Quinta, 02 Mai 2024

Campanha Justiça nos Trilhos alerta para riscos da liberação de eucalipto transgênico

Campanha Justiça nos Trilhos alerta para riscos da liberação de eucalipto transgênico
A FuturaGene, empresa de biotecnologia de propriedade exclusiva da Suzano, apresentou à Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) uma solicitação para o plantio comercial de eucalipto geneticamente modificado (GM) ou transgênico. Considerando seus impactos ambientais, entidades da campanha Justiça nos Trilhos preparou uma carta aberta que será enviada à CTNBio, exigindo que não seja autorizada a liberação comercial desse tipo de eucalipto.
 
A carta reitera que os impactos sociais e ambientais negativos dos eucaliptais serão ainda maiores e, ainda, surgirão novos problemas com os riscos adicionais inerentes à engenharia genética. De acordo com o texto, os organismos GM são experimentados em campo há anos pela Suzano e outras empresas como a Aracruz Celulose (Fibria)) e ArboGen. A FuturaGene informou que as novas árvores aumentarão em 20% a produtividade, usando menos extensão de terras no plantio.
 
Em 2006, o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) alertou que a Aracruz Celulose já começava a plantar eucalipto transgênico no Espírito Santo. Essa variedade geneticamente modificada aumenta os danos ambientais, intensificando a secura e a exaustão do solo, uma vez que a colheita da planta acontece a cada cinco anos, dois a menos do que as plantas produzidas com superclonato.
 
Apesar de as empresas apresentarem o fato de que a área cultivada diminuiria com o aumento na produção, a carta expõe a contradição do aumento na área de monocultura de árvores, que era de 27 metros cúbicos de hectares ao ano em 1980 e, na atualidade, chega a 44 metros cúbicos de hectares ao ano. Além disso, no mesmo período, a área coberta por essas plantações passou de 4 milhões de hectares para mais de 7,2 milhões de hectares. "Historicamente, portanto, não há evidências de que o aumento da produtividade tenha levado à ocupação de menos terra por plantações industriais de árvores no Brasil", consideram.
 
"Modificar geneticamente as árvores para fazê-las crescer mais rápido, enquanto se planta em uma porção de terra em contínua expansão em plantações industriais de árvores cada vez maiores, só vai levar a um maior esgotamento dos nutrientes do solo e da água doce", dizem as entidades, o que se aplica especificamente ao eucalipto, que já é responsável pela secagem total de solos, nascentes e cursos d’água ao redor das plantações.
 
A carta também retrata que a Suzano abriu uma nova fábrica de celulose no Maranhão, com capacidade para 1,5 milhão de toneladas/ano, e pretensões de expandir ainda mais os plantios de monocultura naquele estado, onde a empresa de papel e celulose também deve explorar novos usos da madeira, como a produção e exportação de pellets (tipo de combustível granulado de biomassa). Essa produção tem foco na expansão das oportunidades de mercado da empresa, que revertem lucros aos acionistas da Suzano e deixam os custos sociais, ecológicos e econômicos à população local, além de provocar riscos à soberania alimentar e à saúde das comunidades cercadas pelos eucaliptais.
 
A redução da água e dos nutrientes do solo, além dos danos à fauna e à flora causados pelo uso excessivo de agrotóxicos, são características dos cultivos de eucalipto em todo o mundo. O uso excessivo de agrotóxicos também afeta a saúde das populações quilombolas, indígenas e de pequenos agricultores no Estado, que também convivem com a usurpação de terras. O eucalipto, por si só, produz uma toxina que impede o desenvolvimento de outras espécies vegetais em suas proximidades e suas folhas só são consumidas por algumas pragas, como as formigas, e por espécies do seu ambiente de origem, a Austrália.
 
As entidades reafirmam que também não há garantia de que as plantações transgênicas reduzam o consumo de “insumos químicos”, incluindo agrotóxicos, mas que estas provocarão, sim, o esgotamento da terra e dos nutrientes. O documento afirma ainda que as monoculturas industriais de árvores vão aumentar em muito a aplicação de agrotóxicos, complementando a informação de que o Brasil, como principal consumidor mundial de agrotóxicos, acomete milhares de vítimas desse uso desenfreado por ano, aumentando a pressão sobre os já insuficientes serviços de saúde pública. Ainda denunciam que já é comprovado, em países como o próprio Brasil, Argentina e Estados Unidos, que não há diminuição, mas sim um aumento alarmante no uso de agrotóxicos nas lavouras de eucalipto geneticamente modificados.
 
A carta retrata, ainda, que a FuturaGene aponta a contaminação de eucaliptos não transgênicos pelo eucalipto GM como algo positivo. Uma nova contradição, já que não há respostas positivas sobre se o eucalipto transgênico alterará o caráter invasivo e se trará ou não novas pestes ou predadores. Impactos inesperados nas culturas transgênicas, como a proliferação de ervas daninhas resistentes a herbicidas, o surgimento de pestes secundárias que dizimam os cultivos, mudanças na fertilidade, com taxas mais elevadas de cruzamento, e maior potencial alérgico já foram observados. A carta também lembra que, considerando o longo ciclo de vida e a interação das plantas com a biodiversidade, os impactos dos organismos GM na natureza são praticamente impossíveis de serem previstos.
 
No Espírito Santo, a Suzano requereu, recentemente, ao Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal (Idaf), as licenças prévia (LP) e de operação (LO) para o plantio de eucalipto nas fazendas dos blocos II, III e IV, localizadas em Montanha (extremo norte capixaba). Os mesmos documentos foram requeridos pela  Aracruz Celulose em agosto do ano passado para expandir seus plantios de eucalipto em outras fazendas arrendadas do Grupo Simão, compreendidas pela Bacia Hidrográfica do Rio Itaúnas, nos municípios de Montanha e Pinheiros, na mesma região. 
 
Suzano e Aracruz Celulose respondem, juntas, pelo modelo de desenvolvimento representado pelas monoculturas de eucalipto no Estado. Nos municípios do extremo norte do Estado, serão repetidos os impactos sociais e ambientais já conhecidos das comunidades tradicionais da região, principalmente quilombolas do antigo território do Sapê do Norte, formado pelos municípios de São Mateus e Conceição da Barra.
 
A campanha Justiça nos Trilhos é composta por organizações como o Fórum Carajás, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e a Rede Brasileira de Justiça Ambiental.

Veja mais notícias sobre Meio Ambiente.

Veja também:

 

Comentários:

Nenhum comentário feito ainda. Seja o primeiro a enviar um comentário
Visitante
Quinta, 02 Mai 2024

Ao aceitar, você acessará um serviço fornecido por terceiros externos a https://www.seculodiario.com.br/