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Tumores, vísceras expostas, duas bocas: pescadores mostram mais deformações

Com auxílio cortado pela Renova, captura e consumo do pescado contaminado continuam no Rio Doce e foz

Tumores, vísceras expostas e até duas bocas num único animal. Os casos de deformações de peixes oriundos do leito e da Foz do Rio Doce continuam sendo expostos pelos pescadores da região atingida pelos rejeitos que vazaram do rompimento da Barragem de Fundão, da Samarco/Vale-BHP, ocorrido em novembro de 2015, em Mariana (MG).  

As imagens chocantes mostram espécies comuns na mesa do capixaba, como bagre, robalo e corvina, além da piranha, mais conhecida como peixe exótico no norte do Estado. As que constam nesta matéria foram capturadas entre junho e agosto de 2022, em Regência, na foz do Rio Doce, e no interior de Linhares.

À esquerda, corvina com tumor na boca pescado em Regência. À direita, piranha com duas bocas pescada no Rio Doce em Linhares. Fotos: Reprodução

“São muitos casos. Coisas que a gente nunca tinha visto antes”, conta Walkimar Bispo Rodrigues, pescador profissional filiado à Associação de Pescadores de Povoação, comunidade também da foz do Rio Doce.

Os inúmeros relatos que os trabalhadores da pesca vêm fazendo ao longo de quase sete anos, desde o crime, encontraram corroboração oficial há poucos dias, com a divulgação do relatório sobre segurança do pescado feito pela Aecom do Brasil – perito oficial do caso Samarco/Vale-BHP, nomeada em março de 2020 pelo juízo da 12ª Vara Federal de Belo Horizonte.

O documento conclui pela não segurança do pescado oriundo de região dulcícola (leito do rio), estuarina (foz) e marinha (litoral capixaba) e pode indicar a proibição total da pesca em toda essa região atingida.

Bagre-rabo-seco pescado vivo com as vísceras expostas. Foto: Redes sociais

Desde 2016, a pesca é proibida pela Justiça Federal na foz do Rio Doce e na faixa litorânea até Barra do Riacho, em Aracruz, proibição renovada em 2020. No entanto, a Fundação Renova cortou o pagamento do auxílio financeiro emergencial de pescadores artesanais e profissionais, alegando que a contaminação diminuiu e as atividades podem ser retomadas. No final de junho, o Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1) ordenou a volta do pagamento, não tendo ainda atendido aos profissionais. 

Walkimar é um desses prejudicados, desde janeiro. “A nossa área é proibida de pescar. Mas a Renova obriga a gente a voltar a pescar e a cometer um crime. Porque para manter sua casa, você tem que voltar. Fazer o quê? Mas o peixe está difícil de vender, as pessoas estão com medo da contaminação”, conta.

A saúde do pescador também está gravemente prejudicada, complementa. “Aqui na nossa comunidade, tem gente morrendo, aparecem umas dores e a pessoa morre rapidinho. Dor no estômago, no corpo. Tem uma mulher aqui que foi fazer uma cirurgia e o médico colocou um tipo de imã na barriga dela, e ela disse que o médico viu um monte de minério no corpo. O peixe que a gente pega aqui, ele cola na mão da gente. Mas a Justiça parece que não tem autoridade na Renova. Dá sentença e ela não cumpre”.


É o fim da pesca no Rio Doce e litoral capixaba?

Relatório oficial do juízo sobre segurança do pescado mostra cenário grave, que pode levar à proibição total


https://www.seculodiario.com.br/meio-ambiente/e-o-fim-da-pesca-no-rio-doce-e-no-litoral-capixaba

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