Agenda feita pela PMVV não foi confirmada. Sesa garante nova data, mas explicação para falha segue sem resposta
Uma cadeirante acamada há seis meses, aguardando retirada do ferro inserido na perna durante cirurgia para tratamento de um fêmur quebrado, teve que voltar para casa sem o atendimento que havia sido agendado há dias. O triste fato acontece na manhã dessa sexta-feira (17) com a cadeirante e militante dos direitos das pessoas com deficiência (PCDs) Viviane Rangel, cuja luta para tratar uma osteomielite crônica é acompanhada por Século Diário desde agosto passado.
“Me preparei para vir ao hospital fazer a cirurgia, mas estou dentro da ambulância voltando para a casa sem conseguir fazer o procedimento. No hospital não tinha nada marcado. A médica do Melhor em Casa marcou diretamente com o hospital, mas não me deram papel, nada, só mandaram eu estar aqui às seis horas da manhã. Fiquei esperando abrir o ambulatório, não tem nada. Nem no hospital nem no ambulatório”, relatou Viviane, ainda sob o impacto de mais uma decepção em sua longa jornada em busca do tratamento que tem direito.
A cadeirante e militante conta que o material para os exames prévios à cirurgia foi colhido em sua casa no último domingo (12) pela equipe do Melhor em Casa da Prefeitura de Vila Velha (PMVV), após denúncia feita pelo jornal sobre falhas persistentes do programa em relação à frequência de visitas da equipe, entrega de insumos para curativos, de receitas médicas e de medicamentos controlados que ela faz uso contínuo.
“A enfermeira me disse que a cirurgia [de sexta-feira, 17] estava confirmada, mas o único papel que ela me deu foi o exame de sangue. O próprio programa agendou a ambulância para me levar ao hospital [Hospital da Associação dos Funcionários Públicos, no centro de Vitória], mas chegando lá no hospital, não tinha nada marcado.
Ela conta que, mesmo depois de várias tentativas de receber explicações sobre o ocorrido, não obteve qualquer resposta, pois o telefone do programa não atendia. Apenas à tarde a médica responsável lhe telefonou para dar notícias sobre sua receita, que aguardava há duas semanas, quando ela conseguiu relatar o que tinha acontecido. “A doutora Lilian ligou para falar da minha receita. Sobre o problema da cirurgia, ela disse que ia ligar lá de novo e que remarcaria, mas não sabe o que aconteceu”.
Foram horas de frustração e abandono que se somaram aos anos de luta que Viviane enfrenta, entre inúmeros serviços de saúde, como unidades básicas, pronto-atendimento, hospitais e setores administrativos da rede estadual e municipal. Até denúncia ao Ministério da Saúde ela cogitou fazer, diante do silêncio sobre mais esse episódio de negativa de direito.
“Foi um descaso que fizeram comigo. Cada vez é uma esperança que eu vou tendo, vou sonhando com o que vou fazer na semana que vem, mais na frente, mas chega lá e dou de cara com nada. Eu sei que tudo é um tempo de Deus, mas é angustiante dentro da gente para quem está em cima de uma cama, esperando tirar esse ferro. Já são seis meses que eu não vivo direito. A maior parte do tempo eu fico sozinha. Minha mãe tem que cuidar da saúde dela porque faz tratamento de câncer. Eu queria voltar à minha vida normal, fazer curso, estudar”, lamenta, em prantos.
A Secretaria de Estado da Saúde e a Prefeitura de Vila Velha foram questionadas por Século Diário sobre os motivos da não confirmação da cirurgia dessa sexta-feira. Em resposta, a Sesa afirmou, em nota, que lamenta o ocorrido e garantiu eu uma nova data foi remarcada para a próxima sexta-feira (24), às 6h20, no mesmo hospital, e que basta que Viviane compareça ao local portando documento com foto e o pedido médico.
A Prefeitura de Vila Velha, responsável pelo Programa Melhor em Casa, não respondeu até o fechamento desta edição.
“Lutar pelos direitos da pessoa com deficiência é muito difícil para a gente. Para as pessoas andando já é difícil, para a gente é pior ainda”, declara Viviane. A esperança, no entanto, se renova a cada vez que ela se ergue após mais um obstáculo vencido, com a certeza de que sua luta pode sim servir de inspiração e força para tantas pessoas que enfrentam dificuldades semelhantes. “Vou ter minha vida de volta, tenho fé em Deus”, roga.