Sexta, 26 Abril 2024

Os bois expiatórios

 

 
 
Sem qualquer sombra de sectarismo, o julgamento do Mensalão tende a ser reconhecido como um vigoroso puxão de orelhas na presunção petista da impunidade na prática escancarada do jogo sujo na política.
 
Numa retrospectiva histórica, porém, isso pouco pesará pois, segundo consta na crônica parlamentar, sempre houve compra de voto,  propina e suborno em todos os escalões da república brasileira – a diferença é que tudo era feito de forma camuflada, enquanto o Mensalão foi marcado por um certo descaramento.  
 
O problema do Mensalão nasceu do arrependimento, do inconformismo ou do desejo de vingança do deputado Roberto Jefferson, um obeso que virou magro e acabou contraindo um câncer no pâncreas, a víscera responsável pelo processamento das enzimas do corpo humano. Impossível distinguir qual o caso mais complexo – se o médico, o moral ou o político.
 
A partir da denúncia histriônica de Jefferson, que visou especialmente a figura do ex-ministro José Dirceu, o caso resultou no processo que já dura sete anos e cujo julgamento ultrapassa os dois meses, tendo consumido os meses de agosto e setembro.
 
No fim das contas, tudo se encaminha para a punição de três dúzias de réus que representam a ponta do iceberg da corrupção nos meios governamentais brasileiros. Continuam livres milhares em todas as esferas políticas, o que nos permite dizer: enquanto não for reformada a legislação eleitoral, nós brasileiros continuaremos a ver o joio misturado ao trigo.
 
Quanto às conseqüências do processo, não há dúvida de que o PT emerge meio depenado, mas seu capital político permanece relativamente íntegro. Primeiro porque entre mortos e feridos o partido fez boas gestões na maior parte dos lugares que governou nos últimos 30 anos. Segundo porque o eleitorado pouco relaciona partidos aos políticos.
 
As condenações de figurões do PT e de figurinhas dos bastidores políticos respingam em Lula, pois foi em seu primeiro governo que estourou o escândalo. Na reta final do julgamento sobraram insinuações de que ele sabia de tudo, mas não houve acusações ou denúncias formais. Menos afetada ainda foi a figura da petista Dilma Rousseff, que substituiu José Dirceu na Casa Civil e sucedeu Lula na Presidência.    
 
Depois de tudo, resta esperar o julgamento soberano da História.  A impressão que fica é que muita água vai rolar por baixo dessa ponte onde passa boi, passa boiada, e passa também um monte de histórias malcontadas.
 
 
LEMBRETE DE OCASIÃO
 
“Tra veritá e busia, se vende la mercansia”
(Entre verdades e mentiras, se vende a mercadoria)
 
Provérbio italobrasileiro

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