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‘Querem transformar o normal em anormal e o anormal em normal’

Fórum LGBTI+ aponta homofobia e mobiliza repúdio ao vereador Igor Elson, presidente do PL da Serra

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“Querem liberar a troca de valores. Querem pegar o que é normal e colocar como anormal e pegar o anormal e colocar como normal. Mas enquanto nós estivermos vivos, estaremos firmes combatendo isso”. A afirmação foi feita pelo vereador Igor Elson, eleito nesse sábado (4) presidente do PL da Serra, e alvo de nota de repúdio do Fórum Municipal de Cidadania LGBTI, assinada por mais de 40 entidades e coletivos do movimento social capixaba e serrano. 

O documento foi lido na sessão da Câmara de Vereadores na tarde desta segunda-feira (6), quando Igor se retirou do plenário e da Câmara. Em vídeo que circula nas redes sociais, entende-se que a fala se refere à Semana de Diversidade da Serra, que culminou com o XIII Manifesto LGBTI do município, no final de janeiro. 

Horas antes, pela manhã, o vereador publicou uma “nota de esclarecimento”, alegando que “no evento do PL, não chamou quaisquer pessoas de ‘anormais'” e que “anormal era e é a política pública adotada pelo Poder Executivo municipal, que privilegia apenas uma parte da sociedade, deixando de fora os setores conservadores e que pregam valores cristãos”.

Membro do Fórum LGBTI+ da Serra e coordenador estadual do Levante Popular da Juventude, Ramon Rodrigues desmente a postagem do vereador. “É mentira. Ele se referiu sim à população LGBT. Eu disse isso na postagem, mas ele apagou meu comentário”, pontua. “É por falas como essa do Igor que muitos de nós são mortos. É ódio mesmo contra essa população”, indigna-se.

Na nota de repúdio, o Fórum e as entidades e organizações signatárias ressaltam que, “no Brasil, a LGBTfobia é crime, a homossexualidade não é crime e tampouco doença, e que “existe todo um esforço coletivo para que possamos construir uma sociedade justa, fraterna e igualitária. Atitudes que pretendem reforçar o preconceito e a violência devem ser repudiadas e denunciadas”.

Sobre a Semana da Diversidade, que suscitou o discurso preconceituoso do vereador, a nota explica que foi um evento que contou com “formação sobre diversidade sexual e gênero para servidores da Prefeitura de Serra, formação sobre o uso do nome social para servidores de unidades de saúde, cine debate para jovens em dois Centros de Referência de Juventudes, a primeira feira de diversidade que contou com oferta de vários serviços públicos para o público LGBT” e que, somadas todas as atividades, incluindo a festa final –Manifesto LGBTI da Serra – a 18 mil pessoas foram atingidas. “Movimenta a cultura, o lazer e o comércio local”, acentua Ramon Rodrigues.

Além de muitas informações sobre as diversas violências a que a população LGBTQIA+ é submetida, especialmente as juventudes, a carta destaca direitos conquistados recentemente, como à “união estável entre casais do mesmo sexo como entidade familiar”.

O documento traz uma série de ponderações sobre como a postura de Igor Elson e demais políticos presentes “não condiz com um agente do estado eleito democraticamente que tem, pelas funções que ocupam, redobrada a obrigação de respeitar e defender a Constituição”, enfatizando que são posturas assim que mantêm, na sociedade, “forte sentimento de desprezo que parte da sociedade nutre por nossa comunidade que, vistos como desiguais e inferiores, nos tornamos alvos frequentes daqueles/as que se sentem superiores”. E pede por “uma ação eficiente por parte das autoridades” e investigações e punição do responsável.

“Atitudes nefastas, como deste sujeito, demonstram a persistente truculência do ideário homofóbico e o quanto ainda precisamos avançar para que todas e todos possam exercer seus direitos com respeito e igualdade. A LGBTfobia direta e indireta não só atinge a população LGBTI+, mas também outras pessoas que de alguma maneira se comportam fora dos padrões heterossexuais”, pontuam os signatários, afirmando ainda que “com essa firmeza, acionaremos a justiça e os órgãos competentes para que nossos direitos sejam respeitados e persistiremos na cobrança firme para que as investigações ocorram com seriedade e justiça”.

“Nosso desejo é o de que possamos viver de fato um ambiente livre de todas as formas de violência, tipificando atitudes como essas como uma violação aos direitos humanos da população LGBTI+”, finalizam.

Signatários

A nota é assinada pelo Instituto EcoVida; Agentes de Pastoral Negros do Brasil (APNs); Conselho de Direitos Humanos da Serra; Aliança Nacional LGBTI; Conselho Municipal do Idoso da Serra; PDT Diversidade – ES; Semearte-Serra; Rede de Comercialização Solidária do ES (Rede Comsol); Associação Grupo Orgulho, Liberdade e Dignidade (Gold); Centro Cultural Eliziário Rangel (CCER); Federação Espírito-Santense de Cultura e Povos Tradicionais de Matriz Africana; Psol – Serra; Coletivo Diversidade, Resistência e Cultura – Coletivo DRC; Associação de Mulheres Unidas da Serra (Amus); Comsea; Resistência – Psol ES; Grito da Cultura ES; Secretaria Nacional LGBT do PT; Secretaria Nacional de Diversidade Sexual e Gênero do Ministério de Direitos Humanos; Fórum Municipal de Economia Popular Solidária (Fomeps); Rede de Comercialização Solidária do ES (Rede Comsol ES); Associação de Moradores de Belvedere; Conselho dos Direitos e Defesa da Pessoa Idosa da Serra (Comids); Conselho Municipal de Assistência Social (Comasse – Serra); Conselho dos Direitos da Pessoa com Deficiência da Serra; Secretaria Estadual LGBT do PT; Conselho Municipal do Negro da Serra (Conegro); Núcleo de Gênero e Sexualidade do IFES Campus Serra; Fórum Chico Prego; Centro de Defesa dos Direitos Humanos da Serra; Rede Gaylatino; Grupo Dignidade; Associação Brasileira de Famílias HomoTransAfetivas (ABRAFH); Fórum Estadual LGBT; Ilé Asè Odé Nilá; Coletivo Santa Sapataria; Levante Popular da Juventude; e Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente.

Também aderiram a vereadora da Serra, Elcimara Loureiro (PT); as deputadas estaduais Camila Valadão (Psol) e Iriny Lopes (PT), os vereadores de Vitória André Moreira (Psol) e Karla Coser (PT); o deputado federal Dorinaldo Malafaia (PDT-AP); e a deputada estadual do Rio de Janeiro Renata Souza (Psol).

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