As eleições de 2012 revelaram que o eleitorado brasileiro, cansado do “mesmo”, estava disposto a dar uma chance ao “novo”. No Espírito Santo houve um exemplo emblemático dessa aspiração por mudança. O então candidato a prefeito de Vitória, Luciano Rezende, acabou virando a eleição pra cima do tucano Luiz Paulo Velozzo Lucas, até então favorito, com o apelo da mudança. Méritos para o estrategista de campanha do candidato do PPS, que teve sensibilidade para captar o anseio do eleitor, traduzido pelo “grudento” gesto da mudança.
O cenário atual mostra que o apelo do novo pode voltar a funcionar nas eleições deste ano. Os principais institutos de pesquisa do país apontam que os governadores “situacionistas” enfrentam dificuldade para se reeleger. De acordo com os últimos levantamentos, dos 27 governadores, 17 buscam a reeleição, mas somente 10 aparecem com chances de vitória.
A leitura da rejeição do eleitorado aos candidatos que estão com a caneta na mão é simples: entre manter o atual governante, o eleitor tende a arriscar seu voto no “novo”. O curioso é que essa aposta é recheada de pessimismo.
Uma pesquisa inédita do Radar Ideia Popular – Mudança Política, divulgada na última sexta-feira (12), revela que 92% dos 29.623 entrevistados em 129 cidades brasileiras não acreditam que os eleitos farão as mudanças prometidas. Uma posição um tanto contraditória, ou seja, o eleitor quer mudanças mas não crê que os futuros governantes irão colocá-las em prática.
Quando o Radar pergunta ao eleitor o que ele entende por mudança na política, o resultado também é instigante. Para 63%, a mudança na política significa mudar o governante e a forma de governar; 26% acham que basta mudar o governante; enquanto 11% acreditam que só é necessário mudar a forma de governar.
Trazendo os dados para a disputa ao governo do Espírito Santo, podemos tirar algumas conclusões interessantes. Os dois candidatos que polarizam a disputa – Renato Casagrande e Paulo Hartung – até outro dia eram irmanados pelo pacto da unanimidade, portanto, operadores do mesmo projeto.
Hartung, porém, decidiu entrar na disputa ao Palácio Anchieta e os dois, consequentemente, passaram a ser adversários. Hoje Casagrande luta contra o tempo para convencer o eleitor que sua “forma de governar” é inversamente diferente à de Hartung, e que ele, como governante, também não guarda semelhanças com seu antecessor.
Um outro dado da pesquisa, que é leitura obrigatória dos estrategistas de campanha, aponta que Hartung parece estar atento ao material produzido pelo instituto. Para 41% dos entrevistados, economia e inflação são apontadas como as áreas que mais precisam de mudança.
Não por acaso, todo o discurso do candidato do PMDB é edificado em cima das questões econômicas do governo Casagrande. Hartung, desde que decidiu entrar na disputa, usa o argumento de que o Estado parou de crescer depois que passou a faixa para o sucessor.
O ex-governador tenta convencer o eleitor que é o homem certo para “pôr o Estado novamente nos trilhos”. Ele não revela que o seu governo pegou carona na onda que impulsionou o país todo e coroou outros governantes que surfaram por inércia no bom momento da economia brasileira.
Casagrande, por sua vez, usa o apelo da comparação para provar ao eleitorado que seu governo fez muito mais em quatro anos do que o do seu antecessor em oito anos. A mensagem do socialista é mostrar que houve crescimento sim no seu governo, mesmo com as turbulências enfrentadas no contexto econômico.
Não por acaso, o candidato do PSB também quer mostrar aos capixabas que seu governo é limpo. A pesquisa revela que 25% dos entrevistados querem eleger governantes que sejam capazes de controlar a corrupção.
O socialista, que começa a desnudar denúncias do governo passado – as passagens aéreas que favoreceram a ex-primeira-dama e as operações da consultoria de Hartung, que “atendia” a empresas ligadas ao seu governo (uma espécie de mensalinho de PH) -, quer provar para o eleitor que o governo do seu antecessor estava mergulhado em corrupção.
Só saberemos no próximo dia 5 qual das estratégias é mais eficiente. Hartung tem cerca de três semanas para convencer o eleitor que é capaz de promover as mudanças prometidas, embora tenha ficado oito anos no governo e não seja definitivamente a encarnação do “novo”, ou tampouco esteja disposto a abandonar o estilo de governar que marcou suas duas gestões: poder centralizado, mão de ferro e controle das instituições e da imprensa.
Já Casagrande se apressa para provar que o governo do seu antecessor foi permeado pela corrupção e favorecimentos. Ele pede mais uma chance ao eleitorado para, finalmente, tirar as mudanças prometidas da gaveta. O socialista quer fazer num “novo governo”. Desta vez, livre das sobras do seu antecessor.