Segunda, 29 Abril 2024

Na disputa ao governo, quem tem mais lábia na hora de pedir votos?

Na disputa ao governo, quem tem mais lábia na hora de pedir votos?
Nerter Samora e Renata Oliveira
 
Se a disputa pelo governo do Estado ficar mesmo polarizada entre o governador Renato Casagrande e o ex-governador Paulo Hartung (PMDB), a campanha terá de ser voto a voto. Papo de Repórter faz suas apostas em quem pode mais. 
 
 
Nerter – O mercado político está efervescente com a possibilidade cada vez mais palpável de o governador Renato Casagrande enfrentar o ex-governador Paulo Hartung na disputa eleitoral deste ano pela cadeira mais importante do Estado, o Palácio Anchieta. A semana foi marcada por bate-boca de deputados, pesquisa Futura para pressionar o mercado e movimentação de bastidores para tentar esvaziar encontro de prefeitos. A classe política está se rearrumando depois do anúncio de que Hartung entraria na disputa. E pelo jeito haverá mesmo uma disputa eleitoral este ano, não é?
 
Renata – Vai ter, não, já está acontecendo. A eleição já está no ar e a movimentação é tão grande, está acontecendo tanta coisa, que é difícil até enumerar os episódios e como eles se conectam neste período de articulação e preparação para o período eleitoral. Você tem um acirramento na Assembleia do discurso dos aliados de Hartung – Paulo Roberto (PMDB) e Euclério Sampaio (PDT) –, que cada um com seus motivos, estão atuando como franco-atiradores contra o governador Renato Casagrande. Embora o líder do governo, Elcio Alvares (DEM), que também é aliado de Hartung, não reaja, há um grupo de deputados que entrou na briga para defender o governo. A tendência é de que os próximos meses sejam de tensão no plenário da Assembleia. Como o presidente da Casa, Theodorico Ferraço (DEM) também é da turma de Hartung, vai deixar a coisa correr solta. 
 
Nerter – E o almoço? Houve muita fumaça nos dias que antecederam o encontro do prefeito Gilson Daniel (PV) com os demais prefeitos da Grande Vitória e os coordenadores de região da Associação dos Municípios do Estado (Amunes), foi uma guerra para esvaziar o encontro. Mas isso não resolve o problema para o lado do Hartung. Não é esse encontro em si. O fato é que a maioria dos prefeitos quer permanecer no palanque de Renato Casagrande, claro, ele é governador e prefeito dialoga com a caneta. 
 
Renata – Também teve a questão das pesquisas e isso é um complicador. Por que será que o Espírito Santo é o único lugar do País em que se faz pesquisa de disputa ao governo do Estado apenas em municípios específicos? Isso é um absurdo! Beneficia o ex-governador Paulo Hartung. Mas a gente sabe, a classe política sabe, o eleitor sabe, todo mundo sabe que o objetivo desses levantamentos com tanta antecedência da eleição visam apenas a pressionar as lideranças a se posicionarem. Um cenário tão artificial quanto o que se quer criar, porém, não convence mais. A fórmula, que já deu tanto resultado no passado, não cola mais. 
 
Nerter – Sob o pretexto de se avaliar gestão municipal, aproveitando para fazer o levantamento estadual, se criou uma ideia sobre a disputa eleitoral para o governo. Mas há vários problemas nesses levantamentos e pelo menos até aqui, a classe política não embarcou. Ou se faz uma pesquisa estadual para se avaliar a disputa no Estado ou se faz essa mesma pesquisa nos 78 municípios capixabas para depois se ter um diagnóstico município a município, o que não parece ser o caso. 
 
Renata – Aí entra outra discussão. Evidentemente, a maioria do eleitorado capixaba está na Grande Vitória, mas em uma eleição polarizada, um voto faz diferença. Então, vamos supor que os números estivessem corretos, que o cenário na Grande Vitória estivesse mesmo empatado, quem decidiria a eleição, neste caso, seria o interior. E quem tem mais condições de ganhar no interior, Casagrande ou Hartung? Os dois sabem que isso é muito importante para esta eleição. Por isso mesmo, passaram 2013 inteiro no interior, mas os métodos foram diferentes. Enquanto Hartung fazia palestras e reunia a classe política em encontros pequenos e fechados, Casagrande sacava sua grande arma: a máquina. Inaugurações, ordens de serviço, entrega de insumos. Os dois estavam no interior, mas quem capitalizou mais com isso?
 
Nerter – E quando se observa as movimentações de bastidores, percebemos o quanto isso é importante. Hartung agora é aliado de Rose de Freitas (PMDB), que tenta atrair os prefeitos do interior para o palanque dele. A pesquisa fica na Grande Vitória, pode até ir a Cachoeiro, Colatina, Linhares, mas não entra no interior mesmo. Casagrande tem um perfil mais ligado à rua, Hartung é político de gabinete. Isso vai contar na hora de pedir votos. 
 
Renata – Com certeza. A eleição deste ano vai ser decidida no aperto de mão. E pior, eu não acredito que isso possa acontecer, mas caso o senador Magno Malta (PR) entre na eleição de governador também, é mais um político de rua na disputa. Aliás, um político de rua que engole Casagrande e Hartung juntos. Não precisa de nada para fazer comício no meio da praça. Mas, como diz um amigo nosso, Casagrande não pode ver uma mão dando sopa que agarra. Contam que uma vez, no primeiro ano de governo, ele estava no Sambão do Povo, em pleno Carnaval, viu um cidadão encostado no muro, tinha acabado de brigar com a namorada. Casagrande foi lá, colocou a mão no ombro do sujeito, falou pra ele deixar disso, curtir a festa. 
 
Nerter –  Ele não é fácil, não. Mas do jeito que Hartung precisa de um mandato é bem capaz de ele mudar esse perfil, ir para a rua, apertar mão, beijar criança e fazer discurso em cima de caixa de feira. Na hora que o sapato aperta, tem que dar um jeito, não é?
 
Renata – É. Mas Hartung tem quem faça isso para ele. Tem uma parte da imprensa do lado dele. Além disso, ele parece querer passar uma imagem diferente. Ele quer sair como o intelectual, especialista, que tem condição e capacidade técnica para resolver os problemas. É um cara que foi estudar fora do País quando saiu do governo, estudar economia. Não é um tipo qualquer que bebe cachaça em boteco de beira de estrada. Gosta de dizer que faz política com P maiúsculo. Bom, isso é o que ele diz e que muita gente acredita. 
 
Nerter – O Paulo tem um monte de bronca pela frente. E o Renato tem também muitos problemas em seu governo. A campanha vai ser uma lavação de roupa suja, porque os dois são do mesmo grupo. Renato é fruto de Paulo. Paulo vai dizer que seu sucessor foi pior, mas como vai fazer isso se seus aliados estiveram dentro do governo Casagrande esse tempo todo? Atirar em Renato é atirar em si mesmo. Acho que a eleição vai ser mesmo voto a voto, mas também vai ser muito centrada nesse debate da comparação dos governos. 
 
Renata – Acho que essa é a chance que Renato Casagrande tem de vencer o jogo. Se continuar nessa de tentar reunir a unanimidade novamente e pressionar Paulo a desistir por meio dos prefeitos, não vai conseguir nada. Os atiradores de Hartung a cada dia lançam um novo projétil em direção ao Palácio Anchieta. Se o governador não reagir, vai ser atingido. 
 
Nerter – Bom, ele colocou seus soldados na frente, mas concordo que ele é quem tem de comandar a batalha. 
 
Renata – Sim, porque a guerra já começou. 

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