Sábado, 04 Mai 2024

Cadeirante gasta quase R$ 1 mil por mês com materiais que deveriam ter no SUS

viviane_rangel_2_apasod_arquivo_pessoal Arquivo pessoal
Arquivo pessoal

Cerca de R$ 1 mil gastos por mês com materiais de saúde que deveriam ser fornecidos gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Atendimentos em domicílio com apenas um terço da frequência necessária. Perda de consulta devido à falha no serviço de ambulância municipal. Atraso na renovação de receitas médicas, que descontinuam tratamentos essenciais para a saúde.

O rol de negativas de direitos faz parte do cotidiano da cadeirante Viviane Rangel, militante dos direitos das pessoas com deficiência (PCDs) e colaboradora da Associação de Pais e Amigos dos Surdos e Outras Deficiências (Apasod), desde dezembro, quando ela concluiu a primeira etapa do tratamento de uma osteomielite crônica (infecção nos ossos) e pôde ir para casa, tratar do pós-operatório.

Na verdade, a conquista dessa primeira etapa do tratamento só se deu após muita luta para também vencer uma série de negativas de direitos que se acumulavam há dois anos. Realizada finalmente a primeira consulta médica especializada, em setembro, e a consequente cirurgia do fêmur fraturado e tratamento da infecção com antibióticos na veia, o que parecia serenado voltou a se mostrar problemático.

Se antes as tratativas, inclusive judiciais, se davam junto à Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), agora, se voltam à Prefeitura de Vila Velha, responsável pelo programa Melhor em Casa, no qual Viviane está inscrita, para que os curativos relacionados ao pós-cirúrgico sejam trocados diariamente em seu próprio domicílio, bem como a administração dos medicamentos controlados, entre antibióticos e antidepressivos.

Um fato marcante foi a falha no serviço de ambulância municipal que, apesar de agendado com a devida antecedência, não a buscou em casa para a consulta com ortopedista no dia 17 de fevereiro, onde ela iria retirar o ferro instalado na perna que sofreu a cirurgia. Perdida essa agenda, a remarcação ainda não foi feita e a perna está infeccionada. "Está piorando, começando a dar fibrina, que é o tecido, a carne morrer. Ainda não está com mau cheiro, mas pode começar a dar, como da outra vez", descreve.

Foi somente com cobrança judicial que Viviane recebeu, na última semana, a promessa da Sesa de que uma nova consulta seria marcada em até quinze dias úteis.

Prosseguem, também, as falhas continuadas no atendimento devido no Programa Melhor em Casa. As visitas da enfermeira para a troca de curativos, que deveriam ser três vezes na semana, acontecem apenas uma, e, nos demais dias, é ela mesma que tem que comprar todo o material necessário.

"A placa silver eu teria que trocar todo dia, mas ela custa R$ 140 e eu só consigo comprar uma a cada dois dias. Fora as fitas, o tecido para desinfecção, os antibióticos. Gastei R$ 760 com remédio, porque não consegui a receita. Não tem médico no posto de saúde, a médica do Melhor em Casa demora a me mandar as receitas, porque a enfermeira vem pouco aqui. Está muito difícil", relata.

Viviane conta ainda que em janeiro cometeu tentativa de suicídio, devido à sensação de abandono e preocupação extrema com sua saúde. Desde que saiu do hospital, os medicamentos contra a infecção foram descontinuados, o que foi avaliado como errado, em fevereiro, pela infectologista que a acompanha.

"Imagina ficar na cama o dia inteiro, só passo para a cadeira para tomar banho. Parece que vou ficar louca. Lembro de quando fiquei no Hospital Vitória [hospital para cuidados paliativos, localizado na Rua Dona Maria Rosa, em Andorinhas], onde só tinha gente que está perto de morrer, que ficam gritando muito o dia todo. Eu achei que ia morrer também! Até que me transferiram para o Hospital da Associação dos Funcionários Públicos, que eu melhorei um pouco. Aqui em casa a psicóloga falou para eu ler livros, assistir série, para passar o tempo. Minha conta de energia é R$ 450, porque é muita televisão, ventilador. E tem colchão pneumático, supermercado...olhar para tanta coisa que já passei e o abandono de agora, olhar as dificuldades que estou passando. Como não fica com ansiedade e depressão?", desabafa.

No próximo dia 15 ela tem consulta com psicóloga, no dia 20 com otorrinolaringologista, e no dia 23 com infectologista, e espera não voltar a ter falha na ambulância da prefeitura. "Não me disseram até hoje o que aconteceu".

Quando for remarcado o ortopedista e ela conseguir tirar o ferro da cirurgia, Viviane espera conseguir fazer a ressonância magnética para a avaliar quando será possível fazer a remoção do local onde a bactéria da osteomielite está alojada, para, então, iniciar a fase final do tratamento que, a princípio, será para toda a vida, por meio de medicamentos controlados e acompanhamento médico regular.

Questionada sobre a frequência dos atendimentos do Melhor em Casa, fornecimento dos materiais de curativo e medicamentos necessários, bem como sobre a garantia da ambulância nas datas agendadas, a Prefeitura de Vila Velha não respondeu até o fechamento desta edição.

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