Domingo, 28 Abril 2024

Sem retoques

 

Ninguém pode dizer que o promotor de Justiça Dilton Depes Tallon Netto não está fazendo com afinco seu trabalho na apuração do escândalo envolvendo as obras inconclusas do “posto fiscal fantasma” de Mimoso do Sul.
 
Após ter denunciado o ex-governador Paulo Hartung por improbidade (e mais sete), o promotor pediu à Justiça que proíba novas tentativas de “maquiagem” no canteiro de obras que abrigaria o posto. Na denúncia, o promotor quer saber o paradeiro dos R$ 25 milhões gastos numa obra que nunca saiu da fase de terraplanagem. 
 
Logo que a denúncia veio à tona, no mês passado, casou um grande reboliço nos meios políticos. O ex-governador, irritado com a audácia do promotor em denunciá-lo, requisitou espaço na imprensa local para apresentar sua versão sobre os fatos. 
 
Nas entrevistas, Hartung falou, falou e nada explicou sobre o “desaparecimento” dos R$ 25 milhões. Indignado e se dizendo perseguido politicamente, ele deu um tom de desabafo às matérias. Disse, no auge da exaltação, que a denúncia do promotor era “covarde”. 
 
Valente, antônimo de covarde, foi a qualidade que não faltou ao deputado Euclério Sampaio (PDT). Tão logo se inteirou da denúncia, o deputado pôs o pé na estrada para conferir de perto as obras do posto fiscal.
 
Chegando ao local, ficou pasmado. Claro que Euclério não encontrou um simples tijolo em pé para contar a história dos outros. Pior, encontrou montes recém-colocados no local de um material que misturava pó de brita e cascalho. A cor acinzentada dos montes fez o deputado suspeitar que “alguém” planejava espalhar o material sobre o chão de terra batida para dar um aspecto, digamos, asfáltico à área abandonada. 
 
Recuperando um dos trechos da entrevista de Hartung, o ex-governador chegou a afirmar, tentando encontrar argumentos para justificar o desperdício do dinheiro público – ou sabe Deus outro fim que foi dado aos R$ 25 milhões -, que a área “asfaltada” é patrimônio do Estado, dando a entender que o atual governador Renato Casagrande, que também saiu em defesa do antecessor, poderia dar um novo destino ao espaço. 
 
A blitz de Euclério ao posto acabou sendo providencial para evitar a “maquiagem” do canteiro de obras. O deputado do PDT registrou as imagens do escândalo e as exibiu nos corredores da Assembleia.
 
A estratégia do pedetista era “chacoalhar” os colegas para tentar acordá-los. Tudo em vão. Somente o deputado Gilsinho Lopes (PR), autor da primeira denúncia que pedia explicações sobre o “posto fantasma”, se mobilizou. O republicano tenta agora emplacar uma CPI, mas juntar as 10 assinaturas necessárias se tornou uma missão (quase) impossível. 
 
Enquanto a CPI segue encruada, o promotor alerta que a suposta tentativa de “maquiagem” pode configurar em crime, mais um, previsto no artigo 347 do Código Penal (inovação artificiosamente na pendência de processo), sujeito a até dois anos de reclusão.
 
Falta o atual governo esclarecer, já que a área pertence ao Estado, quem mandou depositar os montes da “mistura para maquiagem” no local. Afinal, os montes não foram parar lá sozinhos. Já que o promotor afirmou que se trata de crime, passou da hora de chamar a polícia para investigar.

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