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Ecos que nos incomodam

Esta semana eu escrevi no comentário de um jornal de grande circulação nacional, após a vergonhosa votação protagonizada pela Câmara dos Deputados, quando um deputado, condenado na última instância a 13 anos de reclusão, teve o privilégio de deixar o cárcere e voltar a sentar-se na cadeira parlamentar para ver seus companheiros rejeitarem a cassação de seu mandato: “Esse Congresso não me representa”.
 
Penso que esta deve ter sido a reação de nove em cada 10 brasileiros quando ouviram que o Congresso Nacional continua usando ferramentas como o voto secreto e a ausência das sessões para manterem o estado em que as coisas se encontram, o que causa-nos indignação e sentimento de impotência. Dia após dia, as instituições republicanas nos decepcionam mais e mais, com decisões covardes e prepotentes.
 
O que ouvimos, lemos e vimos esta semana, acerca do deputado federal , condenado por crime comum e mantido no cargo pela benevolência de seus pares, fez um incômodo eco em nossos ouvidos e mentes. Esta é uma das maneiras como as informações nos chegam e estabelecem nossa forma de pensar.
 
Coincidentemente, ao reunirmos nosso grupo semanal de estudo no filósofo Jim Rohn, o primeiro ponto que encontramos foi justamente “torne-se um bom ouvinte”. Precisamos desenvolver a habilidade da audição seletiva. É como selecionar sua estação de rádio. Você passa rapidamente pelas demais até achar a que deseja ouvir. As mensagens banais devem ser descartadas.
 
Infelizmente, informações como a desta semana, da política nacional, custam a ser suplantadas em nossas mentes, onde tudo o que ouvimos é registrado em nossos computadores mentais. Recomenda-nos o filósofo a não ouvirmos por muito tempo o que não está conectado com as nossas metas. Isso é importante no processo de acrescentar novas informações ao nosso acervo, de tal modo que as informações antigas, que nos limitam, vão tomando cada vez menos espaço em nosso armário de memórias.
 
Para isso, devemos escolher ouvir o que nos acrescenta valor.  Um princípio básico da liderança é a comunicação eficaz. Antes de comunicar precisamos aprender a ouvir seletivamente, porque comunicamos, basicamente, o ouvimos. E  foi assim que reproduzimos, várias vezes, a indignação causada pela decisão da Câmara do voto secreto e da omissão.
 
Reclamamos que não conseguimos nos comunicar com as gerações mais jovens, mas também não nos preocupamos em ouvir o que os nossos filhos ouvem, não lemos o que eles leem, e por isso não conseguimos com eles uma comunicação eficaz.
 
Se queremos alcançar o mesmo sucesso de homens e mulheres que chegaram lá, que alcançaram padrões que almejamos para nossas vidas, uma boa dica é ler todos os livros que eles escreveram. Dizem os especialistas que todos os livros que nos trazem algum valor já foram escritos. Com as histórias das pessoas que superaram os desafios e atingiram seus objetivos.
 
Podemos reorganizar a nossa vida com os conselhos dessas pessoas, que já sabem o caminho. E a questão é: nos últimos três meses, quantos livros nós lemos? Pesquisas demonstram que o índice de leitura espontânea no Brasil é de pouco mais de um livro por ano. Na Colômbia, é de 2,2 livros e na Espanha o índice é superior a 10 livros por ano.
 
Lemos muito menos que nossos vizinhos de continente Argentina, Chile, Uruguai e até a Colômbia. É sempre assim: todas as vezes em que vamos buscar índices de qualidade, nos igualamos aos piores indicadores de nações subdesenvolvidas. E talvez o sejamos mesmo, apesar da economia.
 
Se abominamos os efeitos e nada fazemos para eliminar as causas, nos aproximamos da tolice. O livro que não lemos, afirma Jim Roh, não poderá nos ajudar. Então, se queremos mudar as causas para obter melhores resultados, devemos começar as mudanças por nossas próprias vidas.
 
 Há quem reclame do preço dos livros, mas já imaginaram o preço de não lê-los? Até porque quem não lê porque não quer terá o mesmo destino de quem não lê porque não pode: a ignorância. Então, não estamos mudando o País de ignorantes que somos, talvez por isso nos esbofeteiem, moralmente, e nada fazemos. Precisamos vencer essas limitações auto-impostas de não ter o hábito de leitura.
 
Que nada fique entre nós e o livro que vai mudar nossa vida. Um pouco de leitura a cada dia causará grande impacto. Se não dedicarmos algum tempo à leitura diária, logo a ignorância ocupará essa lacuna.
 
Para termos uma vida melhor, precisamos ser pessoas melhores. A leitura é importante degrau no desenvolvimento de uma filosofia pessoal sólida. Um dos princípios básicos para o sucesso e a felicidade.
 
Um dos conselhos do filósofo pode parecer coisa de adolescente, mas é um hábito de pessoas bem sucedidas de sociedades desenvolvidas: manter um diário pessoal, onde possamos reunir as observações e descobertas sobre a vida, sobre as pessoas e acontecimentos que nos tocaram.
 
Isso traz grandes benefícios. Lembro-me até hoje do dia em que o Brasil depôs um Presidente corrupto, no período democrático, e do assassinato de uma jovem atriz na mesma ocasião. Dois fatos, duas tragédias, que impactaram a vida de milhões de pessoas.
 
Há dois grandes benefícios no diário pessoal. O primeiro, é que podemos, no futuro, revisar as experiências de hoje, com seus detalhes e emoções. O passado bem documentado guia nossas decisões de hoje, que levarão a um amanhã melhor.
 
Por exemplo: se tivéssemos o hábito de registrar em um diário os fatos que mais nos afetam, certamente teríamos registrado nele, nesta semana, a excrescência da votação da Câmara dos Deputados, com os nomes daqueles cujas atitudes abominamos, para que em 2014, na hora de votar, pudéssemos fazer uma revisão no nosso diário e não depositarmos mais neles o nosso voto de confiança. Mas como, praticamente, ninguém fez isso, é bem provável que a maioria deles retorne, triunfalmente, ao Planalto Central – rindo de nossa cara.
 
O cérebro grava tudo, é verdade, mas não dá para lembrar todos os detalhes. O diário pessoal registra os detalhes e evita que repitamos os erros. Sem o registro para revisão futura, as emoções desse momento vão para um canto obscuro da mente.
 
O segundo grande benefício é que o ato de escrever nos faz pensar com objetividade sobre as nossas ações. O fluxo de informações diminui. Tudo, os fatos e acontecimentos, se fecham e solidificamos a nossa filosofia pessoal, que orienta o registro escrito de nossas experiências. A disciplina de manter um diário desenvolve a nossa capacidade de nos comunicarmos com mais eficácia.
 
A morte do Presidente Kennedy, nos Estados Unidos, estava registrada nos diários de grandes homens de sua época. Anotações que, mais tarde, serviram de base histórico para importantes documentos produzidos.
 
Eis aí um hábito que nos leva a níveis mais elevados de realização. Pequenas disciplinas, grandes realizações. Tudo se acumula. Pequenos erros ou pequenas disciplinas. Nem sucesso e nem fracasso são cataclísmicos. O uso de um diário é parte importante nessa peça fundamental do quebra-cabeça da vida chamada filosofia pessoal.
 
O diário pessoal possibilita documentar os detalhes e reorganizar a jornada, desenvolver melhores hábitos de pensamento, eliminar os valores pobres, tomar decisões ricas; solidificar os fundamentos da vida.
 
Precisamos de melhores lideranças em todos os setores da vida nacional. E melhores lideranças nascerão da deliberação de cada um de obter desenvolvimento pessoal crescente e progressivo. Assim, aprimoramos nossa vida e a vida dos que nos cercam.
 
Se você leu até aqui, já é um bom começo.
 
 

José Caldas da Costa é jornalista, licenciado em Geografia. Contatos: [email protected]

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