Sexta, 26 Abril 2024

Lugar comum

Lugar comum

 

A Índia sempre esteve de moda desde quando os Beatles descobriram o lugar propício para novas experiências de vida. Curioso que sempre os ingleses deram o primeiro passo em relação a ex-colônia. Nos anos 90 recapacitaram a região com inúmeros documentários e séries da BBC. 
 
Uma vez aceita como cultura exótica, os Estados Unidos passam a incluir em suas séries mais badaladas sempre um coadjuvante hindu. Se agora a Índia cresce e aparece como potência emergente do Brics acentua-se ainda mais a ressonância no mundo cultural. Viagem a Darjeeling (2007), Quem Quer Ser um Milionário? (2008) e agora O Exótico Hotel Marigold.
 
 
Entretanto o país ainda funciona como um mundo alheio e exótico (como suscita o título) e fora da realidade eurocêntrica é sujo e subdesenvolvido. Vários idosos em distintas situações se veem obrigados a irem a Índia, seja por problemas de saúde, econômicos, ou afetivos. Se encontram com um paradigma que pode mudar toda a concepção de vida. 
 
Todos ficarão hospedados no Hotel Marigold, gerenciado por Sonny (o mesmíssimo Jamal de Quem Quer Ser um Milionário?), que, além de ter que reerguer o antigo hotel, deve mostrar a família de sua noiva que tem condições para casar.
 
O diretor John Madden (Sheakspeare Apaixonado, 1998), chega na Índia assim como seus personagens, prepotente, preconceituoso e arrogante, como bom inglês. Utiliza sua câmera para mostrar a inferioridade do país, seja através de belíssimas cores exóticas, seja pela claridade excessiva do calor, seja pelo ruído constante da sujeira.
 
Os únicos personagens que tentam sair da cultura inglesa são justamente os marginais, o gay Grahan (Tom Wilkinson) e a pobre Evelin (Judi Dench), que não mostram dificuldade em se afastarem de um mundo tão purgativo. 
 
Até o ator inglês Dev Patel (Sonny ou Jamal) se passa por indiano, para não entrar mais no mundo cinematográfico hindu (diga-se de passagem que Bollywood é a maior produtora de filmes do mundo). Uma forma de utilizar a cultura exótica aproveitando-se de clichês e menosprezando o mérito da alteridade. Nada que a cultura (dita) desenvolvida não tenha feito desde sempre.
 
O começo dramático da trama já define bem o que se pode esperar de toda a narrativa, uma linearidade entrecortada pelos vários protagonistas, mas guiada de perto pelos veteranos Grahan e Evelin. Até mesmo o ambiente escuro/sóbrio típico da cultura se contrapõe à claridade/baderna da barbárie. 
 
A fotografia é o olho perverso do diretor que sujeita o alheio às formas predeterminadas de um cinema tão chato e velho como reflexo da população envelhecida e preconceituosa de um país que insiste num sistema político feudal com apoio a uma monarca caquética e simbólica de uma região prestes a cair a qualquer momento. 
 
A possibilidade de apreender algum ensinamento de uma cultura milenar se esvai na rigidez de uma trama tão simplória e banal, mesmo que para isso tenha que se repetir em quase uma dezena de histórias de cada personagem. 
 
A superficialidade ocidental mais uma vez se mostra superior (perceptivelmente falando) à diferença e complexidade de um oriente cada vez mais distante, mesmo que estejamos dentro dele, e vendo cada dia mais se aproximar de maneira acelerada, seja no cinema, tevê ou mesmo na vida cotidiana, com o aumento de restaurantes e produtos oriundos do outro lado do mundo.
 
Serviço
O Exótico Hotel Marigold (The Best Exotic Marigold Hotel, Reino Unido, 2011, 124 minutos)
John Madden
Fox
R$ 44,90 em média (a partir de 15/08)

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