Segunda, 29 Abril 2024

?? espera de um milagre

 

A cada nova denúncia a situação de Theodorico Ferraço se complica ainda mais. As duas últimas, feitas pelo irmão de Norma Ayub e pela ex-vice-prefeita de Itapemirim implicaram de vez o presidente da Assembleia Legislativa no mar de lama desvelado pela Operação Derrama. 
 
Nessa terça-feira (22), a classe política, sobretudo os deputados estaduais, aguardavam com grande expectativa o depoimento de Ferraço. Eles já tinham adiantado que Ferraço não merecia ser julgado precipitadamente, que ele tinha direito ao contraditório. E continuaram apoiando a reeleição do deputado do DEM. 
 
O problema é que o tal depoimento de Ferraço foi flácido para convencer os colegas de parlamento a manterem a palavra hipotecada na versão do presidente da Assembleia. O deputado, sem ter como rebater as denúncias de Yamato Ayub (irmão de Norma) e de Sandra Peçanha Marvilla (ex-vice prefeita de Itapemirim), passou a atacar as testemunhas, as desqualificando. 
 
Para desqualificar o depoimento de Sandra, ele alegou que o desalinhamento político da ex-vice com a sua mulher azedou a relação das duas, e Sandra passou a perseguir Norma. 
 
Com relação a Yamato, Ferraço não apresentou dados consistentes para rebater as denúncias do cunhado, todas muito bem escoradas. Sem argumentos, Ferraço desferiu ataques de cunho pessoal a Yamato, se referindo até a uma ex-namorada do advogado, que o o teria abandonado por causa de sua família, que não aceitava a relação. 
 
A tentativa de desqualificar Yamato foi na contramão das provas que o cunhado levantou contra Ferraço, bastante sólidas. Não bastasse, se sentido ofendido pelo teor do depoimento de Ferraço, Yamato falou com exclusividade a Século Diário nesta quarta-feira (23), para novamente ratificar as denúncias já feitas à Justiça e acrescentar algumas informações ainda mais graves sobre a relação de Ferraço e o esquema montado com CMS Consultoria em Itapemirim.
 
Durante as quase três horas em que passou na Redação do jornal, Yamato narrou todo o esquema armado pelo presidente da Assembleia com a CMS. Entre as passagens mais relevantes da entrevista, o advogado reafirmou que Ferraço sempre mandou e desmandou na prefeitura de Itapemirim. Ao contrário do que dissera Ferraço em depoimento à polícia, era ele sim o verdadeiro "chefão" do esquema. Yamato disse que Ferraço manipulou Norma o tempo todo e que era ele o prefeito de "fato", embora ele também tenha negado isso no depoimento: disse que era "só um peão".
 
Yamato, que é auditor fiscal e delegado da Receita Federal aposentado, disse também que alertou a irmã sobre as irregularidades que o cunhado promovia na prefeitura. "Tenho ojeriza à corrupção e tenho nojo de corruptos”, disse o advogado, que em 2002, chegou a criar uma associação para combater a corrupção no município. Ele alegou que a única alternativa, já que sua irmã não quis ouvi-lo, foi denunciar o esquema às autoridades. 
 
Nessa passagem da denúncia à Promotoria ele relata sobre outra situação esdrúxula. Yamato afirma que a promotora alegou que não podia dar andamento à denúncia porque estava sofrendo "grande pressão política".  “O esquema com a CMS é alvo de denúncia adormecida em berço esplêndido na Promotoria (...)", declarou o advogado em depoimento à Justiça.
 
Yamato acrescentou que, ainda em 2005, logo após ele ter sido convidado pela irmã para integrar a equipe da prefeitura, Ferraço chegou a propor uma sociedade. "Ele queria montar uma empresa para dar assessoria aos municípios. Yamato não quis afirmar se assessoria seria nos mesmos moldes da CMS, porque nunca chegou a aprofundar a proposta de Ferraço.
 
Outra passagem reveladora da entrevista desmente Ferraço, que havia dito que mal conhecia a CMS, de Cláudio Salazar. Yamato afirmou que Ferraço conhecia Cláudio e a CMS desde 2005 e manteve relação estreita com a empresa até pouco tempo. Em dezembro do ano passado, segundo o advogado, Ferraço tentou articular duas reuniões com o prefeito eleito de Itapemirim, Luciano de Paiva Alves (PSB), que derrotou o candidato apoiado pelo presidente da Assembleia, Estevão Machado (PMDB), mas não teve exito. "Aconselhei o Luciano a não participar da reunião. Alertei que o Ferraço poderia estar armando alguma cilada para ele", disse Yamato. 
 
O advogado disse ainda que o então secretário de Finanças Eder Botelho (preso na Derrama) – nomeado diretor financeiro da Assembleia pelo deputado (já exonerado)  – entrou no circuito e conseguiu a reunião com o futuro secretário de Finanças de Luciano. Na reunião, Botelho pôs o secretário frente a frente com o empresário Cláudio Salazar e insistiu para que o contrato com a CMS em Itapemirim fosse mantido pelo atual prefeito. Segundo Yamato, o grupo de Ferraço estaria de olho nos R$ 800 milhões em cobrança de imposto das empresas de petróleo. De acordo com o contrato da CMS, a consultoria teria direito a 15% a título de honorários, o que daria um valor próximo a R$ 120 milhões de ganhos. “O Eder era homem de confiança do Ferraço. Ele fazia a ligação entre Ferraço e a CMS”, apontou o advogado. 
 
Nesta sexta-feira (25), o procurador-geral de Justiça Eder Pontes deve apresentar o parecer sobre as denúncias dos acusados na Derrama, sobretudo a referente a Ferraço. Se Pontes carimbar as acusações e oferecer denúncia à Justiça contra Ferraço, é como se os aparelhos que o mantêm respirando fossem abruptamente desligados. 
 
Guerreiro, Ferraço tenta reunir suas últimas forças para manter acesa a fé à espera de um milagre. 

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Terça, 30 Abril 2024

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