Sexta, 19 Abril 2024

Piso da enfermagem entra em 2022 ainda com entraves na Congresso

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Após 18 meses de tramitação no Senado, o Projeto de Lei 2564/2020, que institui o piso salarial da Enfermagem, terminou 2021 aprovado, mas com uma nova - e provavelmente longa - jornada pela frente. Desta vez, na Câmara dos Deputados. A matéria, já exaustivamente debatida, entra em 2022 com expectativa de um novo processo de audiências públicas, discussões em comissões e entraves de entidades privadas. Representantes da categoria em território capixaba acreditam que um desses sinais foi a decisão de remeter o texto às comissões, ao invés de ir direto ao Plenário.

"A Câmara dos Deputados criou manobras para não colocar o projeto em pauta. Só que a gente está aí, como mais uma quarta onda da pandemia se levantando, provavelmente. É isso mesmo que a sociedade quer? Que a gente continue em uma guerra para atender o interesse da sociedade sem um salário digno para fazer isso? Até quando a enfermagem vai ter que se submeter?", questiona a presidente do Conselho Regional de Enfermagem do Espírito Santo (Coren/ES), Andressa Barcelos.

Mesmo com a redução dos valores apresentados pelo senador Fabiano Contarato (PT) no texto inicial, os entraves - recorrentes desde quando o projeto foi apresentado pela primeira vez - já começaram a aparecer na Câmara também. Em uma audiência pública da Comissão de Seguridade Social e Família, o coordenador-geral de gestão do Trabalho e da Educação do Ministério da Saúde, Gustavo Hoff, apresentou os efeitos financeiros decorrentes da aprovação do projeto. Segundo ele, o impacto seria de R$ 22,5 bilhões ao ano a partir 2021, podendo chegar a R$ 24,9 bilhões em 2024.

A apresentação dos dados por parte do Ministério da Saúde só agora, após um longo processo de debate do tema no Senado, foi criticada por deputados presentes. Já o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), afirma que a matéria será analisada por uma comissão especial, antes de seguir para o Plenário. A expectativa era que, após os acordos feitos com a categoria para a análise no Senado, essa tramitação fosse acelerada, o que não ocorreu. O valor do piso estipulado no projeto, R$ 7,3 mil, passou para R$ 4,7 mil mensais no caso dos enfermeiros.

Para Andressa, a forma que os parlamentares estão tratando o tema é um reflexo de todas as injustiças registradas ao longo dos anos contra a profissão. "Isso representa o que a sociedade pensa e é preciso ter um olhar crítico sobre o comportamento dos deputados. Os R$ 5 bilhões do fundo eleitoral eles não querem discutir com a sociedade!", aponta.

Até o dia 5 de dezembro de 2021, sete dos dez deputados federais que compõem a bancada capixaba já tinham se posicionado a favor do piso da enfermagem nas redes sociais. Apenas Felipe Rigoni (PSB), Soraya Manato (PSL) e Evair de Melo (PP) não se manifestaram sobre o assunto. Procurados novamente no final do mesmo mês, os parlamentares não responderam aos questionamentos, até o fechamento da reportagem.

'Existe uma pressão muito grande do mercado'

O Sindicato dos Enfermeiros do Espírito Santo (Sindienfermeiros-ES) chegou a enviar um ofício ao presidente da Câmara, Arthur Lira, para que o PL 2564/2020 fosse pautado em regime de urgência. A presidente do sindicato capixaba, Valeska Fernandes Morais, já imaginava que o projeto não seria aprovado nas duas casas no mesmo ano, principalmente em razão do tempo que demorou para entrar em pauta no Senado.

"Na Câmara dos Deputados, que é uma casa maior, eu acredito que vai precisar ter uma interação com esses deputados muito maior do que foi com os senadores, a julgar pelo histórico de espera do último projeto da enfermagem, o PL 2295, de 2000 (...) Existe uma pressão muito grande do mercado, em especial do empresariado, que sempre lucrou com os baixos salários da categoria que, diga-se de passagem, é a maior força de trabalho na Saúde. Agora, se veem reduzindo o lucro deles com o aumento desses salários. Porque o salário dos médicos eles não podem abaixar. Então vamos economizar escravizando a enfermagem", dispara Valeska.

Para a presidente do sindicato, a decisão de remeter o projeto às comissões da Câmara, mesmo com as longas discussões que já foram realizadas no Senado, foi uma estratégia encontrada para atrasar o processo de tramitação. A representante sindical acredita que a luta da categoria ao longo de 2021 deve continuar neste novo ano.

"Em especial para as entidades trabalhistas, como o sindicatos. Mesmo após a aprovação, nós teremos, sim, dificuldades para que as empresas paguem esse piso. Então vamos ter uma batalha judicial muito grande ainda, inclusive com os órgãos públicos, prefeituras, estados, que vão mover mundos e fundos para não pagar. Vão alegar uma série de impedimentos", enfatiza Valeska.

Autor do projeto, o senador Fabiano Contarato (PT) tem expectativa que o projeto seja votado no começo do ano Legislativo de 2022 na Câmara dos Deputados. "Conversei com o presidente Arthur Lira, que me demonstrou intenção de votar a matéria e entende a necessidade desse direito aos profissionais da enfermagem. A categoria também faz pressão na Câmara, assim como deputados federais. Estamos confiantes e atentos", afirma.

Andressa Barcellos também mantém a expectativa de que a mobilização da categoria gere resultados na Câmara, assim como gerou no Senado. "Estamos em uma situação crítica agora, que é a pandemia, mas a nossa luta é de mais de 60 anos. Se, nesse momento, a gente não reunir esforços para corrigir isso, eu acho que não vai corrigir nunca. Se a Saúde é uma prioridade nesse país, é preciso investir todos os esforços nessa mobilização. Não vamos descansar. Não vamos esquecer", garante.

Processo de tramitação

Apresentada no dia 12 de maio de 2020, o projeto de lei de autoria do senador Fabiano Contarato ganhou destaque durante a pandemia, se tornando uma das principais pautas da Enfermagem.

Desde o início, a tramitação da matéria enfrentou entraves como o posicionamento contrário da Confederação Nacional de Municípios (CNM), que enviou um ofício ao Senado Federal, alegando entender a importância da valorização dos profissionais, mas afirmou que a iniciativa levaria "a frágil situação fiscal dos municípios ao colapso imediato".

O posicionamento foi reforçado inclusive pela Associação dos Municípios do Espírito Santo (Amunes), que também assinou o documento. Em um novo posicionamento, as instituições chegaram a defender a instituição do piso, com a premissa de que, caso a matéria fosse aprovada, as carreiras dos servidores dos municípios fossem federalizadas, transferindo-as para a União.

Ao longo deste ano, sindicatos, federações e entidades que representam os profissionais da Enfermagem realizaram uma série de atividades em defesa do piso, com o estabelecimento de um estado permanente de mobilização. Em agosto, a diretoria do Sindienfermeiros-ES foi a Brasília reivindicar que o Senado pautasse a matéria. Contarato chegou a solicitar que o projeto fosse votado antes do recesso parlamentar, em julho, o que não ocorreu.

Após acordos com a categoria para que o projeto fosse colocado em pauta, o texto aprovado no Senado instituiu um piso de R$ 4.750 para enfermeiros; 70% desse valor para técnicos de enfermagem (R$ 3.325) e 50% (R$ 2.375) para auxiliares de enfermagem. O texto prevê também que acordos individuais e coletivos respeitem o piso estabelecido em lei, que será atualizado, anualmente, com base no Índice de Preço ao Consumidor (INPC).

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Comentários: 34

Atabisio em Segunda, 03 Janeiro 2022 10:19

Quando os Enfermeiros cruzarem os Braços e deixarem de se Herois, as coisa vão andar rapidinho em seu favor

Quando os Enfermeiros cruzarem os Braços e deixarem de se Herois, as coisa vão andar rapidinho em seu favor
enfermeira em Segunda, 03 Janeiro 2022 23:36

é uma vergonha que um profissional tão importante como o enfermeiro ganhe tão mal enquanto esses ladroes (políticos) vivem como reis para nos roubar, temos que lutar pelos nossos direitos se eles não aprovarem faremos greve

é uma vergonha que um profissional tão importante como o enfermeiro ganhe tão mal enquanto esses ladroes (políticos) vivem como reis para nos roubar, temos que lutar pelos nossos direitos se eles não aprovarem faremos greve
jose sampaio em Terça, 04 Janeiro 2022 10:40

o que falta e uniao da categoria para parar de trabalhar por 24 horas e ai vamos ver o que acontece

o que falta e uniao da categoria para parar de trabalhar por 24 horas e ai vamos ver o que acontece
Técnica de Enfermagem em Quarta, 05 Janeiro 2022 15:13

Concordo! sem a Equipe de Enfermagem nada funciona no hospital!

Concordo! sem a Equipe de Enfermagem nada funciona no hospital!
Socorro Oliver em Quarta, 05 Janeiro 2022 14:16

Quando é pra aumentar o dinheiro desses vagabundos não precisa votação esses ladrões mesmo aumentam são bando de safados.

Quando é pra aumentar o dinheiro desses vagabundos não precisa votação esses ladrões mesmo aumentam são bando de safados.
Eduardo em Quinta, 06 Janeiro 2022 08:35

Acho que deveria ter uma mobilização , e paralizarmos com a assistência pelo menos por 2 dias , quando eles enxergarem o caos que isso causaria . repensariam.

Acho que deveria ter uma mobilização , e paralizarmos com a assistência pelo menos por 2 dias , quando eles enxergarem o caos que isso causaria . repensariam.
visitante em Quinta, 06 Janeiro 2022 18:50

devemos paralisar por apenas 24hs..o estrago sera grande

devemos paralisar por apenas 24hs..o estrago sera grande
José Adalto Riedel em Domingo, 09 Janeiro 2022 13:00

Concordo que é muito justo o Projeto de Lei 2564/2020, mas que o projeto também contemplace os hospitais o aumento da tabela do SUS, séria mesma coisa tapar o sol com a peneira, estamos vendo as dificuldades que os hospitais estão tendo para manter a folha de pagamento em dia dos colaboradores.

Concordo que é muito justo o Projeto de Lei 2564/2020, mas que o projeto também contemplace os hospitais o aumento da tabela do SUS, séria mesma coisa tapar o sol com a peneira, estamos vendo as dificuldades que os hospitais estão tendo para manter a folha de pagamento em dia dos colaboradores.
Enf em Quarta, 19 Janeiro 2022 04:01

Medico ganha 20 mil e ninguem fala nada se fuder porra. VAZA.

Medico ganha 20 mil e ninguem fala nada se fuder porra. VAZA.
Renam Silva em Quinta, 27 Janeiro 2022 00:26

Hospital com dificuldade pra pagar funcionário? em época de pandemia? jamais, hospital NUNCA falta recurso. O dinheiro que faltou pro trabalhador na pandemia, TRIPLICOU para os hospitais, os hospitais que já eram ricos ficaram mais ricos ainda .

Hospital com dificuldade pra pagar funcionário? em época de pandemia? jamais, hospital NUNCA falta recurso. O dinheiro que faltou pro trabalhador na pandemia, TRIPLICOU para os hospitais, os hospitais que já eram ricos ficaram mais ricos ainda .
Enfermeiro em Segunda, 10 Janeiro 2022 08:55

estamos na luta por uma profissão muito importante que atingi a todos brasileiros, temos que aprovar urgente esse piso salarial !!!!!

estamos na luta por uma profissão muito importante que atingi a todos brasileiros, temos que aprovar urgente esse piso salarial !!!!!
Cláudio em Terça, 11 Janeiro 2022 09:31

Meu marido é tec. enfermagem em um Hospital particular aqui em Minas, e recebe quase um salario mínimo (ultimo salario recebido foi de R$1300,00). Completamente injusto, trabalha como escravo, 12 horas no dia, trabalha no CTI. Não sou da área da saúde, mas acompanho de perto esse debate, pois vejo como esse profissional tão importante é desvalorizado, muitas vezes passado despercebido pela sociedade. Agora se a votação fosse pra aumentar o salário dos parlamentares, não teria nem debate, aprovaria bem rapidinho.

Meu marido é tec. enfermagem em um Hospital particular aqui em Minas, e recebe quase um salario mínimo (ultimo salario recebido foi de R$1300,00). Completamente injusto, trabalha como escravo, 12 horas no dia, trabalha no CTI. Não sou da área da saúde, mas acompanho de perto esse debate, pois vejo como esse profissional tão importante é desvalorizado, muitas vezes passado despercebido pela sociedade. Agora se a votação fosse pra aumentar o salário dos parlamentares, não teria nem debate, aprovaria bem rapidinho.
Ester Da Costa Souza em Quinta, 13 Janeiro 2022 04:19

O POLITICO SO VAI ASCINAR SE A ENFERMAGEM PARAR.

O POLITICO SO VAI ASCINAR SE A ENFERMAGEM PARAR.
Paula em Quarta, 19 Janeiro 2022 16:16

Ester, é assinar .

Ester, é assinar .
jose mario antoniassi em Segunda, 17 Janeiro 2022 17:39

SE NAO FOR AGORA NAO VAI SER NUNCA MAIS TEMOS QUE NOS UNIR SE TIVER QUE PARAR VAMOS PARAR SEM A ENFERMAGEM VAI VIRAR UM CAOS

SE NAO FOR AGORA NAO VAI SER NUNCA MAIS TEMOS QUE NOS UNIR SE TIVER QUE PARAR VAMOS PARAR SEM A ENFERMAGEM VAI VIRAR UM CAOS
Evandro Rodrigues Da Silva em Terça, 18 Janeiro 2022 14:07

Precisamos dar resposta nas urnas a esses deputados federais e estaduais nessa eleição,estamos todos de olho em vcs . enfermagem precisa sobreviver com saúde.

Precisamos dar resposta nas urnas a esses deputados federais e estaduais nessa eleição,estamos todos de olho em vcs . enfermagem precisa sobreviver com saúde.
Anailton Lopes Dias em Terça, 25 Janeiro 2022 18:20

As pessoas só valorizam, a enfermagem, até precisar dela.

As pessoas só valorizam, a enfermagem, até precisar dela.
Lucia em Quarta, 26 Janeiro 2022 19:29

Políticos só vão nos enxergar como seres humanos quando formos reivindicar ou levarmos queixas em programas de impacto sensacionalista.Porque eles se alimentam da vulnerabilidade dos outros.A enfermagem sempre foi essencial ao mundo. Vamos continuar lutando

Políticos só vão nos enxergar como seres humanos quando formos reivindicar ou levarmos queixas em programas de impacto sensacionalista.Porque eles se alimentam da vulnerabilidade dos outros.A enfermagem sempre foi essencial ao mundo. Vamos continuar lutando
Opala Construtora em Sábado, 29 Janeiro 2022 10:33

Precisa haver discernimento na classe para entender que não são os políticos que não querem aprovar o projeto. Para os políticos, tanto faz. O interesse que entrava o andamento vem do lob dos donos de hospitais e casas de saúde. Estes, sim, têm força e dinheiro para encampar uma forte batalha em Brasília. Clareza, pessoal!!!!!!

Precisa haver discernimento na classe para entender que não são os políticos que não querem aprovar o projeto. Para os políticos, tanto faz. O interesse que entrava o andamento vem do lob dos donos de hospitais e casas de saúde. Estes, sim, têm força e dinheiro para encampar uma forte batalha em Brasília. Clareza, pessoal!!!!!!
LUCINEIDE SANTOS LIMA em Segunda, 31 Janeiro 2022 18:57

Creio em Deus todo poderoso ,que conseguiremos que a lei seja aprovada,

Creio em Deus todo poderoso ,que conseguiremos que a lei seja aprovada,
Visitante
Sexta, 19 Abril 2024

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