Quarta, 01 Mai 2024

Pescador denuncia interferência da poluição na vida marinha de Camburi

Há três semanas, um peixe-espada sujo de pó preto e óleo de navio foi capturado por Bebeto Ruschi na Praia de Camburi, em Vitória. Sobrinho do cientista natural Augusto Ruschi, Bebeto pesca desde criança na Capital e em todo o Estado.
 
O peixe foi capturado num domingo de mar agitado e vento norte, com uma isca de peixe artificial. Bebeto descreveu-o como “tão poluído que estava mais morto do que vivo”, por conta da sujeira extrema, que o conferia ao peixe uma coloração muito diferente do prateado natural.
 
Provavelmente, relatou, o peixe foi contaminado pelo óleo de um navio e tentou se limpar na areia do fundo do mar, onde acabou sendo novamente contaminado pelo pó preto. Bebeto descreveu que esse pó preto é composto pelo pó de minério da Vale, pelo pó de carvão da ArcelorMittal e pelo resíduo das pastilhas de freio dos automóveis.
 
Ele ressaltou que, embora nunca tenha visto um peixe-espada tão grande quanto o que foi capturado sujo, os peixes de profundidade que existiam em Camburi estão sumindo.
 
Com a construção dos píeres, conta, a areia que é trazida pelo mar se concentra nas regiões em que existem recifes artificiais e deixa de formar, junto à praia, o solo propício para o desenvolvimento de camarões e outros pequenos animais que servem de alimento para os peixes de profundidade.
 
Segundo Bebeto, esse processo de concentração da areia no píer da Ponta de Tubarão aterrou uma área localizada a três milhas que, há 50 anos, tinha cerca de 60 metros de profundidade e, atualmente, tem pouco mais de oito.
 
 
Passivo ambiental
 
Não é de hoje que o passivo ambiental que polui a areia e a água da Praia de Camburi – além dos pulmões dos capixabas – é objeto de crítica da população da Grande Vitória, sobretudo das entidades ambientalistas, que travam uma ferrenha luta contra a poluição do ar emitida pela Vale e ArcelorMittal.
 
Em abril deste ano, após insistência da Associação dos Amigos da Praia de Camburi (AAPC) e interferência do Ministério Público Estadual, a Vale apresentou uma solução para a retirada do minério depositado na praia, lançado pela mineradora nas décadas de 70 e 80. A empresa sugeriu que fosse feito um aterro ou dragagem. 
 
Na época, Paulo Pedrosa, presidente da associação, declarou que a Vale tinha intenções claras de fazer um aterro ainda maior sobre o minério, uma alternativa que não resolveria, apenas maquiaria o problema. Pedrosa também lembrou que o minério não é inerte e, sem a sua retirada, há um risco ainda maior de prejuízo à vida marinha.
 
A associação está preparando estudos para contestar a versão da Vale de que o minério não altera a vida marinha e comprovem que a retirada total do material é a melhor solução.

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