Segunda, 06 Mai 2024

Confissão de culpa

 

Nessa quarta-feira (24), as comissões de Meio Ambiente e Saúde da Assembleia Legislativa, pressionadas por organizações da sociedade civil, promoveram uma audiência pública para discutir a poluição do ar na Grande Vitória. 
 
Os representantes das entidades ambientais, que aguardavam ansiosos a oportunidade de ficar frente a frente com os interlocutores do governo do Estado, saíram frustrados da audiência. 
 
Os ambientalistas já davam como certa as ausências das poluidoras. Afinal, os vilões do pó preto não teriam como explicar os danos causado há décadas à saúde da população e ao meio ambiente. Isso ele fazem bem por meio de impecáveis campanhas publicitárias, mas cara a cara são outros quinhentos.
 
Os representantes da sociedade civil só não esperavam tomar um "bolo" dos secretários de Estado da Saúde e Meio Ambiente, que não deram as caras na audiência. Pior, além de não mandarem representantes, enviaram recados com desculpas esfarrapadas.
 
A secretária de Meio Ambiente foi direta. Patrícia Salomão mandou dizer que está de saída da pasta, sendo assim, na avaliação dela, não teria sentido participar da discussão. Que coisa! Fosse para assinar um licenciamento ambiental, com certeza seria mais solícita. Mesmo que fosse sua canetada derradeira. 
 
O presidente do Instituto Estadual do Meio Ambiente (Iema), Cláudio Denicoli dos Santos, usou a velha desculpa de "problemas de agenda".  Segundo ele, outros compromissos o impediram de comparecer. "Quem outros compromissos" seriam mais importantes que uma audiência pública para discutir com a sociedade um problema que está matando as pessoas?  
 
É difícil avaliar qual das desculpas é a pior. Isso também é o que menos importa agora. O que se extrai dessas ausências é que existe um descaso do poder público em encarar o problema da poluição causada pela Vale e ArcelorMittal na Grande Vitória. 
 
Não existe outra explicação plausível para as ausências, a não ser deduzir que os representantes do governo não foram simplesmente para tentar proteger as poluidoras.
 
Como não podia ser diferente, os militantes da sociedade civil ficaram indignados com as ausências do poder público. Marcos Delmaestro, da SOS Espírito Santo Ambiental, resumiu bem a falta de compromisso do governo.“É inadmissível o poder público não estar aqui na Casa do povo para ouvir o povo”, protestou. 
 
Para não dizer que a audiência foi perdida, pois era exatamente essa a intenção dos faltantes, o deputado estadual Cláudio Vereza (PT), da Comissão da Saúde, fez um relato gravíssimo sobre os efeitos da poluição na vida de sua família. 
 
Ele revelou o quadro de saúde dos seus cinco filhos, todos acometidos por doenças respiratórias ao longo de suas vidas. Palavras de Vereza:  “Era eu passar o dedo na varanda em Aribiri, onde morávamos, para ver o pó preto. Na Grande Vitória, é certo que crianças de até três anos de idade terão problemas respiratórios”, sentenciou.
 
Esse testemunho do deputado, somado a tantas outras evidências - muitas apoiadas em dados científicos - confirmam os males causados pela poluição da Ponta de Tubarão à saúde da população da Grande Vitória. 
 
As ausências do poder público e das poluidoras podem ser interpretadas como uma confissão de culpa. 

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