Vinte e dois dos 50 princípios ativos mais usados em agrotóxicos no Brasil estão banidos em outros países. A denúncia é da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), em dossiê. A organização atualizou estudo que recebeu o título “Um alerta sobre os impactos dos agrotóxicos na saúde”, versão lançada esta semana.
Os especialistas destacam ainda haver uso além da necessidade técnica, e que existem métodos menos tóxicos e eficientes para o controle de pragas. O agronegócio comprou só em 2012, 823.226 toneladas de agrotóxicos, entre os quais muitos proibidos em outros países. De 2000 a 2012, o aumento em toneladas compradas foi 162,32%.
Os venenos agrícolas causam doenças que produzem doenças como o câncer, malformação de feto, impotência sexual e frigidez, doenças cardíacas e nervosas. No Espírito Santo, os agrotóxicos matam mil pessoas por ano.
A partir de 2009, o Brasil passou a ser o maior consumidor de venenos agrícolas do mundo. O consumo representa uma média de 5,5 quilos por brasileiro por ano.
O dossiê da Abrasco aponta que o uso de agrotóxicos está diretamente relacionado à expansão da monocultura e dos transgênicos.
Desde a primeira edição do dossiê, o debate sobre a questão foi ampliado na sociedade civil e também no governo. Foi criado o Programa Nacional de Redução de Agrotóxicos (Pronara), cuja minuta está pronta, mas não foi lançada oficialmente pelo governo.
O dossiê é uma revisão da versão publicada em 2012. O documento tem mais de 600 páginas, com o acréscimo de estudos científicos e decisões políticas que envolvem os agrotóxicos. Reúne informações sobre a relação direta entre uso de agrotóxicos e problemas de saúde, como os que foram divulgados pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca).
Na atual edição do dossiê, foi incluído um capítulo que aponta o caminho da agroecologia como forma sustentável e saudável de produção no longo prazo.
O documento aponta ainda dez ações emergenciais, entre as quais priorizar a implantação de uma Política Nacional de Agroecologia no lugar do financiamento público ao agronegócio, impulsionar debates internacionais, e enfrentar a concentração do sistema alimentar mundial.
Também é apontado que é preciso banir no Brasil os agrotóxicos já proibidos em outros países e realizar a revisão dos parâmetros de potabilidade da água, para limitar o número de substâncias químicas aceitáveis e diminuir os valores máximos permitidos. E, ainda, que deve ser proibida a pulverização aérea de agrotóxicos.