Domingo, 05 Mai 2024

Desproporção

 

Há anos verdadeiras caravanas se deslocam dos pontos mais longínquos do Espírito Santo em busca de atendimento médico na Capital. Os pacientes percorrem centenas de quilômetros não por capricho ou desejo de fazer turismo, mas como última e única alternativa para ter acesso à porta cada vez mais estreita da saúde pública. 
 
Esses moribundos em busca de tratamento médico, muitas vezes, perdem suas vidas a caminho do socorro, vítimas de acidentes nas perigosas BRs que cortam o Estado. Nessa segunda-feira (18) houve mais um acidente. Uma van da Prefeitura de Mantenópolis, que transportava 15 pessoas para Vitória, ficou no meio do caminho. Resultado: os doentes “ganharam” mais uma enfermidade em função do acidente. Uma pessoa morreu. 
 
Acidentes como esse já se tornaram corriqueiros. Apesar dos riscos, os moradores do interior não têm outra opção: ou se arriscam nas estradas ou ficam à míngua em suas cidades.
 
Uma pesquisa do Conselho Federal de Medicina – “Demografia Médica no Brasil” – mostrou a desproporção que existe hoje na distribuição de médicos no País. Simplificando os dados do estudo: sobram médicos nas capitais e faltam no interior. 
 
O Espírito Santo é justamente o Estado que ostenta a maior desproporção. Enquanto Vitória detém a melhor relação média nacional de médicos por habitantes: 11,6/1.000, o Estado tem apenas 2,1/1.000.
 
Quando analisamos os números absolutos a distorção fica mais evidente. Quase a metade dos médicos (3.838) do Estado está fixada na Capital, que tem 10% de toda a população do Estado. Ou seja, 50% dos médicos atendem 10% da população. Os outros 50% atendem os mais de 3 milhões de habitantes, o que baixa a média de um médico para cada mil habitantes – um dos piores índices do Brasil. Isso explica o êxodo da população do interior rumo à Capital. 
 
Por que os médicos preferem se fixar nos grandes centros em detrimento do interior? As respostas são variadas, vão de argumentos pessoais a vantagens financeiras. Mas fazendo um apanhado, a questão financeira acaba falando mais alto. 
 
Na Capital e nos municípios da Grande Vitória, a remuneração paga pelas prefeituras “mais ricas” acaba sendo mais vantajosa. A Prefeitura de Montanha, por exemplo, não pode pagar o mesmo salário oferecido pela Prefeitura de Vitória ou de Vila Velha. Basta comparar o orçamento dos municípios. 
 
Sem falar que na Capital o médico tem mais opções de mercado. Ele pode montar um consultório e complementar sua renda com um emprego público. Na Capital ele também terá mais consultas se decidir se associar a um plano de saúde. Obviamente, é na Grande Vitória que se concentra a maior fatia de clientes de planos de saúde. 
 
Há ainda muitos médicos que alegam que preferem as capitais porque são nelas que estão as melhores oportunidades de desenvolvimento profissional: cursos de especialização, residência em grandes hospitais, recursos laboratoriais etc.
 
Diante do quadro desalentador, resta ao Estado encarar o desafio de levar a saúde a todos os cidadãos. No seu programa de governo, entre outras promessas, Casagrande disse que iria descentralizar a saúde com a microrregionalização; com a estruturação e fortalecimento da rede de atenção primária; e com a organização dos sistemas integrados de serviços de saúde. Medidas que seriam fundamentais para oferecer um atendimento digno à população do interior do Estado e que também poderiam tornar mais atraentes as oportunidades de trabalho fora do eixo da Capital. 

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