Domingo, 28 Abril 2024

Chama o síndico

 

Desde que assumiu a presidência da Assembleia Legislativa, Theodorico Ferraço (DEM) fez questão de mostrar aos chefes dos outros poderes, sobretudo ao governador Renato Casagrande, que a Casa, a partir daquele momento, passaria a ter um dono. Mais que isso, um "supersíndico" daqueles bem durões, que mandam e desmandam nos condôminos. 
 
Vaidoso por natureza e territorialista por instinto, quando o final de seu mandato foi se aproximando, Ferraço tratou logo de "adaptar" a lei à sua vontade de permanecer à frente da Casa por um segundo mandato. 
 
O episódio gerou um desgaste público com o governador Casagrande, que não queria a discussão da "PEC do Ferraço" - como ficou conhecido o projeto de emenda constitucional que permite a reeleição do presidente da Mesa - no auge da disputa eleitoral do ano passado. 
 
Depois de Ferraço mandar recados ríspidos ao governador, que poderiam ser traduzidos como uma ameaça em potencial à base de sustentação construída a duras penas pelo Executivo estadual na Assembleia, Casagrande foi obrigado a chamar o presidente da Assembleia e propor uma trégua. 
 
Ferraço atendeu ao apelo do governador de retomar a discussão após o processo eleitoral, mas cobrou um preço alto para selar a paz: o apoio incondicional de Casagrande à sua candidatura. 
 
Trato feito, o presidente da Assembleia fechou o ano trocando “afagos verbais” com o governador. Para todos os efeitos, ficou parecendo que a recondução de Ferraço ao comando da Casa, que é dada como certa, foi muito mais uma demanda dos deputados e do próprio chefe do Executivo do que uma imposição autoritária do cachoeirense. 
 
O episódio envolvendo Paulo Roberto Ferreira (PMDB), empossado nesta segunda-feira (7), é mais uma manobra que tem a digital de Ferraço. O novo deputado, que abandonou o PMN para ingressar no PMDB, estaria sujeito à infidelidade partidária – que estabelece que a vaga aberta na Assembleia pertence ao partido e não ao candidato.
 
Se sentido preterido do direito de exercer a suplência no lugar de Paulo Roberto, o vereador por Colatina, Omir Castiglioni (PSDB), passou a reclamar a vaga, mas o lobby de Ferraço falou mais alto. Ignorando a polêmica, o presidente da Casa não titubeou em convocar Paulo Roberto, que é aliado do seu filho, senador Ricardo Ferraço (PMDB), para a posse. 
 
Foi mais uma manobra ao estilo Ferraço. E houve outras em 2012, quando o presidente da Assembleia, numa medida pra lá de populista, passou a defender com unhas e dentes o reajuste salarial retroativo de 11,98% aos servidores da Casa, causando mais uma saia justa para o governador. 
 
A gestão corporativista também tem sido decisiva para Ferraço manter os deputados nas mãos. Ao sinal de qualquer problema os deputados já se acostumaram a "chamar o síndico" para apagar os incêndios. Foi assim, por exemplo, na saída do deputado Nilton Baiano (PP), quando o presidente da Assembleia fez de tudo para mantê-lo na Casa; assim como na defesa incondicional ao deputado José Carlos Elias (PTB), que ainda corre o risco de perder o mandato; ou ainda no caso envolvendo o deputado Luiz Durão, no qual Ferraço evitou oficializar o afastamento do parlamentar por motivo de saúde para impedir que Euclério Sampaio (PDT) assumisse.
 
Praticamente reeleito para permanecer por mais dois anos no comando da Casa, Theodorico Ferraço continua representando um risco iminente ao restabelecimento pleno da democracia no parlamento estadual. Após duas legislaturas de subserviência ao governador Paulo Hartung, a Assembleia, com a chegada de Casagrande, se livrou de um governante déspota, mas continua liderada por um “síndico” anacrônico e pouco afeito às práticas democráticas e transparentes que deveriam nortear a condução do parlamento estadual. 

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