Sexta, 03 Mai 2024

Cimi denuncia que manobra da bancada ruralista deslegitima Funai

Cimi denuncia que manobra da bancada ruralista deslegitima Funai
Ao contrário do que defendem indígenas e entidades ligadas à causa, a presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Maria Augusta Assirati, afirmou não acreditar que a proposta do governo federal de confrontar os estudos antropológicos da Funai com levantamentos produzidos por outros órgãos, como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), atrase a conclusão dos processos de criação e demarcação das terras indígenas. Ela não falou em prazos, mas disse que em breve será divulgado o resultado de novos estudos de identificação e delimitação de territórios indígenas no país.


Segundo entidades como o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), a decisão do governo federal de submeter os processo à consulta da Embrapa e de órgãos como os ministérios da Agricultura, das Cidades e do Desenvolvimento Agrário atende a mais um pleito da bancada ruralista do Congresso Nacional. Para elas, a Embrapa não tem legitimidade e nem competência para tratar do tema e não há nada na legislação brasileira que prevê esse tipo de medida. O Cimi considera a iniciativa parte da estratégia de deslegitimação da Funai, que é o órgão responsável por implementar os direitos dos povos indígenas. 
 
A declaração da ministra foi feita na cerimônia de inauguração da nova sede da Funai, em Brasília (DF), nessa quarta-feira (24). "Espero que a discussão se dê em um plano de respeito ao trabalho e à missão institucional de cada órgão”, disse Maria Augusta à Agência Brasil. Até substituir a antecessora, a antropóloga Marta Azevedo, a ministra estava à frente da diretoria de Promoção ao Desenvolvimento Sustentável da Funai.
 
No evento, esteve presente o cacique Kaiapó, Raoni Metukire, que apelou aos servidores que não gostam dos índios para que deixem a fundação e deixem trabalhar aqueles que querem o bem do seu povo. Ele também prometeu apoio à presidente, que ocupa o cargo a pouco mais de um mês.
 
Em maio deste ano, a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, anunciou em audiência pública realizada pela Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural, na Câmara dos Deputados, que até o final deste semestre será definido um novo marco regulatório para os processos de demarcações das terras indígenas. Antes disso, porém, o Palácio do Planalto já suspendeu as demarcações de terras indígenas no estado do Paraná, com base em análises da Embrapa sobre estudos da Funai. 
 
Tramitam no Congresso Nacional três propostas originárias da bancada ruralista que ignoram o direito constitucional dos indígenas às terras demarcadas. Uma delas, o Projeto de Lei Complementar (PLP) 227/2012, quer incluir empreendimentos desenvolvimentistas e latifúndios como "bens de relevante interesse público" e, portanto, impassíveis de autorização dos índios para atuar em áreas demarcadas. Há ainda a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 215/2000, que transfere do Executivo para o Legislativo a palavra final sobre a demarcação das terras, além da PEC 237/2013, que acrescenta um parágrafo à Constituição para determinar que a pesquisa, o cultivo e a produção agropecuária nas terras tradicionalmente ocupadas pelos índios poderão ocorrer por concessão da União a grandes latifundiários.
 
A PEC está pronta para votação na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC). O autor da proposta, deputado Nelson Padovani (PSC-PR), disse que a parceria entre produtores e indígenas pode resultar em benefícios – história que já sabemos como termina.

Veja mais notícias sobre Meio Ambiente.

Veja também:

 

Comentários:

Nenhum comentário feito ainda. Seja o primeiro a enviar um comentário
Visitante
Sexta, 03 Mai 2024

Ao aceitar, você acessará um serviço fornecido por terceiros externos a https://www.seculodiario.com.br/