Educadores de EJA pedem por inclusão digital para os excluídos do ensino remoto
Um estudo feito pelo Fórum de Educação de Jovens e Adultos (EJA) do Espírito Santo com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2018 indica que deve estar na EJA a maior parte do universo de 15% dos estudantes que a Secretaria de Estado de Educação (Sedu) afirma não ter conseguido contatar ao longo desses primeiros quatro meses e meio do Programa EscoLAR.
"São aqueles jovens que acumularam várias reprovações, que já ficaram fora da escola por muitos motivos há muito tempo e são jogados para o EJA", afirma o professor e membro do Fórum EJA/ES, Lucillo de Souza Junior. "Eles estão realmente alijados do acesso à internet e à televisão aberta com sinal digital. Conseguimos encontrar informações que mostram isso", relata. "Quando o Estado fala em abandonar essas pessoas, é um crime que ele está cometendo", repudia.As escolas já sabiam disso desde o início da pandemia do coronavírus, expõe Lucillo, e, no entanto, não houve qualquer ação por parte da Sedu para fazer a inclusão digital desse público tão significativo. "A nossa percepção é que se abriu uma porta para o fim da EJA. Até o final do ano vai dar baixa em várias matrículas. Menos turmas e menos escolas ofertando EJA na rede estadual, menos professores contratados. Estamos diante de uma situação que parece que o Estado está criando de propósito. Parece que é intencional acabar com a Educação de Jovens e Adultos. Nos surpreende ser o governo Renato Casagrande a fazer isso", critica o educador.
Como possibilidades de solução, Lucillo defende a inclusão digital como política de Estado, com doação de equipamentos, internet e formação. "Não basta o equipamento, também teria que disponibilizar o acesso à internet e à formação. Talvez reativar os telecentros, para que enviem o sinal de internet via rádio para as comunidades do entorno, já que a pandemia necessita de distanciamento social", propõe.
Sem inclusão digital, uma proposta feita pela plenária do Fórum EJA/ES foi o desatrelamento do calendário escolar do calendário civil, que o ano letivo de 2020 adentre o de 2021, e que seja todo com aulas presenciais. "Como vai computar aula remoto de aluno que não teve acesso a ela?", questiona.
Alguns alunos, conta Lucillo, não conseguem acessar porque o celular não dá conta das funções necessárias. E muitos, principalmente nas periferias e no interior, e no campo, não recebem sequer o sinal digital de televisão.
Todo esse cenário adverso, que é perturbador para toda a comunidade escolar, é ainda grave para a realidade da EJA. "Para a Educação de Adultos é muito desestimulador. Tenho preocupações muito grandes com o que vai acontecer com a educação de adultos em 2021", lamenta. "Tudo foi pensado para um público muito restrito. Não sei se o secretário [de Educação, Vitor de Angelo] pensou em fazer ajustes, mas o ajuste decente seria continuar o ano letivo em 2021", sugere.
A luta pelos ajustes e inclusões continuará e caso não seja atendida, os responsáveis terão que ser culpabilizados, afirma Lucillo. "Espero que quando a pandemia acabar, venha uma enxurrada de processos jurídicos contra os agentes públicos que estão institucionalização a exclusão".
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