Faltando pouco para as 10 da manhã, os quatro guardas da agência bancária confabulam sentados numa rodinha diante dos caixas expressos. Aproxima-se o horário do atendimento pessoal. Dentro de minutos as portas passarão a ser controladas, só cruzando na giratória quem descartar nos boxes diante dos guardas os instrumentos como chaves, celulares e tudo que, contendo metal, possa ser confundido com arma branca, preta ou vermelha.
Cresce o movimento de pessoas que chegam ao banco para conferir saldos e ver quantas contas poderão ser pagas. Todo mundo já se acostumou com a parafernália armada para proteger os bancos. Isso começou em 1969. Hoje os seguranças montam guarda na frente de drogarias, galerias, shopping centers e outros estabelecimentos. Seu objetivo é evitar ataques ao patrimônio.
Uma, duas, três perguntas giram nas cancelas eletrônicas:
1 – Quem paga o salário desses guardas uniformizados e monitorados à distância por um sistema de radiocontrole? OS CONSUMIDORES.
2 – Se o dinheiro guardado pelos bancos fosse melhor distribuído, seria necessário tamanho esquema de segurança? PROVAVELMENTE NÃO.
3 – Por que os bancos da nossa infância viviam de porta aberta e as filas eram pequenas e restritas a certos dias do mês? O MUNDO MUDOU.
Cinquenta anos atrás, a população mundial era de 2 bilhões de pessoas, metade das quais carentes de casa e comida. Hoje, com a população mundial na casa dos 7 bilhões, o número de famintos, sedentos e carentes está em 2 bilhões. Evoluímos ou retrocedemos? Outra pergunta cuja resposta cai no vazio.
Não é que queiramos voltar atrás, mas os avanços tecnológicos em todos os setores, inclusive na agricultura, não justificam tamanho descalabro, cevado pela “idolatria do dinheiro”, como disse o Papa Francisco em sua entrevista à TV Globo.
Sim, está tudo mais ou menos fora do lugar. Como ajustar as coisas de forma a implantar um mínimo de justiça e esperança num mundo melhor?
Se as igrejas se despojarem de suas riquezas, a humanidade terá dado importante passo à frente.
Se os políticos forem menos vaidosos e individualistas, outro passo.
Se os empresários forem menos vorazes, mais um passo.
E os professores menos acomodados…
Os policiais menos perversos…
Os jornalistas mais humanos.
Os engenheiros menos mecanicistas…
Ah, sim, e os médicos mais solidários, apagando a vergonhosa campanha contra o programa Mais Médicos.
Em cada país do mundo podemos capturar exemplos de justiça e paz social.
O imposto sobre as heranças cairia como maná na estrutura econômica brasileira.
E mais a tributação da propriedade imobiliária sem função social…
E a implantação de uma reforma agrária que garanta pão a quem tem fome e solidariedade aos deserdados da fortuna.
LEMBRETE DE OCASIÃO
“Considerando-se as informações utilizadas pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio/PNAD (agrupamentos ocupacionais de “vigilantes e guardas de segurança” e “guardas e vigias”), relativas à amostra expandida de 2005, chega-se a um total impressionante de 1.648.570 pessoas” (trabalhando com segurança privada no Brasil), ou seja, mais do que a soma de todos os corpos armados custeados pelo Estado.
André Zanetic, cientista político formado pela USP especializado no estudo do policiamento e segurança privada