aumento da área de borda, facilitando entrada de caçadores", ou seja: a estrada cria um longo perímetro de fronteira com área de uso humano intenso, dificultando o controle a fiscalização.
Helena salienta que a Rebio Sooretama, administrada pelo governo federal, por meio do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), compõe o maior remanescente de Mata Atlântica de Tabuleiro de todo o país, e uma das áreas mais ricas em biodiversidade do bioma, um patrimônio natural de relevância mundial.
"É uma das maiores riquezas de espécies da flora por hectare, uma riqueza de espécies de mamíferos que não existem em outros pontos da Mata Atlântica", salienta, citando a presença da onça-pintada, de duas espécies de porcos selvagens e duas de veado. "São espécies que não se encontra mais em muitos lugares. O Rio de janeiro, por exemplo, tem uma cobertura florestal maior que o Espírito Santo, mas não tem mais onça-pintada, nem anta. São animais que estão sendo reintroduzidas no Rio de Janeiro", relata, destacando ainda a harpia, ave "praticamente extinta na Mata Atlântica" e que tem Sooretama um dos seus últimos refúgios no país.
Esses e outros elementos da fauna "são ícones de conservação que mostram a importância dessa área para a conservação". Por isso, proteger a Rebio Sooretama e as demais áreas protegidas contíguas a ela, afirma, "é 'sine qua non' para humanidade, para o futuro". A BR-101, recorda, "foi criada depois da Reserva Biológica – foi um equívoco, pois pela legislação da época, não poderia. E agora, duplicar a estrada é duplicar, quadriplicar o equívoco, ainda mais quando se tem uma solução, que é o desvio a oeste", argumenta.Experiente pesquisador da biodiversidade da região e outro autor do artigo, o professor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) Áureo Banhos ressalta que os morcegos insetívoros fazem um importante controle de pragas da agricultura. Já os nectarívoros realizam a polinização das lavouras e os frugívoros dispersam sementes. Todos eles desempenham um papel ecológico de grande relevância, colaborando especialmente com a manutenção da biodiversidade e com uma maior produtividade agrícola.
"A alta mortalidade de morcegos insetívoros é preocupante, porque esses animais são importantes predadores e controladores de populações de pragas agrícolas. Os arredores de Sooretama, por exemplo, são formados por uma matriz agrícola composta por cacau, café, mamão, maracujá, pimenta, eucalipto e outras culturas. Os serviços ecossistêmicos prestados por morcegos na região podem ser afetados devido às altas taxas de atropelamentos observadas", destaca o professor. Em áreas agrícolas nos Estados Unidos, acrescenta, esses serviços prestados a partir da predação de pragas por morcegos podem atingir um valor aproximado de US$ 23 bilhões anuais.No artigo, os pesquisadores relatam que os radares com limite de velocidade abaixo de 60 km/h reduziram as taxas de atropelamentos. "Eles são atropelados em voo quando se deslocam de um fragmento para outro. São pequenos, os carros em alta velocidade nem se abalam. Os insetívoros, especialmente, voam atrás de invertebrados que são atraídos para a estrada pela luz dos faróis", explica Aureo Banhos.
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