Terça, 14 Mai 2024

Combatentes unidos

 

Está fazendo um mês que o discreto ministro Gilberto Carvalho, chefe da Secretaria Geral da Presidência da República, prometeu levar à Chefa a proposta de uma conferência nacional sobre o desenvolvimento sustentável do país. O objetivo seria formular um projeto que consolide as sugestões do seminário Diálogo Social: Agenda Pós-2015 e Seguimento à Rio+20, realizado em meados de abril no próprio Palácio do Planalto.
 
É de acreditar que o assunto não tenha ido parar no fundo de uma gaveta  ou reste esquecida embaixo de uma pilha de papéis dentro daquelas caixas de protocolos que recheiam as mesas dos gabinetes palacianos. Agora, pela emergência dos assuntos eleitorais na agenda do Planalto, dá para desconfiar que a conferência não é prioridade.  
 
Enquanto D. Dilma vai diariamente à feira vasculhar os balcões do varejo político e econômico, os ativistas socioambientais dentro e fora do governo seguem cobrando o aprofundamento do processo econômico no rumo de uma maior distribuição de renda  e com avanços na questão ambiental, travada pela terrível contradição entre a pobreza e o desenvolvimento.
 
Se de um lado não hesita em favorecer as camadas mais carentes da população com medidas socioeconômicas de alcance tático, de outro o governo beneficia grupos privados com financiamentos, isenções e desonerações em volumes estrategicamente maiores do que os subsídios oferecidos à agricultura familiar e outros segmentos carentes.  
 
Nesse dualidade se sustenta um modus operandi (governamental e empresarial) que agrava e perpetua desigualdades históricas.  
 
Nas altas esferas da administração dos negócios públicos e privados rola um banquete com lugares marcados – muito bem marcados.
 
No momento os holofotes estão focados na figura excelsa de Eike Batista, o protótipo do neocapitalista brasileiro criado à sombra do Estado. Educado na Alemanha, ele começou especulando com ouro, criou grandes projetos de mineração, energia e logística para os quais tomou empréstimos e fez lançamentos acionários de alcance internacional.
 
De repente está na chuva e sabe-se lá que ginástica e malabares está a exigir do BNDES e de outros organismos oficiais que aprovaram seus projetos estratégicos para a economia brasileira e, também, para o desequilíbrio do nosso meio ambiente.
 
Usinas termelétricas, minas, portos e poços de petróleo no pré-sal: são projetos dessa envergadura, considerados essenciais para o desenvolvimento nacional, que precisam ser analisados e debatidos na conferência prometida pelo ministro Carvalho, mantido no cargo a pedido do ex-presidente Lula, seu amigo desde o ABC paulista.  
 
Os holofotes da conferência também precisam focalizar os catadores de lixo e os desvalidos em geral que perambulam feito zumbis pelas ruas de nossas cidades, confiantes na possibilidade de sustentar suas famílias com os restos largados nas lixeiras, nas calçadas, nas sarjetas.
 
Uma agenda abrangente numa conferência ampla, eis o mínimo que se pode esperar de um governo comprometido com a sustentabilidade em bases realmente democráticas. Se Eike merece uma chance, há no Brasil milhões de outros batistas precisando de uma mãozinha. Isso sem falar dos adventistas, agnósticos, ateus, católicos, evangélicos,  espíritas, luteranos e protestantes em geral – todos irmanados na luta pela sobrevivência.    
 
LEMBRETE DE OCASIÃO
 
“Nós somos um país que tem resultados excepcionais nos últimos dez anos em relação à erradicação da pobreza, à redução de emissões de gases, ao desmatamento na Amazônia, avanços na questão de consumo sustentável, mas nós precisamos ser mais agressivos em soluções permanentes para o país, um Brasil que eu sempre falo -- tem vários brasis em um mesmo Brasil”.
 
Izabella Teixeira,  ministra do Meio Ambiente

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