Sexta, 17 Mai 2024

TSE muda o jogo eleitoral às vésperas das convenções

TSE muda o jogo eleitoral às vésperas das convenções
Nerter Samora e Renata Oliveira
 
 
Mesmo com os movimentos de Magno Malta (PR), em Brasília, e do tucano Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSDB), em Vitória, quem ganhou protagonismo no jogo político do Estado na semana que passou foram os candidatos proporcionais, com a problemática da perda de 10% na Câmara dos Deputados e na Assembleia Legislativa.
 
Nerter – Quando parecia que tudo caminhava para uma definição com as coligações já desenhadas e faltando um ou outro ajuste, vem o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e joga um balde de água fria nos candidatos a deputado federal e estadual do Espírito Santo e outros sete estados. A bancada capixaba está esperneando e tem todo direito do mundo de fazê-lo, mas acho muito difícil reverter a situação até as eleições essa decisão do TSE. Primeiro porque o ministro do TSE, Dias Toffoli, parecia estar muito bem fundamentado na decisão e a Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) movida pelo governador Renato Casagrande não caminha para um final feliz para o Estado.
 
Renata – Pois é, o ministro Gilmar Mendes sentou sobre o processo. Está parado desde o ano passado, com poucas movimentações, se restringindo à adesão de Estados como interessados no processo. Além dos pareceres negativos da Procuradoria Geral da República (PGR) e Advocacia Geral da União (AGU), que também não animam em nada a classe política. O jeito vai ser pegar a calculadora e refazer as contas, considerando que o quociente eleitoral vai subir e será necessário reduzir o número de candidatos por partido, o que beneficia os candidatos com mais densidade de votos. Eles ainda terão que torcer para que o número de votos nulos seja realmente alto, para diminuir o mínimo de votação de cada coligação. 
 
Nerter –  A situação da proporcional vai inevitavelmente pressionar os candidatos majoritários. Neste sentido, quem está no palanque de Paulo Hartung vai acabar cobrando um posicionamento do ex-governador para fortalecer o palanque e dar um rumo para os candidatos. O PR também deve pressionar sua principal estrela, o senador Magno Malta a definir um caminho e o mais provável é a aliança com o Hartung. Assim haverá mais estabilidade para que os partidos façam as coligações proporcionais sabendo quais os aliados que podem procurar. 
 
Renata – Mas o palanque mais complicado é o de Casagrande. Com cerca de 15 partidos em sua base, o governador tem, por enquanto, umas quatro pernas para a estadual e três para federal. Por enquanto, porque até 30 de junho muita coisa pode acontecer, novas coligações podem surgir ou se unirem. A pressão que já era grande sobre Casagrande, agora aumenta bastante. E os deputados federais que em 2010 se elegeram com poucos votos correm o risco de ficar pelo caminho. Na Assembleia, com três vagas a menos, os deputados devem cobrar mais espaço no helicóptero do governador, que já está apertadinho.
 
Nerter – As mexidas já começam, não por causa da redução das vagas, mas para as acomodações dos novos aliados. César Colnago havia metido o pé na porta e não queria ir para o palanque de Renato Casagrande, mas isso não tinha a ver com sua fidelidade por Paulo Hartung ou preocupação em garantir a candidatura própria ao governo com Guerino Balestrassi, e sim com o fato de que não havia um espaço que lhe garantisse a reeleição. A composição com o PSB era até interessante, mas os rumores são de que o tucano Max Filho, que também busca a Câmara, estaria com mais densidade que Colnago. O presidente regional do PSDB também comeria poeira de dois nomes fortes do PSB: Vandinho Leite e Paulo Foletto. Daí a movimentação que ganhou fôlego esta semana para a retirada de Foletto da disputa, para ocupar a vaga de vice na chapa de Casagrande, uma exigência do ninho tucano para fechar o acordo alinhavado entre os presidenciáveis Aécio Neves e Eduardo Campos. Sem Foletto no páreo, as chances de Colnago aumentariam. Mas o deputado do PSB sepultou rapidamente esse arranjo. Já avisou que quer disputar um segundo mandato na Câmara.
 
Renata – A manobra que vem do lado tucano pode gerar um efeito cascata no palanque de Renato Casagrande. Os demais partidos também vão querer renegociar seus espaços. Vão querer soluções para manter a competitividade entre as coligações e a promessa de acomodação no eventual segundo mandato de Casagrande. Os deputados estaduais também vão cobrar isso. Muita gente com voto corre o risco de ficar fora da Assembleia e não vão querer ficar desempregados a partir de 2015, não é?
 
Nerter – Este mês promete ser de muita movimentação eleitoral. A partir do início das convenções partidárias, no próximo dia 10, os palanques terão que se posicionar e se organizar. Os livros de candidatura serão apreciados pelos convencionais e a primeira peneira terá seu efeito. Neste sentido, o que chama a atenção da classe política são as movimentações no palanque de Hartung. Ele até agora não se posicionou sobre a eleição. O que se sabe é que ele não abre mão da candidatura de Rose de Freitas ao Senado, já que seria seu DNA em Brasília, ofereceu a vice ao PT, mas Lula não quer e a chapa proporcional nesse palanque vem sendo chamada de chapa da morte. Só para se ter uma ideia, se disputarem juntos PT, PMDB, PDT e PR tem 17 deputados estaduais, como garantir a competitividade desses candidatos e como dividir isso em pernas? Seria necessária uma votação absurda para garantir a presença na Assembleia. 
 
Renata – Bom, o grande problema para Hartung lançar a candidatura ao governo parece estar sendo resolvido. Com o intermédio de Sérgio Vidigal (PDT), o senador Magno Malta (PR) caminha para uma aliança com Paulo Hartung. Apesar de essa heresia política ser complicada de se explicar, evita que Malta lance candidatura, caso o PR não lhe dê legenda para a disputa presidencial. É consenso nos meios políticos a ideia de que se Malta disputar, Hartung não disputa. Foi assim em 2010, mas fora do jogo fica mais fácil para que ele possa entrar na disputa. 
 
Nerter – Se bem que ainda há céticos sobre a entrada de Hartung na disputa, não é? Mas é muito difícil que ele recue depois de tanto ter avançado na articulação de sua candidatura. Mas dizem que em 2012 ele desistiu de disputar a prefeitura de Vitória depois das convenções, quando viu que teria de disputar a eleição em um cenário congestionado. Imagina agora que terá de enfrentar a máquina?
 
Renata – Bom, ele preparou o caminho com um discurso certeiro, que costurado com a mídia amiga, enfraquece o governador. Por mais que Casagrande explique os gastos e prove os motivos pelo qual vem gastando, não se desconstrói uma imagem depois que ela pega. Além disso, ele tem grande parte dos prefeitos e ex-prefeitos na mão. Ele também continua tendo controle sobre o Tribunal de Contas do Estado, onde a maioria dos prefeitos e ex-prefeitos tem pendências. E mesmo que não tivesse nada disso, seria um candidato muito competitivo. 
 
Nerter – Hartung claramente não gosta de competição, não gosta de ir para um debate pressionado, ainda mais pelo fato de que a disputa pressupõe uma comparação entre o governo atual e sua gestão. Embora não se espere uma campanha agressiva de Casagrande, o governo de Hartung foi um governo de aparências e não seria difícil contestá-lo, mesmo com essa coisa de ideia indestrutível de uma imagem construída. Mas o fato é que se Hartung não disputar estará mais quatro anos fora do jogo político do Estado e com certeza o novo governo Casagrande não terá mais sua sombra. 

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