segunda-feira, outubro 14, 2024
23.3 C
Vitória
segunda-feira, outubro 14, 2024
segunda-feira, outubro 14, 2024

Leia Também:

​Caminhada ecumênica vai reiterar pedido de paz no Território do Bem ​

Região vem sofrendo com a violência, que novamente assombrou as comunidades em São Benedito

O último sábado (18) foi marcado por violência no bairro São Benedito, no Território do Bem, em Vitória, com um baleado e um espancado pela Polícia Militar (PM), conforme relatos de moradores. O ocorrido se soma a uma série de outras ações de violência registradas na região e que motivaram a realização da XIII Caminhada Pela Paz, no próximo domingo (26), a partir das 8h, com dois pontos de concentração: a Paróquia Santa Teresa de Calcutá, em Itararé, e a Paróquia São José, em Maruípe.

Os manifestantes se encontrarão no Horto de Maruípe, onde haverá uma oração ecumênica e o Piquenique Pela Paz. A Caminhada é realizada pela Ação Diaconal Ecumênica (ADE), composta pelas igrejas Católica, Presbiteriana e Luterana. Contudo, conforme afirma o vigário para Ação Social Política e Ecumênica da Arquidiocese de Vitória e pároco da Paróquia Santa Teresa de Calcutá, em Itararé, padre Kelder Brandão, militantes de direitos humanos, coletivos, sindicatos e a população em geral estão convidados.

O sacerdote, em um vídeo postado nas redes sociais, relata que o Território do Bem vem sofrendo com grandes ondas de violência há cerca de um ano. Contudo, o problema tem se intensificado a partir de outubro passado, com “conflitos entre grupos locais”. De acordo com ele, é preciso dar uma resposta. “Queremos que nosso território tenha dias melhores, de paz, e essa paz precisa ser construída com diálogo, respeito, muito zelo, ouvindo a comunidade, moradores do território, que ano após ano sofrem com a ausência de políticas públicas adequadas e com o terror caminhando livremente pelas ruas”, disse Kelder.
O padre afirmou, ainda, que a onda de violência tinha diminuído há cerca de dois meses. Entretanto, “os tiros voltaram a nos assombrar de madrugada e cinco pessoas foram baleadas no alto de São Benedito” no último sábado. Porém, moradores que preferem não se identificar afirmam que, apesar de a imprensa local ter noticiado que foram cinco, na verdade foi um baleado e outro espancado pela PM. De acordo com moradores, ambos foram para o hospital, onde foram autuados por ter mandado em aberto.
Eles relatam que a PM chegou no morro por volta das 23h. Já depois da meia- noite espancou um rapaz, que foi levado para o hospital pelos próprios policiais. Depois, baleou outro à queima roupa, que também foi encaminhado para o hospital. Segundo os moradores, quando os policiais desciam do morro com o rapaz baleado, um grupo envolvido no tráfico atirou para cima, o que motivou o início de uma troca de tiros com a polícia.
Escuta da comunidade
No próximo sábado (26), um dia antes da Caminhada Pela Paz, o Instituto Conexão Perifa realizará o evento Antes meu filho era forjado, hoje ele é baleado”, que tem como objetivo escutar as demandas das comunidades periféricas em relação à segurança pública, propor ações e entregá-las à gestão de Renato Casagrande (PSB). As inscrições, gratuitas, podem ser feitas neste link. O evento será das 8h30 às 18h, na Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Prezideu Amorim, no bairro Bonfim, no Território do Bem.
A iniciativa, segundo a presidente do Conexão Perifa, Crislayne Zeferina, vai debater a violência policial nas periferias capixabas, sobretudo no Território do Bem. “Será uma construção coletiva, uma forma de dar voz às comunidades, que estão gritando por uma nova política de segurança pública e não estão sendo ouvidas”, destaca.

O evento acolherá famílias que perderam parentes para a violência policial nas comunidades, para o encarceramento em massa, e está aberto também para ativistas, movimentos sociais e demais entidades de defesa dos direitos humanos.

Violência policial
Não é a toa que o Instituto Conexão Perifa irá realizar o “Antes meu filho era forjado, hoje ele é baleado”, já que os moradores têm denunciado a intensificação da violência policial no Território do Bem. Em fevereiro último, a entidade encaminhou ao Ministério Público do Espírito Santo (MPES) um documento no qual solicitou a apuração das mortes registradas em janeiro na região, que foram cinco, resultado de ações da Polícia Militar (PM). Também reivindicou que o órgão ministerial se reúna com os representantes da Segurança Pública do Espírito Santo, “para proibir as chacinas que vêm acontecendo em nosso território”, e pense “em uma política de paz nas comunidades, zelando pela vida de todos os moradores”.
O órgão ministerial assumiu o compromisso de buscar abertura de diálogo com o Centro de Apoio Operacional Policial para tratar do assunto, além de sinalizar para a possibilidade de criação de uma comissão formada por moradores do Território do Bem e representantes do MPES, que também é uma reivindicação do instituto. Contudo, conforme informa Crislayne, nada foi colocado em prática.
Em agosto do ano passado, moradores do Território do Bem realizaram a manifestação do Dia Nacional de Lutas dos Movimentos Negros pelo Fim da Violência Racista da Polícia, com concentração na praça de Itararé. No trajeto, rumo ao quartel da PM, em Maruípe, os manifestantes pediram por políticas públicas de saúde, educação, geração de emprego e renda, direitos reivindicados por um público de faixa etária diversificada, abrangendo crianças, adolescentes e adultos.
Já em frente a quartel, um dos destaques feitos pelos manifestantes foi quanto à nomenclatura da região, denominada pelos moradores de Território do Bem, mas chamada pela grande imprensa e pelas forças de segurança como Complexo da Penha, nome considerado pejorativo. Posteriormente, os manifestantes retornaram para a Praça de Itararé, onde o protesto foi encerrado.
Assessoria Jurídica
O Instituto Conexão Perifa também oferece atendimento jurídico gratuito para moradores das periferias da Grande Vitória. A iniciativa conta com três advogados populares que atuam voluntariamente. Um deles tem como foco a busca pelo acesso ao Benefício de Prestação Continuada (BPC), e os demais, pessoas que foram vítimas de violência policial, seus familiares e encarcerados. Para marcar uma conversa com os advogados, que pode ser presencial ou virtual, basta entrar em contato por meio do número (27) 99531-5057.

Mais Lidas