Sexta, 03 Mai 2024

Quanto valem os talentos?

Não que a polêmica aberta pelo prefeito eleito de Vitória não seja razoável. Luciano Rezende (PPS) tem razão quando diz que é difícil atrair bons quadros para o poder público oferecendo salários abaixo do mercado. Afinal, durante a campanha ele prometeu que escolheria os membros de sua equipe com base na competência técnica e não por indicação política.



Quando fez a promessa, no entanto, Luciano já sabia que esbarraria no valor do salário pago pela prefeitura, mesmo porque ele também já foi secretário e conhece bem essa realidade. Nas últimas semanas, porém, ele passou a defender um reajuste de salários para os novos secretários.



Embora o aumento de salário seja considerado “tema tabu” entre a maioria dos políticos, a possibilidade de a proposta tramitar no apagar das luzes – faltando seis sessões para a atual legislatura se despedir – não pode ser descartada.



A ideia parece ter sido bem recebida por parte da Câmara. E já ganhou até alguns entusiastas, como o presidente da Comissão de Finanças da Câmara, Zezito Maio (PMDB), que já fez as contas do novo salário, que passaria de R$ 8 mil para 14 mil.



Até aí tudo bem. O prefeito eleito se queixa dos baixos salários e os vereadores mais “sensíveis” já articulam uma maneira de conceder o desejado aumento ainda antes do Natal. Aproveitando a benevolência que costuma caracterizar a data, os vereadores vão mais além, e já planejam aproveitar o embalo e dar um aumentozinho para o novo prefeito e vice. Custa nada, não é mesmo?



O problema todo nessa polêmica, que pode se alastrar para outras prefeituras da Grande Vitória, é que hoje alguns os secretários já ganham os cerca de R$ 14 mil sugeridos por quem defende o aumento.



Como exibe a reportagem publicada nesta quinta-feira (6), alguns secretários do prefeito João Coser (PT), provavelmente os mais importantes e/ou estratégicos, não ganham apenas R$ 8 mil.



É verdade que o Portal da Transparência ainda deixa bastante a desejar quando o assunto é transparência. Ou seja, é possível ver o milagre da multiplicação, mas o santo não conta como tudo foi feito.



Os dados mostram que alguns secretários recebem, sistematicamente, salários acima do valor base. O de Fazenda, por exemplo, vem recebendo mês a mês mais de R$ 14 mil. Isso acontece com outros secretários, provavelmente, os especiais, aqueles que não aceitariam ficar por apenas R$ 8 mil.



Outros, porém, teoricamente de secretarias menos expressivas, recebem rigorosamente os R$ 8 mil.



Antes de conceder aumento aos novos secretários, é preciso que os vereadores entendam os mecanismos utilizados por Coser, talvez legais – ninguém aqui está dizendo o contrário, mesmo porque essa informação não está discriminada no Portal -, para depois analisar se a proposta de reajustar os vencimentos deve ser votada com toda essa urgência. No português mais direto: no apagar das luzes.



O tempo exíguo para uma discussão, a falta de transparência no atual processo de remuneração e o caixa magrinho da prefeitura apontam que a hora não é apropriada.



Outra, o salário pode até ser baixo em relação ao mercado, mas quem deseja ingressar no serviço público precisa entender que os setores público e privado sempre guardaram e vão continuar guardando diferenças, por isso há uma denominação distinta.



Ninguém aqui também quer fazer apologia ao trabalho voluntário. Não é nada disso. Mas que o cargo público exige uma boa parcela de doação, não resta a menor sombra de dúvida. Sem clichê, ele sintetiza um misto de desafio pessoal e compromisso com a coletividade.



A última preocupação do próprio Luciano quando aceitou o desafio de governar Vitória, com toda a certeza, era o valor do contracheque no final do mês. Talvez esse seja um bom argumento para ele convencer os tais “valiosos talentos”.

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