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Nenhum ataque até hoje teve divulgação maciça prévia, alerta Ramalho

Secretário de Segurança garante que inteligências das polícias estão investigando e irão prender envolvidos em ameaças a escolas

Sesp

“O histórico de quem fez e vem fazendo esses ataques nos últimos meses e anos no Brasil e fora do Brasil, mostra que ele não manda notícia dizendo que vai dar o ataque. Ele vai conjecturar o crime com algumas pessoas que estão ao seu redor, que poderão vazar a informação. Agora, nenhum desses ataques já vivenciados dentro ou fora do Brasil teve essa maciça divulgação, como nós tivemos desde a noite de ontem”.

A declaração é do Coronel Alexandre Ramalho, secretário de Estado de Segurança Pública e Defesa Social, em coletiva de imprensa nesta segunda-feira (10), ao lado dos secretários de Educação, Vitor de Angelo, e de Economia e Planejamento e coordenador do Programa Estado Presente, Álvaro Duboc. O objetivo foi prestar esclarecimentos sobre as inúmeras denúncias e postagens em redes sociais a respeito de atentados e massacres em escolas do Espírito Santo, que iriam acontecer até o dia 20.

“Nós queremos tranquilizar a sociedade capixaba, no sentido que as inteligências não apontam para nada concreto até agora. Ao mesmo, nós não estamos de braços cruzados. A inteligência vai identificar essas pessoas e nós vamos prender essas pessoas. E no dia 27, faremos uma entrega inédita no país, que é o plano estadual de enfrentamento à violência escolar, o Plano Estadual de Segurança Escolar.

O plano, explicou, é elaborado no âmbito do Comitê Integrado de Segurança Escolar, criado em janeiro e formado por 16 grupos temáticos, incluindo Saúde e Educação. O gestor da Sesp afirmou que o caso é novo e não está publicado na literatura policial, não havendo qualquer protocolo sobre atuação preventiva ou repressiva.

Umas das propostas do plano é a criação de um canal exclusivo de denúncias sobre ameaças a escolas dentro do Disque Denúncia 181. “Nessa noite e madrugada ‘choveu’ denúncia, o que dificulta nosso trabalho. A denúncia tem que vir no seguinte sentido: um colega que viu um croqui, um professor que ouviu um relato”, orientou, alertando para a necessidade das pessoas filtrarem informações que recebem nas redes sociais, não repassarem em grupos e denunciar nos canais oficiais informações mais concretas. “Denunciar imediatamente aos meios adequados, secretarias de Segurança Pública, de Educação, 181 em caso de ameaça e 190 se for uma situação de emergência”.

O secretário afirmou que estão reunidas nas investigações sobre as denúncias as inteligências das Polícias Federal, Militar e Civil, da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), da Subsecretaria de Inteligência da Segurança Pública e do Corpo de Bombeiros. O trabalho está focado em identificar o IP de quem começa a divulgar as mensagens. “Nós vamos ao encalço desses indivíduos por intermédio da apuração, da investigação, para que a gente possa responsabilizá-los”.

Sobre as falsas ameaças, ele destacou alguns aspectos esdrúxulos, como o fato de que uma das escolas citadas como alvo de ataque já foi até demolida pela Sedu. Ou o fato de que algumas fotos utilizadas nas postagens se repetem em outros estados do país. “Em conversa com secretários estaduais de Segurança Pública e de Educação, as mesmas mensagens, inclusive com algumas fotos semelhantes, estão circulando em todo o pais, o que nos leva a crer que é uma falsidade”.

Sobre as causas que levam pessoas a cometerem ataques, o secretário de Educação, Vitor de Angelo, argumentou que “a violência escolar é um fenômeno multicausal e o componente escolar é apenas um deles”. Por isso, “é muito simplificador dizer que por causa de um bullying alguém pega uma arma e mata os colegas ou professores. É apenas um componente de uma série de coisa que, por diversas frentes, saúde, segurança, cultura, família e educação, compõe esse fenômeno mais complexo que é a segurança escolar. A escola tem uma contribuição muito estratégica para dar, mas não sozinha. Então quanto mais nós reduzirmos tudo isso à escola, mais distante nós estaremos de achar uma solução para o problema”.

O gestor da Sedu também enfatizou a necessária participação das famílias. “Como pais, devemos estar atentos ao que os nossos filhos estão fazendo. Esse papel a polícia nunca vai cumprir. Nós, governo, jamais estaremos na casa, no quarto, na televisão, no telefone de cada um. É preciso que os pais sejam pais, acompanhem seus filhos, monitorem o que estão fazendo”, orientou.

“Esse sim é um papel fundamental da família”, sublinhou, reforçando a recomendação de não disseminar boatos pelas redes sociais e levar as denúncias aos órgãos responsáveis por investigar e responsabilizar os culpados, tampouco de ceder ao caos que os boateiros querem instalar, retirando os filhos da escola.

“É perfeitamente compreensível a preocupação das famílias, mas é preciso dizer que ao menor sinal de alguma ameaça e na dúvida se é verdade ou não, não disseminar. Nos grupos de pais de estudantes, a gente só ajuda a disseminar boatos. Porque os pais pouco podem fazer, é ficar com os filhos em casa. Que é compreensível, mas do ponto de vista da educação, é lamentável”, argumentou. “Até quando a gente está preocupado, precisa ter uma racionalidade, porque não ajuda disseminar uma preocupação nossa em redes sociais. A gente ajuda ligando para o 181 se for uma denúncia ou para o 190 se for uma emergência já em curso”.

Sobre o Plano a ser lançado no dia 27, os secretários Vitor de Angelo e Ramalho adiantaram que não será proposto a disponibilização de uma viatura em cada escola. “Nem segurança armada, nem detector de metais na entrada das escolas. Não é isso que vai trazer a efetividade da segurança dos nossos jovens. Estamos falando de jovens que estão sofrendo uma perturbação mental qualquer, que nós temos que descobrir qual é esse gatilho”, defendeu Ramalho.

“Não é esse o caminho. Eu sou pai, minha filha foi para a escola hoje. Com que certeza? Com a certeza de que estatisticamente é mais provável que outra coisa aconteça do que um ataque a escola. Então, é um fenômeno que gera muita comoção, que exige de nós muita atenção, muito cuidado, um olhar da inteligência da segurança pública ainda mais refinado, mas nós não estamos na iminência de um ataque orquestrado em muitas nem na maioria, muito menos em todas as escolas”, complementou Vitor.

“É importante ter a clareza disso. Até porque se a gente seguir o caminho de dar crédito a esses boatos, será a falência da escola. Nós vamos ter que ficar com os filhos em casa permanentemente, porque naturalmente, uma vez que nós garantimos a quem disseminou esses boatos, a sua iniciativa foi exitosa, ele, ela ou outra pessoa fará a mesma coisa amanhã e depois, por motivos diferentes”, ponderou.

Sociedade civil

Os gestores não pontuaram em nenhum momento sobre a possibilidade de inserir representantes da sociedade civil no Comitê Integrado de Segurança Escolar. Tampouco a assessoria de imprensa da Sesp respondeu à demanda de Século Diário sobre o pedido, que foi protocolado no dia 31 de março no Palácio Anchieta, como um dos pontos de pauta do ato Luto e Luta pela Educação, realizado no dia três de abril no Centro de Vitória.

Durante o ato, os manifestantes pediram para que o governador Renato Casagrande (PSB) se retrate sobre a fala feita há alguns dias, insinuando que o adolescente que assassinou quatro pessoas em Aracruz, filho de policial militar, teria deficiência mental. Essa associação, errada, ressaltou o Ato, só traz mais discriminação e violência contra as pessoas com deficiência (PCDs).

Contra o discurso de ódio

A carta também pede para que o Estado adote políticas públicas de defesa dos direitos humanos nas escolas, como forma de combater o discurso de ódio que está na raiz dos ataques executados no Espírito Santo, no Brasil e em outros países.

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