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Vai ter polarização na política capixaba?

Aliados políticos de primeira hora de Paulo Hartung (PMDB) asseguram que não há mais volta: sua candidatura a governador está posta e ele não vai voltar atrás. Está costurando e construindo alianças para montar uma chapa forte e anunciar formalmente a candidatura pelo PMDB. É Paulo Hartung em busca da retomada de sua “longue durée” na política capixaba, que teria sido interrompida.
 
Salvo, portanto, o lançamento de uma terceira candidatura competitiva à governadoria, como a do senador Magno Malta (PR), apresenta-se no momento um quadro de forte polarização entre a virtual candidatura de Paulo Hartung e a já colocada candidatura à reeleição do governador Renato Casagrande (PSB). 
 
O quadro não chega a ser de conflagração, mas certamente é um quadro de fissuras e rupturas. A questão de fundo – poderíamos dizer que uma questão estrutural da política capixaba -, é a de que as estruturas sociopolíticas já não criam mais as circunstâncias favoráveis à política da unanimidade ou da unidade, expressões cunhadas pelos próprios políticos capixabas para designar o que chamo da política de “todos-com-todos”, de forte cunho e feitio oligárquico. Novas demandas da sociedade pedem passagem. Novas lideranças sociais e políticas pedem passagem.
 
A esta questão de fundo, soma-se uma questão também muito relevante: o ex-governador Paulo Hartung, ao fim e ao cabo, concluiu que o mandato do governador Renato Casagrande, apesar de contar com a presença e colaboração de aliados de primeira hora de Hartung, não constituiu forças e passagens para assegurar a “longue durée” das estruturas políticas do ex-governador. Repito: não se trata apenas de “preservar o legado”. Trata-se de preservar o grupo político, a rede de relações, e as opções programáticas. Se ficar mais quatro anos fora do poder, o grupo correrá risco de um processo irreversível de desidratação.
 
Mas trata-se , também, de tentar voltar ao poder para “surfar” na onda do crescimento das receitas estaduais com o ciclo dos royalties, se não houver reveses federativos, é claro. Não havendo reveses federativos, o perfil das receitas públicas capixabas sinaliza um ciclo de crescimento que o grupo de Hartung julga que pode ser mais sustentável do ponto de vista fiscal se o leme do barco estiver nas mãos dele. Não é à toa que o grupo de Hartung, com a ajuda da cobertura do jornal A Gazeta, bateu bumbo com o estudo recente dos técnicos e professores Ana Paula Vescovi, Haroldo Corrêa Rocha e Rodrigo Medeiros. Ali criou-se uma das raízes do iminente processo de polarização: “nós somos melhores gestores”, asseguram os integrantes do grupo de Paulo Hartung.
 
O pano de fundo parece ser este. Tocaram os tambores e deram sinais de se pintarem para “guerra”. Aí, veio a resposta rápida e corajosa do governador Renato Casagrande, anunciando logo a sua candidatura, demarcando o seu lado e território e também rufando tambores e distribuindo as pinturas para os rostos da “guerra”.
 
Em pouco tempo, mudou muita coisa no quadro político eleitoral capixaba. Primeiro, a posição firme e determinada do senador Ricardo Ferraço (PMDB) , abrindo caminhos para uma dissidência no terreiro do PMDB de Paulo Hartung e declarando seu apoio irreversível à candidatura de Casagrande. Em seguida, a manifestação de oráculo do ex-senador Gerson Camata (PMDB), pedindo que Paulo Hartung desse explicações de por que teria mudado de rumo e também manifestando o seu apoio à reeleição de Casagrande. E, para completar, a entrevista do ex-prefeito de Vitória, Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSDB), decretando o fim da possibilidade de unanimidade ou unidade na política capixaba. Tudo isto foi também permeado pelas atitudes erráticas do PT capixaba. Tudo isto culminou no ato de coragem do governador Renato Casagrande de lançar o seu grito particular de guerra.
 
Portanto, a polarização, neste momento, está posta. Parecendo um caminho sem volta. Agora, então, vem pergunta natural: e agora? Se as candidaturas principais estão postas, quais serão as movimentações até as convenções de junho e as definições das chapas e das alianças? Quem vai com quem? Já não é mais uma dinâmica de unidade ou unanimidade. Mas é certamente uma dinâmica de coalizões de governo e, principalmente, de poder. Sim, desde já está claro que as coalizões eleitorais mais viáveis serão aquelas que se formarem como coalizões de governo e de poder, para ganhar e para governar, com alianças políticas, sociais e empresariais. Do contrário, o próximo governo não terá força política para governar em ambiente de governança e governabilidade.
 
Cerebral e meticuloso, Hartung costura alianças municipais-locais nas searas de insatisfeitos com o governo estadual e nas franjas de oposições aos prefeitos municipais. Colhe, pelo que se tem noticia, bons resultados parciais. Ao mesmo tempo, procura atrair o PDT, uma das noivas mais cobiçadas, e trazer o DEM. Mas ao mesmo tempo não deixa de cortejar o PSDB, que pode ser a sua rota de fuga dos braços do PT. Com o PT, apesar dos esforços nacionais, a sua eventual aliança ficou mais difícil. Hartung não parece disposto a dar palanque para Dilma no Espírito Santo, e parte do PT não confia em Hartung como aliado.
 
Casagrande recebe apoio explícito de mais de dois terços dos prefeitos capixabas e de inúmeros partidos nanicos. Caminha para atrair ainda partidos médios e, ao mesmo tempo, conversa com o PSDB de Luiz Paulo, com o PDT do ex-prefeito Sérgio Vidigal e com o PR do senador Magno Malta. Com o PT, uma aliança é cada vez mais improvável. 
 
Quem vai com quem? No cenário do momento, o PT tende hoje a uma candidatura própria, para poder viabilizar o palanque para Dilma no Espírito Santo. Neste cenário, João Coser poderá ter que adiar a sua candidatura ao Senado da República e o PT vai ter que fazer um grande esforço para manter uma cadeira na Câmara dos Deputados e para manter uma bancada relevante na Assembleia Legislativa. A não ser que a hoje improvável aliança com o PMDB de Hartung venha a dar liga, ou que na undécima hora seja possível ir com o PR.
 
O PDT, na medida em que privilegia as candidaturas proporcionais, pode acertar-se com o PMDB de Hartung. Mas está a cavaleiro também para ir com Casagrande, embora esta alternativa seja mais improvável. De qualquer maneira, poderá manter e ampliar a sua força política no estado, sob a liderança do ex-prefeito Sérgio Vidigal.
 
As incógnitas do momento são o PR do senador Magno Malta e o PSDB. Se Magno decidir na última hora ser candidato a governador, a sua candidatura tem capacidade de levar as eleições para um segundo turno. Se, ao contrário, ele chegar a bom termo numa aliança com Casagrande, este ganha muita musculatura eleitoral. Já o PSDB, que começou isolado, hoje tornou-se também uma noiva cobiçada, ainda mais depois que Aécio Neves subiu nas últimas pesquisas. A questão, aqui, é saber qual será o destino de Cesar Colnago, que corria e corre o risco de não reeleger-se para a Câmara Federal. Aonde ele poderá ter maior expectativa de reeleição, com Hartung ou com Casagrande? E a candidatura de Guerino Balestrassi à governadoria? Ao mesmo tempo, no PSDB, a questão é saber se ele vai dar rota de fuga para Hartung, ou se vai emplacar uma candidatura ao senado de Luiz Paulo na chapa de Renato Casagrande.
 
Muita água ainda vai rolar nós próximos trinta dias. Até saber no final quem vai com quem. É temporada de fulanização na política capixaba. Mas seria bom os candidatos começarem também a explicitar quais são as suas ideias e quais são os seus projetos, não os projetos de poder, mas os projetos para o desenvolvimento regional. E não esquecerem que os projetos vitoriosos de poder e governabilidade passam também, e principalmente, por alianças com a sociedade civil.

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