Sábado, 27 Julho 2024

Audiência pública sobre empréstimo antecipa disputa eleitoral em Cachoeiro

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Divulgação/PMCI

"Eu sei que muita gente já está se posicionando contra o empréstimo, mas eu queria fazer uma dinâmica com todos aqui. Vamos fazer de conta que todos vocês, hoje, são prefeitos de Cachoeiro, e que eu sou um técnico da prefeitura que vai apresentar o projeto. E vocês, como prefeitos de Cachoeiro, vão decidir se querem ou não que isso seja aprovado, e se é importante ou não, de forma técnica. Sei que estamos em período eleitoral, que o debate vai para o lado eleitoral, mas que as dúvidas, os argumentos, sejam técnicos".

Foi dessa forma que Victor Coelho (PSB), prefeito de Cachoeiro de Itapemirim, no sul do Estado, iniciou uma longa apresentação em defesa do empréstimo de 50 milhões de dólares que a sua gestão pretende contrair com a Corporação Andina de Fomento (CAF). Na noite dessa quarta-feira (15), a Câmara de Vereadores, que votará o projeto, realizou uma audiência pública para debater o tema. Entre os presentes, dois pré-candidatos a prefeito, o vereador Léo Camargo (PL) e o advogado Diego Libardi (Republicanos), além do deputado estadual Callegari (PL).

O plenário foi tomado por um público hostil ao chefe do Poder Executivo, em uma antecipação dos embates eleitorais – apesar de Victor Coelho estar no fim de seu segundo mandato. Logo na entrada do prédio da Câmara, foi colocado um boneco representando o prefeito com um cartaz em protesto pelo valor do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU). Entre os presentes estavam servidores municipais empunhando faixas contra o empréstimo, lideranças comunitárias e representantes de entidades como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) - muitos deles pré-candidatos a vereador.

Por mais de uma hora, Coelho listou seus argumentos a favor do empréstimo. O principal deles é a baixa capacidade de investimento do município, com apenas 17,7% de receita tributária em 2023, ficando historicamente dependente do Estado e da União. Em 2022, Cachoeiro ficou na 71ª posição estadual em renda per capita. Em royalties de petróleo e participações especiais per capita, o município é o penúltimo, muito abaixo de cidades do litoral.

Apesar disso, Cachoeiro tem bons indicadores econômicos em sua gestão, argumentou o prefeito. Isso inclui "Nota A" em gestão fiscal pelo Tesouro Nacional, um importante avalizador de operações de empréstimo. Outro ponto mostrado pelo prefeito é que diversos estados e municípios fazem operações de crédito com moeda nacional ou estrangeira rotineiramente, e que outras gestões de Cachoeiro também fizeram uso desse expediente.

Sobre a opção da operação de crédito com a CAF, Victor Coelho relatou que conheceu essa organização da América Latina em uma visita a Medellín, na Colômbia, cidade citada como exemplo de mudança social. Com o dinheiro do empréstimo, a intenção é investir em uma série de obras estruturantes, incluindo macrodrenagem, revitalização da região central e reforma de áreas de lazer.

Em certo momento, um cidadão levantou a voz reclamando da demora da apresentação, tendo em vista que a população também se manifestaria com perguntas e colocações. "Se não quer saber, pode se retirar. É tudo pré-candidato fazendo política!", protestou o prefeito. Diego Libardi, que estava no espaço destinado aos vereadores, pediu uma "questão de ordem", dizendo ser "de bom tom" que a fala do prefeito fosse mais rápida. Foi aplaudido efusivamente.

Divulgação/PMCI

A maior parte dos vereadores declinou da fala, com a justificativa de ceder espaço à população. Entre os que fizeram questionamentos estiveram Júnior Corrêa (Novo), Léo Camargo (PL), Léo Cabeça (PSDB), Osmar Chupeta (Republicanos) e Paulinho Careca e Paulo Grola, ambos do Podemos. As contraposições à proposta da gestão municipal giravam em torno do fato de ela ter sido apresentada no final do mandato, em ano eleitoral, com outros dois empréstimos já feitos, com resultados não satisfatórios.

"Não acredito nessa vastidão de obras com esse valor", vociferou Callegari da tribuna, para a qual apresentou-se como "cidadão", e questionou ao prefeito: "O senhor está disposto a ir até o final com essa ideia?". Coelho respondeu que deixaria a decisão nas mãos da Câmara.

Diego Libardi, por sua vez, argumentou que "a operação mais segura é em moeda nacional", e que os protestos da população se deviam à falta de diálogo da atual gestão. Victor Coelho respondeu de forma irônica ao "cidadão" Libardi: "Caso o senhor seja eleito, sugiro cancelar o empréstimo".

Na parte final do evento, houve tempo para uma troca de acusações entre o prefeito e uma das diretoras do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais (Sindimunicipal), Andrea Cristina Livio, pré-candidata a vereadora pelo União Brasil. A sindicalista aproveitou sua fala para apresentar reivindicações da categoria, e citou o nome de Glauber Coelho, falecido irmão de Victor, de quem era amiga, segundo ela. Em resposta, o prefeito disse que, quando Andrea ocupava cargo comissionado em sua administração, "vivia me abraçando e pedindo pra tirar foto".

Lucas Schuina

O também pré-candidato a prefeito Carlos Casteglione (PT) se inscreveu para falar na audiência, mas não apareceu na Câmara. Apesar do clima desfavorável, a expectativa da gestão municipal é que o empréstimo seja aprovado, tendo em vista que a maioria dos vereadores é da base do prefeito.

No mês que vem, Lorena Vasques (PSB), secretária municipal das pastas de Obras e Manutenção e Serviços, deverá ser anunciada oficialmente como a pré-candidata escolhida do grupo de Victor Coelho para disputar a sucessão municipal, em um novo passo na corrida eleitoral. 

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