Segunda, 20 Mai 2024

Aqueles Dois retorna ao Estado para curta temporada em Vila Velha

Aqueles Dois retorna ao Estado para curta temporada em Vila Velha
 
O conto de Caio Fernando Abreu Aqueles Dois é uma história banal sobre a relação de companheirismo e cumplicidade entre dois homens solitários, o que o torna tão especial é a forma como o escritor gaúcho narrou os encontros entre Raul e Saul. Dentro de um ambiente inóspito e burocrático de uma firma, os dois se reconhecem entre filmes, livros e músicas.
 
Assim como a obra do escritor, chama atenção a maneira como a Cia Luna Lunera reconta essa história. Sem eleger apenas uma interpretação, o elenco deixa os julgamentos e os entendimentos para o público. No palco são quatro atores, Cláudio Dias, Marcelo Souza e Silva, Odilon Esteves e Guilherme Théo, que interpretam cada um a sua maneira Raul e Saul, além de sugerirem os outros colegas da firma.
 
Na primeira parte do espetáculo, os atores recriam algumas cenas do livro. A primeira vez em que eles conversam sobre o filme Infâmia (1961), algumas festas que frequentaram e o cotidiano do escritório. A relação entre os dois é construída pouco a pouco até chegar às visitas constantes nas quais Saul tocava seu bolero preferido Tu me acostumbraste e Raul desenhava rostos enormes sem pupila, tudo isso regado a muito whisky e cigarros. 
 
Há uma constante  confluência de falas, nas quais Raul e Saul se perdem entre os quatro atores. Alguns momentos há dois Raul e dois Saul em cena e se vê o mesmo diálogo sendo feito duas ou três vezes, mas de maneiras totalmente diferentes. 
 
 
O cenário também dialoga com essa mistura de papéis. Há apenas um ambiente com muitos objetos como máquinas de escrever, monitores de computador, revistas, discos, livros, mesas, cadeiras, luminárias, uma televisão e um aparelho de som. Dependendo da forma como esses elementos são dispostos pelos atores, o mesmo ambiente representa a repartição, o quarto de Saul e o quarto de Raul.
 
O segundo momento do espetáculo é dedicado à narrativa de Caio Fernando Abreu, trechos completos do livro são ditos. Os quatros atores, entretanto, não declamam apenas o texto de Aqueles Dois, mas fazem dele uma conversa entre eles. Um diz uma frase e outro discorda ou concorda com ela e eles também questionam algumas cenas e depois as explicam. Um momento importante para compreender o narrador onisciente e detalhista do conto.
 
Dois momentos recebem bastante destaque no espetáculo. Um deles é a morte da mãe de Raul, quando ele precisa viajar para o velório. Nesses dias em que ficam separados, os dois companheiros reconhecem o quanto a relação deles é especial. Outra cena importante é o réveillon, que eles passaram juntos e depois de muitas bebidas e cigarros, decidem dormir nus, Saul na cama e Raul no sofá.
 
Os atores aproveitam a cena para se despirem do personagem e dedicarem o espetáculo da noite para alguém, assim como Caio Fernando Abreu, que sempre dedicava seus contos a uma pessoa querida. Nessa ocasião, o homenageado foi o rapaz Douglas Silva (DG), dançarino do programa Esquenta que foi assassinado no Morro do Pavão-Pavãozinho. O grupo também usa o momento para questionar as mortes de jovens negros e moradores de favelas.
 
O espetáculo então caminha para o seu final, que também discute a intolerância e o preconceito. Raul e Saul são vítimas dos colegas de trabalho, que julgam a relação dos dois e os condenam sem nenhuma empatia ou piedade. O final do livro e da peça fica aberto a múltiplas interpretações e apenas uma certeza: quase todos aqueles que ficaram na firma “tinham a nítida sensação de que seriam infelizes para sempre. E foram”.
 
Serviço
 
O espetáculo Aqueles Dois da Cia Luna Lunera (MG) será apresentado nesta sexta-feira (2) e sábado (3), às 20h, e no domingo (4), às 19 horas, no Teatro Marista Nossa Senhora da Penha, Rua Antônio Ataíde, 879, Centro, Vila Velha. Ingressos: R$ 5 (meia-entrada) e R$ 10 (inteira). Os ingressos serão vendidos duas horas antes do espetáculo, na bilheteria do Teatro do Colégio Marista.
 
Oficina
 
Além das apresentações, o grupo realizará a oficina Ator Criador, que revela as etapas de construção do espetáculo. Direcionada a atores, bailarinos e estudantes de teatro, maiores de 16 anos, a oficina será ministrada por Odilon Esteves, no sábado (3), 9h às 13h, na Academia de Letras Humberto de Campos, Rua 23 de maio, 83, Prainha, Vila Velha. Inscrições: www.cialunalunera.com.br

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