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‘Coach eleitoral’

Centro de Coaching, apoiador de Bolsonaro, é condenado pela segunda vez por assédio a ex-funcionárias em Vitória

Divulgação

Eleições de 2022, disputa presidencial, uma auxiliar de serviços gerais da Febracis – Centro de Coaching Sistêmico, localizada em Vitória, relata que passou a ser pressionada por seus superiores para que se posicionasse publicamente em favor do então presidente Jair Bolsonaro (PL), na época candidato à reeleição, com ameaças e coação de que, se Lula (PT) ganhasse, a empresa deixaria de existir. Não cedeu e foi demitida, em 26 de outubro, cinco dias antes do segundo turno. O caso foi parar na Justiça, com uma ação por danos morais. Na primeira instância, a Febracis teve ganho de causa. Inconformada, diante dos áudios, vídeos e conversas de WhatsApp apresentados, a ex-funcionária acionou recurso no Tribunal Regional do Trabalho (TRT) da 17ª Região. O pleito foi acatado por unanimidade pelos desembargadores da 1ª Turma e a decisão publicada nessa segunda-feira (11), arbitrando pagamento de R$ 100 mil de indenização. O caso não foi o único, nos mesmos termos e período. Uma ex-vendedora também processou a empresa antes e obteve sentença favorável, já na primeira instância, no valor de R$ 9,2 mil. As ações ainda cabem recursos, mas os enredos, sem dúvida, chamam atenção, e se repetem em outros estados. A Febracis se diz a maior empresa de “business coaching do mundo” e tem com mentor Paulo Vieira, que se declara multimilionário e “o pai da inteligência emocional no Brasil”. O “Master Coach” é bolsonarista, antipetista e evangélico, frequentador da Igreja Batista da Lagoinha, do pastor André Valadão. As franquias espalhadas pelo País, como se vê, têm seguido à risca a cartilha.

Segue…
A ex-auxiliar de serviços gerais, da recente sentença, havia sido admitida em 24 de março de 2022. A ex-vendedora ficou pouco tempo na empresa, entrou em 2 de outubro e foi demitida no dia 25 do mesmo mês. As duas não quiseram expor sua posição política aos superiores, portanto, também não declararam voto em Lula.

ES-PA
Nos autos, a acusação é feita à diretora da Febracis em Vitória, Karla Frazão. A empresa (FRZ.ABA LTDA – Frebracis) está em nome do seu filho, Luiz Filipe Ferreira Frazão. Os dois também atuam na franquia de Belém, no Pará.

‘Palestra’
Umas das provas apresentadas em ambos os processos são vídeos de Karla dando uma “espécie de palestra, com os funcionários em pé nos cantos de uma sala” e “alunos em formação ‘coach”.

‘Palestra’ I
São transcritas frases como: “todos devem defender Deus e família”; lemas de Bolsonaro, e “olha para sua empresa, você gostaria de ter uma pessoa que não corroborasse com seus valores?”; “Se não tivermos Deus no Reino, se não tivermos Deus na vitória, a Febracis não vai existir mais, porque nós vamos ser perseguidos, se Deus não tiver na vitória”.

Palestra II
“Eu acredito no meu presidente e sigo exatamente o que ele fala pra seguir, sou obediente aquilo que eu me determino a ser, aquilo que eu me determino a fazer, eu sou obediente, sim gente?” – pergunta, aguardando concordância dos funcionários. Fala ainda: “nós precisamos ter essa consciência de que não é mais…não é mais pelo Bolsonaro, não é mais pelo Lula, não é mais…por Deus, que a gente possa abrir os nossos olhos e entender, e entender que o que nós vamos fazer é por Deus, a não ser que você não seja cristão…”

‘Master coach’
Sobre o mentor, ela diz: “Essa é uma empresa que Dr. Paulo Vieira se posiciona, e não só se posiciona como ajuda o Bolsonaro a escrever o depoimento dele, tudo, tá junto, participou das lives, está defendendo ele”; “o Dr. Paulo já falou pra gente que se por um acaso realmente o Lula entrar, nós não vamos mais ter a Febracis”.

Áudios
As ações também mostram diálogos no WhatsApp. Em certo trecho, Karla comenta sobre dispensa de duas ex-funcionárias e diz: “apesar de muitas de vocês pensarem que é por conta de posicionamento político, e tá tudo certo, e também é, acredito que seja (…)”.

Terceiro caso
Em 27 de outubro de 2022, matéria divulgada pelo G1 do Ceará também relatou a demissão da consultora comercial Tainara Moura, 26 anos, do núcleo no Espírito Santo da Febracis, que tem matriz em Fortaleza, por assédio eleitoral. Ela gravou vídeo nas redes sociais, na época, afirmando que declarou não apoiar Bolsonaro e foi apontada como se estivesse ao “lado do diabo”. Ela estava na empresa desde julho e também cita Karla Frazão.

Sentença
No TRT, o relatório do desembargador Cláudio Armando Couce de Menezes, acatado pela 1ª Turma, considera os conteúdos dos vídeos “esclarecedores” e aponta, “sem qualquer dúvida”, a intenção de “coagir e pressionar os funcionários a seguirem o posicionamento político da empresa”. Destaca que os fatos ocorreram às vésperas dos turnos eleitorais, “demonstrando de forma concreto o assédio eleitoral e a ameaça em recorrentes falas sobre a empresa ‘deixar de existir’ caso o candidato Lula vencesse o pleito”.

Sentença II
Na outra ação, a juíza do Trabalho substituta, Juliana Carelesso Lozes, também conclui que “o material probatório juntados aos autos é rico e evidencia de forma inconteste a pressão política exercida pela empresa sobre seus funcionários justamente na véspera da eleição presidencial”. Destaca “desrespeito à dignidade do trabalhador, abuso do poder econômico, desrespeito aos princípios fundamentais da democracia, da liberdade e do sigilo do voto”. A ex-vendedora também pleiteava R$ 100 mil, o que não foi acatado.

Defesa
Nos dois casos, a Febracis sustentou que “as provas são ilícitas e que, nas conversas de aplicativo “não há garantia de autenticidade”, alegações contestadas nos autos. Defendeu ainda que a empresa “jamais demitiria qualquer empregado por sua opinião política e que, ainda que prepostos tenham expressado preferência por um determinado candidato, tal fato é um direito garantido pela Constituição Federal”.

Defesa II
Registra que a palestra para os empregados, “traz mensagens motivacionais sobre fé, trabalho, família e produtividade”, mas que, “em nenhum momento do vídeo, a Sra. Karla Frazão forçou qualquer posicionamento político das pessoas que ali estavam ou as constrangeu a votar em determinado candidato”.

Nas redes
“Para sentir o amor, devemos antes comunicar o amor em atos, palavras e ações”. Paulo Vieira, “master coach”, pregando o discurso da questionada Febracis.

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