Nesta quinta-feira (26) completa uma semana que os motoristas estão cruzando livremente a Terceira Ponte, ou seja, sem precisar pagar um tostão pelo pedágio. Nada mais justo.
Como todos sabem, a gratuidade “forçada” foi provocada pela manifestação da última quinta (20), que levou mais de 100 mil às ruas de Vitória.
Um pequeno grupo, no entanto, resolveu depredar as cabines da praça do pedágio da Terceira Ponte. Resultado, em função da manutenção, um acordo entre o governo do Estado e a concessionária liberou as cancelas até que as cabines voltem a funcionar normalmente, o que deve acontecer nesta quinta-feira (27).
Se a promessa da concessionária for cumprida, a partir desta quinta os capixabas voltam a pagar R$ 1,90 para cruzar os 3,3 km mais caros do Brasil.
O ranking que mostra os pedágios mais caros do país coloca o sistema Anchieta-Imigrantes no topo da lista. A estrada que liga a capital paulista ao litoral santista tem um custo de R$ 0,33/km. Quase metade do custo por quilômetro da Terceira Ponte, que é de R$ 0,58.
Sem falar dos 67 km que ligam a Capital capixaba ao município de Guarapari (litoral sul do Estado). Para fazer um passeio a Guarapari, o motorista que parte de Vitória via Terceira Ponte gasta, ida e volta, só de pedágio, R$ 18,20.
Os valores abusivos cobrados pela concessionária ajudaram a colocar o Espírito Santo na terceira posição entre os estados com tarifa média de pedágio mais cara do país, ficando atrás apenas do Rio de Janeiro e de São Paulo.
Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), de 2012 (“Rodovias brasileiras: Investimentos, concessões e tarifas de pedágio”), mostra que a indignação dos capixabas com a cobrança das altas tarifas não é exagero.
Segundo a pesquisa do Ipea, fica evidente o impacto dos contratos de concessão na grande variação dos valores das tarifas médias cobradas pelos diferentes estados e pela União. O estudo aponta que a tarifa média nos estados foi de R$ 10,87/100 km. No Espírito Santo, esse valor foi de R$ 12,44/100 km.
O Ministério Público Estadual e a Assembleia Legislativa, dando ouvidos ao clamor das ruas, começam a se movimentar para abrir a “caixa-preta” da Rodosol. O MPES promete pedir uma auditoria no contrato celebrado em 1998 entre o governo do Estado e a concessionária.
Na Assembleia, o deputado Euclério Sampaio (PDT) anunciou nesta quarta-feira (26) que já conseguiu seis assinaturas para a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que pede o fim da cobrança do pedágio da Terceira Ponte.
O único que ainda permanece entrincheirado ao lado dos empresários da Rodosol é o governador Renato Casagrande, que tem demonstrado certa irritação ao comentar a polêmica em torno da concessão da Terceira Ponte e Rodovia do Sol (ES-060). Em entrevista publicada no jornal A Gazeta desta quarta (26), Casagrande reafirmou que governo que rompe contrato perde a credibilidade.
Na verdade, o MPES, parte da Assembleia e principalmente a voz das ruas estão mostrando que a credibilidade do governador pode sim ficar em jogo se ele não apoiar uma devassa no contrato da Rodosol. Caso o governador insista em defender os interesses da concessionária, corre o risco de ficar parecendo que ele também tem algo a esconder sob os 3,3 km de asfalto mais caro do país.