Reeditando o velho discurso
Os dois mandatos do ex-governador Paulo Hartung e o meio de Renato Casagrande já somam uma década. Para a população capixaba, foram 10 anos convivendo com taxas de homicídios iguais às de nações que estão em plena guerra civil.
Quando Casagrande admitiu que seu governo seria continuidade, o eleitor não imaginava que o continuísmo incluiria a manutenção das taxas de homicídios na casa dos 50 assassinatos para cada grupo de 100 mil habitantes legadas por Hartung. Afinal, o então candidato ao governo prometera cuidar “pessoalmente” da segurança e devolver a paz aos cidadãos capixabas.
Na prática, porém, 24 meses depois de assumir o governo, Casagrande botou na praça o Estado Presente e prometeu aumentar os investimentos na polícia. Muito pouco para quem se colocou como o preceptor da guerra contra a violência.
Por partes, o Estado Presente, pela sua natureza, é um programa que não irá apresentar resultados em curto prazo. Ou seja, não adianta o governo “vender” o programa como um pacote salvador capaz de satisfazer de imediato as demandas sociais dos segmentos mais vulneráveis da população. Isso é muito mais complexo e leva tempo. Sem falar que ainda não há indicadores para avaliar a efetividade do programa.
Quanto à contratação de novos policiais, na verdade, o governo Casagrande não está aumentando o efetivo, mas apenas repondo, pois o seu antecessor praticamente abandonou a Segurança Pública.
O problema é que o tempo está passando é a parte da imprensa, sempre tão compreensiva com a dupla Paulo Hartung-Rodney Miranda, já não parece tão tolerante com Casagrande e Henrique Herkenhoff. É justamente essa exposição perante a opinião pública, que se mantinha velada no governo anterior, que começa a preocupar o atual chefe do Executivo.
A reunião dessa terça (18) com os prefeitos eleitos da Grande Vitória para discutir estratégias de segurança, já faz parte do pacote de satisfações que o governador pretende apresentar aos eleitores, já com vistas em 2014.
Além da imprensa que começa a jogar contra, Casagrande precisa administrar a agravante de assumir o ônus da segurança sozinho. Afinal, como se trata de um governo de continuidade, ele não pode simplesmente dividir o abacaxi com Hartung. Fazer, por exemplo, um desabafo, para explicar à população que o sucateamento da área teve origem no governo anterior ou que as polícias estão com os efetivos defasados hoje por causa da falta de investimento entre 2003 a 2010.
Acuado, Casagrande achou melhor ser coerente, ou seja, adotar o mesmo discurso do seu antecessor. Daí vem a mesma lengalenga usada por Hartung. O atual governador também lembrou que o problema da violência é nacional, dando a entender que os números do Espírito Santo são ruins, mas, afinal, a questão “não é só nosso, é do País”. É uma maneira de se conformar com os números e aceitar que todos os brasileiros são reféns da violência.
Isso não é verdade. Os índices de homicídios do Estado são mais que o dobro da média nacional. Como provou mais recentemente São Paulo e Rio de Janeiro, reverter os números da violência é uma tarefa árdua, custosa e demorada.
O governo Casagrande ainda está muito distante de enquadrar o gráfico da violência em tendência de queda. Apesar da queda tímida de 2012 em relação ao ano passado, não é possível admitir que essa tendência esta consolidada. Longe disso.
Se Casagrande realmente passar, a partir de agora, a cuidar pessoalmente da segurança, talvez no final de seu governo ele comece a colher os primeiros resultados para anunciar que as taxas de criminalidade estão realmente em tendência de queda. Qualquer promessa mais extravagante nesse sentido é motivo de desconfiança, ainda mais vinda de um governo que está se forjando no discurso do seu antecessor.
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