Sexta, 26 Abril 2024

Pandemia tem momento mais grave no país, alerta Fiocruz

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O Brasil vive seu momento mais grave da pandemia de Covid-19 e os dados sobre ocupação hospitalar, incidência de casos e mortes, são apenas "a ponta do iceberg" da crise brasileira. A avaliação é da Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz) e consta em uma Nota Técnica Extraordinária do Observatório Covid-19, publicada nesta quarta-feira (3), com dados da semana epidemiológica do dia primeiro de março.

"Pela primeira vez, desde o início da pandemia, verifica-se em todo o país o agravamento simultâneo de diversos indicadores, como o crescimento do número de casos, de óbitos, a manutenção de níveis altos de incidência de SRAG [Síndrome Respiratória Aguda Grave], alta positividade de testes e a sobrecarga de hospitais", resume a entidade centenária, que é referência em pesquisa científica, ensino e extensão na área de saúde, além de estar apta a produzir vacinas contra o SARS-CoV-2.

"Os dados consolidados para o país confirmam a formação de um patamar de intensa transmissão da doença", considera a Nota Técnica. Mais de 255 mil pessoas morreram por Covid-19, e, em alguns casos, salienta o boletim do Observatório, sem acesso à assistência e ao direito à saúde previsto na Constituição Federal. Com o agravante de que, nas últimas semanas, foram registradas as maiores médias de óbitos por semana epidemiológica e nos dias 13 e 28 de fevereiro, pela primeira vez, foram mais de 1,2 mil óbitos registrados em um único dia.

Os dados apresentados, prossegue a Fiocruz, "embora alarmantes, constituem apenas a ponta de um iceberg de um patamar de intensa transmissão no país". Por trás deles, relata, estão "dificuldades de resposta de outros níveis do sistema de saúde à pandemia, mortes de pacientes por falta de acesso a cuidados de alta complexidade requeridos, a redução de atendimentos hospitalares por outras demandas, possível perda de qualidade na assistência e uma carga imensa sobre os profissionais de saúde", descreve, salientando que o setor privado de saúde tem apresentado taxas ainda mais alarmantes que as do Sistema Único de Saúde (SUS) em alguns estados, como Rio Grande do Sul e Sergipe.

ES em alerta amarelo

Auxiliando o terceiro estado – Amazonas, Rondônia e agora Santa Catarina – com oferta de leitos de Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) para pacientes de Covid-19 que não conseguem vagas em suas redes de saúde, o Espírito Santo é uma das sete unidades da federação que estão em alerta intermediário de lotação hospitalar, com ocupação entre 60% e 79%.  

A maioria, no entanto, está em alerta vermelho (80% ou mais) e apenas um está fora da zona de alerta (menos que 60%). Como mostra o mapa abaixo, 18 estados e o Distrito Federal estão na zona de alerta crítica, sete estados na zona de alerta intermediária e somente um estado fora na zona de alerta.

Nas regiões Sul e Centro Oeste, todos os estados permaneceram na zona máxima de alerta. No Norte, a única exceção ao alerta vermelho é o Amapá (64%). No Nordeste, somente Paraíba e Alagoas mantiveram-se na zona intermediária, e Sergipe é o único estado brasileiro fora da zona de alerta, com 59%.

No Sudeste, os quatro estados se mantêm na zona intermediária de alerta, com crescimento dos respectivos indicadores de ocupação mais acentuado em Minas Gerais (70% para 75%), Espírito Santo (68% para 76%) e São Paulo (69% para 74%) e pouco expressivo no Rio de Janeiro (61 para 63%).

Entre as 27 capitais do país, no momento há 20 com taxas de ocupação de leitos de UTI Covid-19 para adultos de 80% ou mais, e cinco capitais estão com taxas superiores a 70%: Macapá (72%), Recife (73%), Belo Horizonte (75%), Vitória (75%), São Paulo (76%).

Paradoxos

A Nota Técnica Extraordinária evidencia também os paradoxos que coexistem na crise pandêmica brasileira. Por um lado, ressalta a Fiocruz, estão os muitos avanços na Ciência, sendo o mais notório o desenvolvimento de vacinas em curto período. Por outro, elenca, estão as incertezas que envolvem tanto as novas variantes e o que ainda se deve conhecer sobre seus impactos nos processos de transmissão, reinfecção e eficácia das vacinas, assim como o longo período de exposição da sociedade ao vírus SARS-CoV-2 e à Covid-19, com todos os seus impactos econômicos, sociais e sanitários.

"Estamos diante de novos desafios e de um novo patamar, exigindo a construção de uma agenda nacional para enfrentamento da pandemia, mobilizando os diferentes poderes do Estado brasileiro (executivo, legislativo e judiciário), os diferentes níveis de governo (municipais, estaduais e federal), empresas, instituições e organizações da sociedade civil (de nível local ao nacional)", propõe a entidade, à semelhança do que foi pedido por Renato Casagrande (PSB) e outros governadores na reunião em Brasília com o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP/AL): a criação de um grupo de trabalho para garantir o cumprimento do cronograma do Plano Nacional de Imunização.

Medidas mitigadoras e de supressão

Essa agenda conjunta, salienta a Fiocruz, precisam "combinar medidas de mitigação que devem durar até o fim da pandemia, com medidas de supressão sempre que a ocupação de leitos UTI Covid-19 estiver acima de 80%, bem como as que envolvem campanhas de comunicação para maior fortalecimento destas medidas".

Reportando-se a orientações feitas por entidades nacionais como o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), a Fiocruz elenca ainda as principais ações a serem empreendidas no país

Entre as ações envolvendo o sistema de saúde, estão: disponibilização pela União de recursos extraordinários para o SUS, com aporte imediato aos Fundos Estaduais e Municipais de Saúde; fortalecimento da vigilância em saúde em sua dimensão territorial e integrada com a Atenção Primária em Saúde, objetivando as medidas de controle e atenção: detecção precoce, investigação laboratorial (incluindo a ampliação da vigilância genômica no país), isolamento, quarentena e busca ativa de casos suspeitos e confirmados, além de estratégias de teleconsulta; ampliação da capacidade assistencial em todos os níveis, incluindo leitos clínicos e de UTI para Covid-19 combinada com proteção, capacitação e valorização dos profissionais de saúde; aceleração da vacinação para toda a população coordenada pelo Programa Nacional de Imunização (PNI) do SUS.

Os aspectos sociais e econômicos da pandemia de Covid-19 também são salientados pela Nota Técnica que afirma: "medidas que envolvem o nosso sistema de saúde, nas suas capacidades de vigilância e atenção à saúde", devem ser combinadas com "medidas econômicas para mitigar os impactos sociais da pandemia, principalmente para os mais vulneráveis", entre elas a aprovação de um Plano Nacional de Recuperação Econômica, com retorno imediato do auxílio financeiro emergencial enquanto durar o estado de emergência.

Ellen Campanharo/Ales

Assembleia Legislativa

A carta aberta do Conass, citada pela Fiocruz, foi repercutida na sessão ordinária híbrida da Assembleia Legislativa do Espírito Santo (Ales) dessa terça-feira (2), com destaque para a fala da deputada Iriny Lopes (PT). "Os sinais são os mais alarmantes possíveis e seria irresponsabilidade de nossa parte querer tapar o sol com a peneira", alertou.

"Ou nós nos esforçarmos conjuntamente para salvar vidas, ou será o maior desastre brasileiros. Podemos passar de 500 mil mortes", enfatizou Iriny, que classificou como "crime contra a humanidade" a omissão do governo federal e gastos de recursos públicos com churrascos e cerveja. A parlamentar propôs a adoção das medidas de lockdown pelo governo do Estado, incluindo a participação das forças de segurança para garantir as medidas de contenção da pandemia.

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Comentários: 1

Vinicius em Quinta, 04 Março 2021 08:01

Não negamos a doença, nem apregoamos tratamentos não orientados pelas autoridades médicas e científicas internacionais. Somos favoráveis à vida, à saúde de nossa população e, portanto, à imunização da sociedade civil. Contudo, pensar o lockdown dentro de uma estrutura de capitalismo dependente e ultraliberal, tal como na nossa sociedade, seria o sacrifício da economia produtiva e do trabalho vivo. Faz-se lockdown e o trabalhador comerá o quê e trabalhará onde?! Em geral, acredita-se que os servidores públicos e os profissionais liberais estejam garantidos. Mas, o que será de quem é funcionário subalterno em escritórios, prestadoras de serviços, informais e auxiliares de serviços gerais?!

Não negamos a doença, nem apregoamos tratamentos não orientados pelas autoridades médicas e científicas internacionais. Somos favoráveis à vida, à saúde de nossa população e, portanto, à imunização da sociedade civil. Contudo, pensar o lockdown dentro de uma estrutura de capitalismo dependente e ultraliberal, tal como na nossa sociedade, seria o sacrifício da economia produtiva e do trabalho vivo. Faz-se lockdown e o trabalhador comerá o quê e trabalhará onde?! Em geral, acredita-se que os servidores públicos e os profissionais liberais estejam garantidos. Mas, o que será de quem é funcionário subalterno em escritórios, prestadoras de serviços, informais e auxiliares de serviços gerais?!
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Sábado, 27 Abril 2024

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