Domingo, 19 Mai 2024

O DNA das ruas

A partir do momento em que as manifestações das ruas subiram as escadas da Assembleia Legislativa para "empurrar" a votação do projeto de decreto legislativo que propõe o fim da cobrança do pedágio da Terceira Ponte, uma crise sem precedentes se instalou no Palácio Anchieta. O governador Renato Casagrande (PSB) viu ruir um dos pilares de sustentação da chamada base aliada, com a decisão da bancada do PT de apoiar o projeto do deputado Euclério Sampaio (PDT). 
 
Com a posição da bancada petista, o governo viu abrir uma fenda de fora a fora na intocável unanimidade que dividiria o parlamento estadual em dois blocos: os deputados contra e os a favor do projeto.
 
Da histórica sessão da Assembleia do último dia 2, que culminou com a ocupação do legislativo estadual - onde os manifestantes permanecem entrincheirados -, até há algumas horas, o assunto Terceira Ponte representava sinônimo de crise dentro do Palácio Anchieta. Inesperadamente, porém, as manobras palacianas, articuladas com o Tribunal de Justiça, Ministério Público e Tribunal de Contas, acabariam abrindo uma porta, estreita, é verdade, para Casagrande tentar escapar. Bastante desgastado, é importante que se diga.
 
As instituições se encarregaram de fazer o serviço "pesado" para o governador. O Ministério Público "desenterrou"  a ação que virou ultimato para a Rodosol nas mãos da Justiça. O TCE surgiu como fiel da balança para fazer a "devassa" no contrato da empresa. 
 
A decisão devastadora da Justiça, que deu 24 horas para a Agência Reguladora de Saneamento Básico e Infraestrutura Viária do Espírito Santo (Arsi) arbitrar um novo valor para a tarifa do pedágio, foi anunciada pelo procurador-geral do órgão ministerial, Eder Pontes, com pompa. Ele fez questão de requerer a autoria da antiga ação, que jazia empoeirada em algum dos seus "escaninhos secretos". 
 
 
Assim como Pontes, os presidentes do TJ, Pedro Valls Feu Rosa, e do TCE, Carlos Ranna, também reivindicam a paternidade. Todos querem ser identificados pela sociedade como "os justiceiros da Terceira Ponte". 
 
Até Casagrande, quem diria, que até outro dia afirmava que não mudaria uma vírgula no contrato da Rodosol, classificou a decisão da Justiça como "equilibrada". Também pudera, foi dele a iniciativa de reunir os cabeças das três instituições para articular uma saída para crise.
 
Caso a tarifa seja reduzida ou até por um milagre derrubada pela Assembleia, a paternidade dessa "criança" já é sabida: ela foi gestada e parida no asfalto, na efervescência dos protestos de rua, não nos gabinetes confortáveis dos que agora, oportunamente, reivindicam a paternidade de um rebento que nunca lhes pertenceu. 

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