Cadê a Suzano que estava aqui? Sumiu?
Virou pó a presença condutora da Suzano Papel e Celulose na elaboração dos Planos Municipais da Mata Atlântica? O apadrinhamento da papeleira ficou explícito durante lançamento nacional da iniciativa, em março, porém, passados três meses, ao divulgar o Acordo de Cooperação Técnica 001/2021, firmado com a ONG Fundação SOS Mata Atlântica, o governo do Estado nega qualquer participação da multinacional na empreitada.
Da parte do governo, assinam o termo a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Seama) e a Agência Estadual de Recursos Hídricos (Agerh). O objetivo é envolver os 78 municípios capixabas, cabendo aos três entes a "realização e/ou a viabilização de estudos e ações que possibilitem a elaboração dos Planos", além de "medidas de fortalecimento das Unidades de Conservação e o intercâmbio de informações sobre o monitoramento de qualidade das águas nas bacias hidrográficas de interesse dos partícipes".O secretário de Estado do Meio Ambiente, Fabricio Machado (PV), ressaltou que as prefeituras serão informadas quanto aos prazos para adesão ao projeto e que a meta é ter 100% dos municípios capixabas com seus respectivos planos prontos até o primeiro trimestre de 2023.
O formato divulgado agora é bem diferente do que foi apresentado na live de lançamento nacional, em que a ONG mediou apresentações institucionais feitas pelo presidente da Suzano, Walter Schalka; o advocacy da SOS, Mario Mantovani; e o presidente-executivo da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), o ex-governador Paulo Hartung.
Na ocasião, os apresentadores informaram que, no caso do Espírito Santo, seriam escolhidos 30 municípios para receber apoio do programa na elaboração de seus planos, a exemplo do que foi feito em Conceição da Barra, no norte capixaba, em 2016, quando o deserto verde a serviço da papeleira - ex-Fibria e ex-Aracruz Celulose - já cobria 37,74% do território.
Importante lembrar que, quatro anos depois de elaborado o plano, a empresa mais uma vez tentou expandir os plantios de eucalipto, para além dos 40% estabelecidos no PMMA que ela própria financiou.
Na etapa 2021, o principal critério de seleção dos municípios seria o fato de estar em área prioritária para a expansão ou consolidação das atividades industriais e silviculturais da Suzano. "A Suzano fez o PMMA de Conceição da Barra", contou a consultora da SOS Mata Atlântica, Sandra Steinmetz, "e agora [serão] mais 30", ressaltou durante apresentação efetiva dos objetivos e metas do programa nacional.
Entre os sete objetivos específicos, um deles está diretamente relacionado à missão da Ibá: "auxiliar na efetivação da Lei da Mata Atlântica e na segurança jurídica para atividades florestais nos municípios", ou, como apresentou a consultora, "reduzindo conflitos que alguns municípios possuem para atividades florestais [plantio de eucalipto]".
Cadê a Suzano?
Agora, no entanto, o governo do Estado nega qualquer presença da Suzano na iniciativa e afirma que os 78 municípios capixabas serão atingidos. "Reiteramos que não haverá repasse de recursos [no Acordo com a SOS] e que não há relação, neste acordo, com as empresas apontadas na demanda", respondeu a Seama, quando demandada por Século Diário sobre possível aporte de recursos por parte da Suzano ou da Ibá.
Na nota, a Seama também informa que os planos são uma das metas a serem alcançadas pelos municípios capixabas para que recebam recursos financeiros do Programa Estadual de Sustentabilidade e apoio aos Municípios (Proesam) e que o edital com a descrição de todas as metas a serem cumpridas está em elaboração pela equipe técnica da Secretaria.
Eucalipto é o uso do solo que mais cresce no Estado
Na divulgação do acordo, a Seama destaca dados do Atlas da Mata Atlântica de 2015, que aponta haver 15,21% do território capixaba coberto com Mata Nativa, "uma área total de 733 mil hectares de floresta preservada e mais 6,2% de Mata Nativa em estágio inicial de regeneração".
Não informa, no entanto, que o mesmo Atlas identificou o plantio de eucalipto como o uso do solo que mais cresceu no Espírito Santo no período monitorado (2007 a 2015), quando "a eucaliptocultura passou de 5,8% (2007/2008) para 6,8% (2012/2015), o que representa um aumento efetivo de 45.341,9 ha", informa a publicação.
Crescimento que corresponde a mais do que o dobro do alcançado pelo Programa Reflorestar em período semelhante, de 2013 a 2020, quando foram plantados 10 mil hectares de florestas e apoiada a manutenção em pé de outros 10 mil.
E é exatamente esse avanço das monoculturas e a concentração de terras nas mãos de poucos latifundiários que formam o cenário perfeito para o aumento da desertificação, fenômeno que é protagonizado no norte e noroeste do Estado pela Suzano desde os tempos de sua antecessora, a Aracruz Celulose. No sul do Estado, onde a entrada da papeleira foi mais tardia, a expansão do deserto já preocupa.
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Comentários: 1
Prezada Fernanda, acredito que a sua matéria está equivocada em alguns pontos. O projeto Planos da Mata é uma iniciativa da Fundação SOS Mata Atlântica com apoio da Suzano. No Projeto Planos da Mata serão apoiados 35 municípios nos estados de SP, ES, BA e MG para construírem seus Planos da Mata Atlântica. Maiores informações sobre esse projeto podem ser encontradas no portal http://www.pmma.etc.br (inclusive a gravação do lançamento que você menciona no artigo). Já o Acordo de Cooperação entre SOS MA e Governo do Estado de ES é outra iniciativa, sem a participação da Suzano. Agradecemos se puder retificar o seu artigo e ficamos à disposição para esclarecer sobre as duas iniciativas! Seria muito bom contar com o vosso apoio para a mobilização de mais municípios na construção de PMMAs e ampliação da Mata Atlântica no Espírito Santo! obrigada!