Sábado, 27 Abril 2024

???A pior coisa será conviver com o ressentimento de vereador???

???A pior coisa será conviver com o ressentimento de vereador???
Rogério Medeiros e Renata Oliveira
Fotos: Gustavo Louzada



 
Com cinco mandatos na Câmara de Vitória, o vereador Namy Chequer (PCdoB) é um dos poucos que não vai disputar a eleição este ano. Líder do governo Luciano Rezende (PPS) no legislativo, entende como desejo da cidade que ele cumpra o mandato na Capital. 
 
Fora do pleito, mas não do processo de discussão, Namy observa os movimentos dos colegas e faz um panorama da disputa na Capital. Nesta entrevista a Século Diário, explica os motivos pelos quais os colegas vão disputar a eleição, quais as chances dos vereadores e as dificuldades para vencer a “maldição” de a Câmara não eleger deputados estaduais. 
 
O vereador também aponta os caminhos para a disputa eleitoral no município em 2016 e fala dos principais atores envolvidos nesta disputa futura, além da importância do envolvimento desses atores na eleição deste ano, para se colocarem estrategicamente no embate futuro.
 
Século Diário – Namy Chequer vai disputar a eleição para deputado estadual ou vai continuar como vereador? Aliás, o vereador nunca foi muito feliz de disputar estadual, não é?
 
Namy Chequer – Eu tive duas suplências. Sou suplente do Dary Pagung (PRP). Se ele fosse para o Tribunal de Contas, eu assumiria. Mas ele não foi, foi o Sérgio Borges (PMDB). E fui suplente de Geraldinho da Auto-Escola. Tenho que cumprir meu mandato de vereador. É o quinto mandato e acho que tenho que cumprir porque a cidade me quer vereador, simplesmente isso. 



 
– E o PCdoB?
 
– O partido está montando uma chapa completa, própria. Vai ser uma experiência nova. É claro que isso não é uma questão fechada, porque depende da vontade dos pré-candidatos de confirmar suas candidaturas. Mas essa é a ideia. 
 
– E está construindo coligação com quem?
 
– Pois é, tem chapa própria. Se houver coligação, será com um partido pequeno também, só para completar os 45 candidatos. Você coligado lança um número maior de candidatos. O PCdoB vai participar da batalha eleitoral. Nós já temos a nossa definição pela presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição. Certamente, aqui, vamos marchar com o governador Renato Casagrande. Fazemos parte do governo e ele está se comprometendo com uma certa neutralidade em seu palanque para que os aliados, que não são os mesmos no plano federal, fiquem à vontade no palanque. Ele é a bola da vez para a reeleição, faz um governo que lhe dá crédito de disputar a reeleição. Tem possibilidade eleitoral e há uma tendência natural de as forças políticas caminharem para a reeleição dele, sobretudo, porque não aparece alternativa segura e com uma proposta diferente da dele. 
 
– Mas Ricardo Ferraço pode ser candidato, Paulo Hartung pode ser candidato, os dois pelo PMDB...
 
– Mas da mesma maneira que se nota um certo distanciamento de Casagrande do governo Dilma, nota-se também...não é por aí que Ricardo Ferraço se credencia como candidato, porque o que mais se fala é que ele não é mais próximo de Dilma e Lula do que Casagrande.
 
– Muito pelo contrário, ele é tido como crítico ao governo Dilma. 
 
– Sendo ele do PMDB e sido eleito na base de Dilma, as forças ligadas a Dilma e Lula se ressentem do protagonismo dele contra o governo federal. E um bom governo, diga-se de passagem. 
 
– Agora, na Câmara de Vitória, Namy, Marcelão (PT), Davi Esmael (PSB) e Zezito Maio (PMDB) não vão disputar a eleição. Todos os outros vão. É isso?
 
– Temos que analisar a Câmara. Praticamente todos os vereadores são dirigentes partidários. Esses dirigentes e vereadores estão completamente envolvidos no processo eleitoral de 2014. Então, fica irrecusável para eles se envolverem e participarem como candidatos. É o caso de Devanir Ferreira (PRP), Rogerinho Pinheiro (PHS), Wanderson Marinho (PPS), Fabrício Gandini (PPS). Luiz Emanuel [Zouain], até outro dia, era o presidente municipal do PSDB. Tem o Serjão (PSB) também. Eles são todos vereadores, vêm fazendo um bom mandato, até porque a Câmara de Vitória vem tendo uma avaliação positiva para a comunidade. Não têm nada a perder, porque voltam para o mandato se perderem a eleição. São dirigentes partidários, então estão envolvidos na montagem de chapa, nas conversas sobre coligações. São levados pelo processo a também apresentarem candidatura. 
 
– Mas o retrospecto da Câmara não é tão positivo do ponto de vista eleitoral. Nas últimas eleições, não tem conseguido eleger seus vereadores para a Assembleia...
 
– Existe essa maldição de que é a coisa mais difícil do mundo sair um deputado estadual da Câmara. E é verdade. Vitória é uma cidade cosmopolita. Aqui temos um terço dos habitantes que nasceu aqui, um terço dos habitantes que mora aqui, mas é do interior do Espírito Santo, e mais um terço que é de fora do Espírito Santo. Então, uma cidade com essas características é um pouco diferente. Ela é Capital. E aí não é fácil. Esse terço, que é do interior, vota com os candidatos daqui? E quem é de fora do Estado vota em candidato daqui? Esse fenômeno tem de ser estudado, mas que existe essa maldição, existe. Tem o caso de Jair de Oliveira, que se elegeu deputado federal.
 
– Jurandy Loureiro também se elegeu para federal...
 
– Daí as chances de Gandini. 
 
– Aliás, o vereador está apoiando Gandini, não é?
 
– O PCdoB está estudando a possibilidade de lançar um federal também, para divulgar as questões nacionais, as bandeiras nacionais do partido. Mas é claro que eu, sendo eleitor de Vitória, o Gandini está contando com a minha ajuda e com a dos vereadores que são candidatos a deputado estadual. Aliás, vereador que quiser fazer um agrado político ao prefeito é só dizer que é candidato a deputado estadual e que vai fazer dobradinha com Gandini para deputado federal. Prefeito fica feliz. 



 
– Mas tem um vereador que se bobear vira deputado, que é o Luisinho [Pros]...
 
– Todos têm chances. O Luisinho busca e o Luisinho, a política vai revelando, tem fôlego de gato, sete vidas. Ele tem um jeito muito próprio de ganhar as eleições e é imbatível. Com a humildade dele, sensibiliza as pessoas que lhe conferem uma quantidade surpreendente de votos a cada eleição. 
 
– O Gandini não é o único candidato a federal nesta eleição, temos também da Câmara os vereadores Devanir e Rogerinho.
 
– Pois é. É prova de o que está envolvendo a candidaturas deles é o comprometimento partidário. Os dois são dirigentes partidários e estão envolvidos nas montagens de chapas. Foram absorvidos por aquilo.
 
– O prefeito se reuniu com os vereadores em dezembro para discutir eleição. Como está essa relação entre o Executivo e o legislativo municipal?
 
– O prefeito sabe que o mundo não vai acabar em 2014 e tem dito isso aos vereadores. Como o mundo não vai acabar em 2014,  o pessoal não pode queimar caravelas este ano, porque tem mais três anos de mandato e ele pretende conviver da melhor maneira possível com aqueles vereadores que estão ali. 
 
– O prefeito já joga para 2016.
 
– O prefeito sabe que pela importância que ele adquiriu hoje, com as prefeituras de Vitória e Cariacica, o partido tem de sair das urnas com um deputado federal. Quem tem um partido que tem a Capital e um dos municípios mais populosos, tem de eleger um deputado federal. 
 
– E a candidatura de Gandini agrada ao vereador?
 
– Eu torço para que ele ganhe a eleição de deputado federal. 
 
– A gente pode ter na eleição deste ano em Vitória, para deputado federal, um repeteco indireto da eleição de 2012, com o ex-prefeito Luiz Paulo Vellozo Lucas [PSDB], que disputou a eleição com Luciano Rezende e perdeu, e do outro lado Gandini representando o prefeito. Como fica essa polarização da disputa estadual?
 
– Não sei se isso se constitui em um terceiro turno da eleição de 2012 ou se um primeiro turno da eleição de 2016, mas que estão vinculadas, estão. O que aconteceu em 2012? Os dois partidos que se revezavam no poder há um quarto de século, com 12 anos de PT e 12 anos de PSDB perderam. Quando o PT ganhava, parecia que a classe média havia sido polarizada pelo povão. Quando o PSDB ganhava, parecia que a classe média havia sido polarizada pela Praia do Canto, Ilha do Boi e Ilha do Frade. Dessa vez, a classe média, alargada pelos governos de Lula e de Dilma, se achou na condição de fazer o seu candidato. Ao se identificar com um candidato tipicamente de classe média, que é o Luciano, a classe média isolou PT e PSDB e impôs Luciano como uma novidade. 
 
– Aí a região continental falou mais alto... Jardim Camburi, Jardim da Penha, Goiabeiras...
 
– No segundo turno, chegou toda ela com o Luciano. Luciano nasceu na classe média e no segundo turno atraiu todo o povão para o palanque dele. 
 
– Luciano Rezende é um homem de reeleição para 2016?
 
– Luciano está surpreendendo a cidade. Todos sabem que os últimos anos de João Coser [PT] não foram de ascensão na arrecadação e etc. Foram anos de queda. A cidade não ouviu de Luciano nenhum chororô. Ele está fazendo a economia que tem de ser feita para segurar as barras. Deu algumas vantagens para o funcionalismo, manteve o reajuste de 6%, deu o tíquete e está controlando a nomeação de cargos comissionados ao máximo. Até agora, manteve os serviços da prefeitura no mesmo padrão que encontrou, com alguma capacidade de antecipação que não víamos na cidade. Sabendo que as chuvas de março seriam fortes, quando tomou posse em janeiro de 2013, desobstruiu os canais e não houve alagamento com as chuvas. O grande problema nosso são as encostas. Um problema que vai ser eterno. Já estiveram piores, ao longo do ano algumas foram resolvidas. 
 
– E politicamente?
 
– Eu acho que Luciano se firmou politicamente, quando consolidou uma aliança com o governador Renato Casagrande, que é a força política em ascensão no Espírito Santo. 



 
– Foi também o único político nos últimos 10 anos no Estado que se colocou claramente e publicamente como desafeto de Paulo Hartung [PMDB].
 
– Ele enfrentou Paulo Hartung na eleição de 2012 sem tremer, sem vacilar. Foi feliz também por consolidar essa aliança com Casagrande no momento de ascensão de Casagrande. Nesta reta final de Casagrande, quando ele se coloca como maior liderança política do Estado, o Luciano aparece muito próximo dele. Isso o fortaleceu. Porque ele não elegeu uma bancada de vereadores, não tem deputados estaduais, não tem deputado federal, mas queimou essas etapas todas no momento em que se uniu ao governador forte, no momento em que o governador estava mais forte. Agora vai ter de consolidar sua base na Câmara, ter força na Assembleia Legislativa. A oportunidade é agora. Por isso, a importância da harmonia com os candidatos-vereadores. E fazer federal. O ano do fortalecimento  político do Luciano é 2014. 
 
– O governador Renato Casagrande se coloca como neutro na disputa presidencial, embora o PSB tenha candidato próprio, com o governador de Pernambuco Eduardo Campos. O prefeito da Serra, Audifax Barcelos, que vinha sendo apontado como o puxador de votos do presidenciável no Estado, já veio a público para dizer que não tem condições de puxar esse palanque. Então, automaticamente, como o PPS é aliado do PSB em nível nacional, essa função passa para o prefeito Luciano Rezende. Isso pode fortalecê-lo politicamente, ser o cara do Eduardo Campos no Espírito Santo?
 
– Eu, Namy Chequer, duvido que ele assuma a condição de coordenador da campanha de Eduardo Campos no Espírito Santo, porque seria péssimo para a administração e politicamente, porque ele não tem nada a ver com isso. Quem tem de coordenar a campanha de Eduardo Campos é o PSB. 
 
– Mas o PPS do Espírito Santo foi um dos primeiros a declarar apoio à candidatura do Eduardo Campos, com Luciano à frente do partido. 
 
– Estão aliados, mas acho que Luciano não vai fazer isso. Acho que ele tem mais o que fazer. 
 
– O prefeito tem essa noção de que precisa eleger deputado estadual e federal e contribuir com esses vereadores para se fortalecer para 2016?
 
– Claro. Ele sabe que ele hoje tem uma blindagem política por causa da relação dele com Renato Casagrande, mas isso não é uma coisa que se dá de forma eterna, permanente. Até porque, os interesses do governador são diversos. Ele tem outros aliados também. Luciano, pela lógica, tem de fazer a lição de casa. Ajudar na eleição de deputado estadual, o maior número possível. Ter uma presença na bancada federal ativa, com Gandini ou até mais um ou outro que ele ajude eventualmente, e ter gente na Câmara. A pior coisa será conviver com o ressentimento de vereadores que não contaram com a ajuda do prefeito na campanha eleitoral. 
 
– Mas tem candidato que vai à urna para entrar no poder. Candidata-se e depois negocia espaço com o prefeito e vira secretário. Candidata-se não para ganhar, mas para fazer estoque de votos lá na frente.
 
– Isso pode acontecer. Mas no caso concreto da Câmara, o que vem motivando, atraindo os vereadores para a disputa eleitoral, é mais a responsabilidade que eles assumiram como dirigentes de partido. 


– Na prestação de contas do prefeito, notou-se a harmonia do Executivo com o legislativo municipal, com dois pontos fora da curva: Luiz Emanuel e Reinaldo Bolão [PT], que remontam essa história do embate das forças políticas do município, porque um é tucano e o outro é petista. O prefeito vive falando que tem de se preparar porque estão esperando ele na curva. Quem são esses caras que estão esperando Luciano na esquina?
 
–  A novidade que tinha de surgir em Vitória já surgiu, que é ele próprio. Fora essa novidade, existem essas duas forças tradicionais que foram derrotadas por ele e que querem protagonizar no futuro. Com toda a certeza do mundo PSDB e PT vão ter candidato em 2016 contra Luciano. É quase impossível imaginar que uma dessas duas forças vai se juntar com Luciano, não vai. 
 
– Então, esse clima na Câmara vai se estender durante todo o mandato.
 
– Numa ponta da curva estão os tucanos e na outra ponta estão os petistas. Luciano sabe que para qualquer lado que for, terá alguém esperando.
 
– Como 2018 está indexado a 2014, assim como 2016, quem pode vir para a disputa com Luciano?
 
– Os nomes de 2016 estão condicionados ao desempenho deles em 2014. O resultado da eleição vai conformar uma nova relação de forças estaduais e também nos municípios. Então, dependendo do resultado da eleição, teremos gente mais fortalecida e gente mais enfraquecida. O prefeito vai jogar para que o lado dele saia mais fortalecido, mas é claro que o PSDB e o PT vão jogar pelo fortalecimento de seus quadros também. O resultado de 2014 vai oferecer um quadro mais nítido do que vai rolar em 2016.
 
– Na sua expectativa, quem seriam os candidatos do PSDB e do PT?
 
– Antes de 2014? 
 
– Sim.
 
– Aí teríamos o quadro anterior, de 2012,  porque o resultado da eleição deste ano é que vai conformar uma nova relação de forças, não dá para arriscar. Se César Colnago [PSDB] perder a eleição para deputado federal? Esse é um quadro. E se ele se reelege? Se Iriny Lopes [PT] se reeleger é uma coisa, se ela perder é outra. Se João Coser [PT] virar senador ou vice-governador? Tem quadros que já passaram pela cidade que tem condições, mas isso em tese. O concreto é que a partir de 2014 vamos ter os nomes mais viabilizados ou enfraquecidos. 
 
– Namy Chequer vai estar lá com Luciano em 2016?
 
– Vamos estar com Luciano. Tenho confiança na administração dele. Está mantendo o padrão de qualidade que a cidade tem desde os tempos de Vitor Buaiz, tem de se falar com justiça. O PSDB, bem ou mal; o PT, bem ou mal, mantiveram um certo padrão que a cidade exige. Não existe cidade mais exigente no Estado e no Brasil do que Vitória. A nossa cidade não aceita queda de qualidade no serviço das escolas, do atendimento dos hospitais, do recolhimento do lixo. Por isso é difícil ser prefeito de Vitória e Luciano vem mantendo esse padrão que é exigido pela cidade. Então, acho que daqui para frente ele pode melhorar o desempenho e as condições estarão dadas. 

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Domingo, 28 Abril 2024

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