Terça, 07 Mai 2024

Antes e depois dos protestos

De junho para cá, já faz quase dois meses que os protestos tomaram as ruas das principais cidades do país. No Espírito Santo, os primeiros manifestantes, cerca de 30 mil, puseram os pés nas ruas no dia 17 de junho. No dia 20, três dias depois, uma marcha histórica levou 100 mil para as ruas da Capital capixaba e o Espírito Santo foi outro a partir daquele momento.
 
A pesquisa CNI/Ibope, divulgada nesta quinta-feira (25), aferiu o quanto a poeira que levantou do asfalto afetou a imagem dos principais governantes do país. A presidente Dilma, como já revelaram outras pesquisas, continua absorvendo o impacto mais forte das ruas, na posição de chefe-maior do país. 
 
No comparativo de junho, a presidente tinha 55% de bom/ótimo e agora só tem 31%. A queda, afirmam os analistas, traduz a insatisfação das ruas. Esse fenômeno fica claro quando se analisa os dados do Rio de Janeiro. Entre os governadores, sem dúvida, Sérgio Cabral (PMDB) tem sido o principal alvo dos manifestantes. O resultado aparece na avaliação do governador fluminense, que é considerado bom/ótimo na opinião de apenas 12% da população. 
 
Enquanto alguns sentem o gosto amargo do asfalto, outros, caso do governador de Pernambuco Eduardo Campos, desfrutam de posição confortável na pesquisa CNI/Ibope. O presidenciável do PSB tem 58% de bom/ótimo. O índice é quase seis vezes superior ao do colega fluminense e exatamente o dobro do governador capixaba Renato Casagrande. 
 
Aliás, outro socialista, o governador de Fortaleza Cid Gomes, também detém a terceira melhor avaliação de bom/ótimo (40). 
 
Casagrande, que tem 29% de bom/ótimo, se consideramos a média geral que foi 28% nesse quesito, está regular. Entretanto, em relação ao aproveitamento de Cid e Campos está bem abaixo do aceitável. 
 
A pesquisa traz leituras interessantes para o xadrez político de 2014. Dilma, quando analisar os dados da pesquisa, vai constatar que sua maior reprovação é no RJ e ES, respectivamente, 19% e 21% de bom/ótimo. 
 
Esse baixo índice deve ser mais em decorrência da mudança no sistema de partilha dos royalties do petróleo – que afetaria drasticamente esses dois estados -, do que necessariamente da insatisfação das ruas. Não que a rua também não tenha pesado, mas as iminentes perdas com os royalties podem ter sido mais decisivas para a impopularidade.
 
Talvez em função disso, somente 34% dos capixabas (a segundo pior marca) aprovam a maneira da presidente governar. Isso também pode explicar por que só 37% confiam na presidente. Quesito que Casagrande também não vai muito bem. Menos da metade dos capixabas (46%) confia no governador Renato Casagrande.
 
Se Casagrande analisar a pesquisa poderá tirar algumas conclusões: mesmo que Eduardo Campos desista de disputar as eleições para presidente, o PSB, olhando pelos números, teria dificuldade para construir um palanque para Dilma no Estado. Ela, por sua vez, talvez se sentiria mais confortável e segura no palanque do senador Magno Malta (PR), caso ele se lance. O republicano, indiscutivelmente, tem bom trânsito nas classes mais populares, justamente a faixa que Dilma tem melhor aceitação no Nordeste do país, mas não aqui.
 
Segundo ponto, se o governador pernambucano encampar o projeto de concorrer à presidência, Casagrande, que recentemente declarou que o colega “ainda” não estava preparado, precisará rever seus conceitos. Hoje já existe uma adesão muito grande dentro do PSB à candidatura de Campos, projeto que é rejeitado por Casagrande, que sempre defendeu a manutenção da aliança com o governo federal. Resta saber se ele ainda manterá essa posição quando se deparar com uma nova queda de popularidade da presidente. 
 
O terceiro aprendizado que Casagrande pode tirar dos dados do CNI/Ibope é com relação às manifestações de rua. O governador, depois dos violentos confrontos da última sexta (19), vem intensificando o discurso da criminalização dos movimentos. De acordo com a pesquisa, porém, metade da população é a favor dos protestos, e outros 39% também aprovam as manifestações desde que não haja violência. Somados, esse índice representa quase 90% dos entrevistados. 
 
Um quarto ponto que o governador deveria olhar com carinho, é o que diz respeito à qualidade do serviço público. Embora o dado da pesquisa não detalhe esse quesito por estado, no geral, ele bate com a pauta das ruas. 
 
Segurança, saúde e transporte públicos foram considerados os piores serviços públicos em termos de qualidade. O dado que confirma a má qualidade dos serviços pergunta ao entrevistado se o governador e sua equipe utilizam mal/ou muito mal os recursos públicos. Pasmem, 76% dos capixabas reprovaram o governo e seu secretariado nesse quesito. 
 
A própria percepção da população, não precisava nem de pesquisa para chegar a essa conclusão, reprova a qualidade dos serviços públicos – nada melhor que o usuário para avaliar a qualidade do serviço no dia a dia.
 
A população que enfrenta filas nos postos de saúde, nos hospitais, sofre um trauma diário com a violência iminente das ruas e paga caro para se espremer no transporte público sabe, melhor que ninguém, em quais áreas o governo vai mal. 

Veja mais notícias sobre Colunas.

Veja também:

 

Comentários:

Nenhum comentário feito ainda. Seja o primeiro a enviar um comentário
Visitante
Terça, 07 Mai 2024

Ao aceitar, você acessará um serviço fornecido por terceiros externos a https://www.seculodiario.com.br/