Sexta, 19 Abril 2024

Mulheres estão na base do que há de mais expressivo na agricultura e artesanato

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Uma das principais vitrines da agricultura familiar capixaba começa sua 16ª edição nesta quinta-feira (15) na Praça do Papa, em Vitória: a Feira da Agricultura Familiar e Reforma Agrária do Espírito Santo (16ª Feafes), que pela terceira vez, abriga a Feira das Mulheres Trabalhadoras Rurais do Espírito Santo (3ª Femtru-ES).

Até o domingo (19), os visitantes poderão conhecer o trabalho de aproximadamente mil produtores, a maioria da agricultura familiar, mas também da economia solidária, além de Microempreendedores Individuais (MEIs) e artesãos.

"Massas, bolos, cafés especiais, mel, artesanato, flores", destaca o presidente da Federação dos Trabalhadores e Agricultores Familiares do Espírito Santo (Fetaes), Julio Mendel, uma das entidades que organizam o evento, ao lado do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e o governo do Estado, por meio da Agência de Desenvolvimento das Micro e Pequenas Empresas e Empreendedorismo (Aderes).
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 A entrada é gratuita e todos os cuidados para prevenção da transmissão do coronavírus (SARS-CoV-2) serão tomados, com distanciamento social, obrigatoriedade do uso de máscaras e higienização das mãos com álcool 70%. Entre as novidades, um espaço de degustação de queijos, cafés e cachaça, além da praça de alimentação com cervejaria e mariscos, entre outras delícias", destaca a Aderes.

Destaques que estão diretamente relacionados coma agroindústria familiar, conduzida essencialmente, como bem se sabe, pelas mulheres do campo, assim como as inovações relacionadas à agroecologia e à produção mais diversificada e saudável de alimentos.

Aliás, lembra Fabiana de Lucca, a própria agricultura "surgiu das mãos das mulheres, há muito tempo atrás". Secretária de Formação, Organização Sindical e Comunicação da Fetaes e coordenadora da Regional Sudeste da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), Fabiana ressalta a importância do duplo evento, como vitrine do trabalho da categoria de trabalhadores mais numerosa do Estado, responsável por 70% do alimento que chega às mesas capixabas e brasileiras.
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"Vitrine das artes, cores e sabores produzidos por homens, mulheres, juventude, terceira idade...todos os sujeitos que vivem no campo, com muito amor, carinho e dedicação". A valorização desses sujeitos, destaca, é importantíssimo, mas em especial as mulheres, que criaram a agricultura, como constatam os estudos antropológicos no mundo, que a recriam, de tempos em tempos, em suas variações mais modernas e sustentáveis, e que continuam a "se reinventar, apesar da tripla jornada de trabalho, sempre com ousadia e criatividade".

"Vou levar minhas massas, fubá, feijão, batata doce...tudo o que a gente produz aqui na propriedade", conta a agricultora Elsa Rosa Falqueto, dos Produtos Bela Vista, em Venda Nova do Imigrante, na região serrana. Em sua sétima Feafes, Elsa constata a importância da iniciativa. "Consigo levar o produto direto para o consumidor e trazer o consumidor para o turismo aqui da roça. Da minha varanda tem uma vista linda pra Pedra Azul e a pedra do lagarto", conta.

Também da região serrana, em Afonso Cláudio, Celia Pereira Soares dos Santos é diretora do sindicato de trabalhadores rurais local e também mantém uma produção rural familiar. No seu caso, cafés especiais da marca Montanhas Recanto Alto.
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"Muitas vezes o homem que é mais visto no trabalho da roça. Eu noto aqui na minha comunidade, quando tem alguma reunião, alguma capacitação, quem aparece é o homem, a mulher fica cuidando da casa e dos filhos. Mas é a mão da mulher que faz muita diferente na produção, é um cuidado especial. Eu tenho produção de café especial. A parte da produção, a maioria quem faz sou eu. A gente tem um capricho a mais. Desde a panha até o produto final", descreve.

Toda essa presença feminina fortemente capilarizada, do ponto de vista histórico, econômico e geográfico, não se reflete na dimensão política. "Quem está na produção da agroindústria são as mulheres. As mulheres produzem desde o artesanato, o biscoito, o pão, o pó de café. Elas fazem, mas na hora de vender são os homens, e as mulheres mal veem a cor do dinheiro, ficam dependentes do marido. Nas representações políticas e sindicais, também ficam invisibilizadas. É um grande debate que precisa ser feito. Não precisava ser assim, poderíamos unir as mulheres no debate sindical", avalia a secretária de Mulheres da Fetaes, Maria Augusta Buffalo.

"Meu objetivo é trabalhar para que as mulheres tenham liberdade, independência financeira e sejam valorizadas na importância que elas têm na agricultura familiar. Elas não ajudam o marido, elas fazem o trabalho de casa, cuidam da horta e ainda trabalham na roça", reforça.

A Feafes e a Femtru, reafirma, são vitrines importantes, mas, especialmente este ano, refletirão o retrocesso que o país enfrenta na defesa dos direitos das mulheres e que a diretoria da Fetaes protagonizou em abril, ao decidir pela extinção da Secretaria a partir de 2022.

"A Secretaria da Mulher da Fetaes não participou em momento algum da organização da Femtru. Fico feliz que as mulheres que irão para a feira serão muito bem acolhidas, fico feliz com a oportunidade de exposição e comercialização dos produtos, de fazer negócios, expandir o trabalho. Mas é uma violência política essa exclusão e invisibilização. A Femtru nasceu em meio a um curso de formação com as mulheres da agricultura, que queriam um espaço de mais visibilidade para elas", relata.


De fato, as mulheres ouvidas por Século Diário não sabiam informar se haveria de fato a Femtru e o próprio evento ficou invisibilizado nas divulgações oficiais do governo e da Fetaes, como igualmente é esvaziado o caráter Reforma Agrária da Feafes. Aos visitantes, que a rica experiência seja vivida com um olhar atento voltado à construção de novos tempos, de maior visibilidade e independência das mulheres, em justiça ao seu verdadeiro lugar no mundo da Agricultura Familiar e do empreendedorismo saudável e sustentável.
 

SERVIÇO

16ª FEAFES e 3ª FEMTRU
Onde: Praça do Papa, Vitória
Quando: 16 a 19 de setembro (Quinta a Domingo).
Quinta e sexta-feira: 16h às 22h
Sábado: 10h às 22h
Domingo: 10h às 18h
Entrada gratuita.

Feira com sabor de saúde e dignidade para o campo e a cidade

Na Praça do Papa, Sabores da Terra aproxima consumidores e agricultores familiares. Entrada é gratuita, até domingo
https://www.seculodiario.com.br/meio-ambiente/feira-com-sabor-de-saude-e-dignidade-para-o-campo-e-a-cidade

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