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Quem sou eu, quem é você?

O tronco de uma árvore pode revelar a idade que ela alcançou, pela leitura dos círculos concêntricos que a natureza imprime durante o tempo em que ela vegetou. Alguns troncos, porém, têm o interior uniforme, que nada revelam. Também nós, humanos, pensantes e mutantes, podemos ser como o carvalho, cuja história vai ficando registrada em camadas contínuas; ou como o ébano, uma árvore que nada revela.
 
A ciência de ler essas linhas interiores tem o complicado nome de dendrocronologia, e tem mais utilidades do que nossa ignorância pode enumerar.  Pois não apenas a vida interior da árvore é revelada, mas também os eventos exteriores que a afetaram. Como um livro de registros, tudo fica  arquivado, esperando quem saiba decifrá-lo. Por exemplo, a história do clima – quando os anéis são largos e uniformes, cresceram em anos com boas  condições climáticas; quando são mais estreitos, ou até desaparecem, tiveram um ano de muito frio ou de longa estiagem.
 
O tronco de uma árvore pode revelar ainda o local de onde ela veio, o que pode ser útil para várias ciências – onde foi feito um navio, de onde vieram objetos artesanais, quando um quadro, um mural ou um painel foi pintado, quando uma casa foi construída.  Tudo que foi feito de madeira pode ser datado e localizado pela dendrocronologia. O exemplo mais famoso é um quadro da Rainha Maria, da Escócia, considerado uma cópia feita no século XVIII. O  estudo da madeira revelou que é um quadro autêntico, feito por um artista desconhecido no século XVI.
 
Nossas camadas – além das rugas no rosto – também revelam  fases que deixaram  marcas, sejam elas superficiais ou profundas, originadas por bons ou maus eventos. Mas tal como o ébano, há pessoas que não criam camadas, porque não mudam. Vivem uma vida metódica e o mais possível arraigada ao mesmo lugar, encerrada em estreitos limites. Não se afastam do lugar onde nasceram, mesmo que apenas emocionalmente. Têm  pontos de vista bem definidos, ideias solidamente cimentadas, opiniões fortes.
 
Como um carvalho com o tronco cheio de anéis, há pessoas com a alma cheia de camadas, constantemente em busca do próximo porto, da próxima estrada, do próximo aeroporto. Não se fixam em lugar nenhum, querem sempre alçar voo, tentar novas possibilidades, correr riscos, conhecer o desconhecido. Não se confinam a espaços exíguos, querem a amplidão. São pessoas com muitas vidas – camadas que a experiência vai sobrepondo constantemente.
 
Quem está certo, quem está errado? Melhor seria perguntar, quem está feliz com a vida que vive ou escolheu viver? E se não escolheu, quem se adaptou ou será sempre um peixe dançando na ponta do anzol? Ah, as inconstâncias da natureza humana – o gregário que não se afasta de suas origens sonha com o mundo além de sua janela; o aventureiro que procura mais uma fronteira, quer apenas retornar às suas raízes.
 
P.S. – O estudo dos anéis no tronco das árvores tem trazido controvérsias sobre o aquecimento global – alarmantes ou alarmistas? Provocado pela excessiva emissão de gás carbono, ou um evento climático natural, que de acordo com os anéis das árvores muito antigas, já vem ocorrendo na terra há mais de 1000 anos

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