Estado não está preparado para lidar com a mobilização popular
As manifestações que tomaram as ruas de pelo menos 11 capitais brasileiras nessa segunda-feira (17), reunindo cerca de 300 mil pessoas, podem ser consideradas o movimento popular do século XXI. Em Vitória, segundo estimativas da Polícia Militar, mais de 20 mil pessoas foram às ruas protestar. Para o professor de Políticas Públicas da Ufes Roberto Garcia Simões, as insatisfações que foram gestadas nas redes sociais, ganharam as ruas e revelaram o mal-estar da população com a política institucional como um todo, numa espécie de desabafo.
Simões, que acompanhou a concentração dos manifestantes no final da tarde dessa segunda-feira (17), na Universidade Federal do Espírito (Ufes), apontou algumas características do movimento. Segundo ele, um fator recorrente entre os manifestantes é a rejeição a uma identificação partidária.
Embora algumas frentes tentem se apropriar do movimento, buscando capitalizar politicamente as manifestações, o professor ressalta que o protesto, além de apartidário, tem um caráter anti-institucional. Prova disso foram os cercos a prédios que abrigam instituições públicas. No Espírito Santo a residência oficial do governador; em São Paulo o Palácio dos Bandeirantes (sede do governo paulista) e no Rio o prédio da Assembleia, que chegou a ser invadido.
Para Simões, o desconforto político da população ampliou o debate que teve início com a discussão sobre as tarifas do transporte público e a baixa qualidade do serviço. O professor destacou três grandes blocos de reivindicações no protesto realizado no Estado nessa segunda: o primeiro está pautado nos problemas de transporte, saúde, educação e segurança; o segundo se refere a insatisfação com os gastos com a Copa do Mundo e Olimpíada, retratados em um momento em que o mundo volta os olhares para outra competição internacional, a Copa das Confederações; e o terceiro, concentra a insatisfação da população com a corrupção e a falta de representatividade política.
O professor destacou também a falta de interlocução entre governo e manifestantes. “A interlocução é feita pela polícia, não há um representante do governo para buscar o diálogo com os manifestantes”, pontuou.
O professor afirma que não é possível ainda saber se os protestos vão ter reflexo no processo eleitoral do próximo ano e que passada a catarse destes primeiros dias, o movimento pode vir a perder fôlego. Ele acrescenta que uma vez experimentado o sentimento de mobilização, existe a possibilidade do movimento se tornar espasmódico, abrandando e reacendendo.
A mobilização pela internet levou os cidadãos a buscarem uma nova forma de debate político, ocupando as ruas, mas para Simões há um descompasso com a política institucional, que ainda não sabe lidar com o movimento. Ele acredita que existe uma possibilidade muito grande de rejeição aos políticos que tentarem manter a forma tradicional de campanha no próximo ano, sem considerar o novo fenômeno social que se criou a partir das manifestações de rua.
O professor destacou, porém, que dentro da mobilização ainda há diferenças, devido à amplitude da pauta e a descentralização do movimento. Simões acrescenta que a prática da mobilização pode amadurecer com o passar do tempo. Ele afirma ainda que a classe política não poderá permanecer distante do debate, já que será impossível ignorar o tamanho do movimento.
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